Os três policiais militares do Batalhão de Choque suspeitos de tortura e agressão sexual a uma moradora da Rocinha, autora de um furto, negaram as acusações durante depoimento à polícia na madrugada deste sábado (21), segundo informou o RJTV. Eles cumprem prisão preventiva (30 dias) decretada pela Justiça na Unidade Especial Prisional da PM (antigo BEP).
O trio denunciado pela mulher e um quarto agente, que dirigia o carro da PM, foram ouvidos durante a madrugada na 14ª DP (Leblon). Nos depoimentos que duraram 8 horas, eles disseram que a vítima do furto ficou o tempo todo presente, o que - segundo eles, prova que as agressões não aconteceram.
O suposto ataque teria acontecido na noite de quarta-feira (18). A mulher de 36 anos que denuncia os policiais tinha furtado a bolsa de uma outra moradora da Rocinha, e foi encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML).
Um laudo preliminar confirmou as lesões. O documento, obtido com exclusividade pelo RJTV, traz as anotações do perito que fez o exame de corpo de delito: positivo para lesão corporal e positivo para ato libidinoso diverso de conjunção carnal.
Nesta manhã, o relações-públicas da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, comentou o caso. "Para a Polícia Militar é uma situação que realmente requer de todos nós muito rigor. Também, por outro lado, muita serenidade para que nós possamos oferecer aos policiais oportunidade de se defenderem. Mas, especialmente, para todos nós também esclarecermos essas acusações que, na hipótese de serem verdadeiras, são muito graves. Mas nesse momento as providências foram tomadas", afirmou Caldas, em entrevista ao RJTV.
Na noite de sexta-feira (20), o Comando da Polícia Militar havia determinado à Corregedoria o afastamento dos policiais suspeitos.
A mulher vítima do furto foi ouvida nesta manhã pelos corregedores. Já a autora do furto, que acusa os policiais de agressão sexual, permanecia presa na 14ª DP (Leblon) por volta das 13h, mas deve ser encaminhada ainda neste sábado para a penitenciária de Bangu, na Zona Oeste.
Em nota, o comando da PM informou que "determinou à Corregedoria da corporação a abertura de Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar as acusações imputadas a policias militares do Batalhão de Choque bem como o afastamento dos mesmos, das atividades operacionais até o fim da apuração".
Os policiais Renan Ribeiro de Souza, Cid Lima dos Santos e Rodrigo Bernardo Gama de Almeida foram indiciados na 14ª DP (Leblon) por estupro e tortura.
A mulher diz que foi amarrada dentro de casa, pelo PM Cid Lima dos Santos. Em seguida, o PM Renan Ribeiro de Souza a teria atingido com socos, chutes e golpes com toalha molhada. O mesmo policial, ainda de acordo com o depoimento, teria cometido uma agressão sexual contra a mulher. O terceiro PM indiciado, Rodrigo Bernardo Gama de Almeida, também estava na casa quando aconteceram as agressões.
A vítima das supostas agressões, que confessou ter furtado uma bolsa, está presa na carceragem da 14ª DP (Leblon). Ela contou ainda que os policiais fizeram várias ameaças, inclusive dizendo que iriam matar seus parentes, caso revelasse na delegacia as agressões que sofreu.
Além da Polícia Civil, a Corregedoria Geral Unificada (CGU) da Secretaria de Segurança Pública também investiga o caso. Em nota, a Secretaria de Segurança afirma que o secretário José Mariano Beltrame "determinou à CGU o máximo de rigor nas investigações relacionadas a esse caso".
A Rocinha encabeça o ranking das ligações para o Disque-Denúncia sobre corrupção e outros desvios de conduta de policiais em áreas ocupadas pelas forças de pacificação no Rio, no primeiro trimestre deste ano. Segundo o documento, das 111 queixas recebidas nesse período, 13 são referentes à comunidade de São Conrado, na Zona Sul, onde atualmente atuam 700 policiais.