“Ele vai matar ou morrer na cela”, diz pai de músico viciado

O jovem está preso na polícia após confessar que matou uma amiga estrangulada.

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Três dias após entregar o filho à polícia, o pai do músico e viciado em crack Bruno Kligierman de Melo, de 26 anos, revela o que o levou a tomar essa atitude. O jovem está preso na polícia após confessar que matou uma amiga estrangulada.

"Primeiro, entreguei porque era o certo a fazer. Eu consegui finalmente internar meu filho contra a vontade dele, que é uma luta que tenho tentado fazer e não tenho conseguido. Uma das coisas que ele tem é síndrome do pânico e tinha horror de pensar em voltar para a clínica e se internar novamente. Em nenhum momento ele esboçou a ideia de fugir da responsabilidade", diz o poeta Luiz Fernando Prôa.

Segundo ele, essa segunda-feira (26) está sendo o pior dia após o crime. "Hoje é o dia mais difícil. É o dia que a ficha caiu".

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Luiz disse ainda que o filho caiu em si pouco depois de estrangular a amiga Bárbara Calazans, de 18 anos, a quem chamava de "anjo da guarda".

"Quando ele acordou do surto e foi falar com a menina, e não conseguiu falar com ela e viu que ela tava roxa e tava morta, aí é que caiu a ficha. De lá pra cá começou esse arrependimento todo. Tá difícil, tá muito difícil", disse o pai.

Luiz conta que ainda não falou com o filho desde que ele foi preso. Bruno, de acordo com o pai, foi internado cinco vezes, a última em maio, quando ficou cerca de 15 dias na reabilitação.

A bebida sempre foi o estopim para que o músico voltasse a se drogar. "Ele saía bem da clínica, mas voltava a se drogar. Encontrava os amigos e quando bebia, onde tudo começou, perdia a lógica do raciocínio. A bebida era o estopim para usar outras drogas".

Luiz Fernando conta que tem outros dois filhos. "Meu filho passou este ano para a UFRJ, para Letras. E o outro tem 14 anos. Eles só me dão alegrias", diz satisfeito. Fala também que a família toda está arrasada com a morte da jovem.

"A família toda está muito envergonhada. Tá todo mundo arrasado pelo lado da menina e pelo lado dele".

Músico tem síndrome do pânico

A preocupação agora é fazer com que Bruno receba medicação para o tratamento da síndrome do pânico. "Ele tá fissurado. Deve estar batendo a síndrome do pânico. Ele tem que tomar a medicação".

Luiz Fernando fala que o filho o procurou logo após o crime, arrependido. "Quando acabou o efeito da droga é que caiu a ficha. Foi aí que ele me ligou. No dia do crime, dois jovens morreram. Uma foi enterrada e o outro ainda está respirando, mas com dor e remorso. Ele só chorava e dizia "matei a mulher e amiga que amava. Vou me matar".

Pedido de perdão

O poeta diz que ainda não falou pessoalmente com a família da jovem morta e desaconselha que outros jovens tentem ajudar viciados. "Pedi perdão. Vou falar o que? Só perdão. Mas não aconselho ninguém a tentar ajudar um viciado porque essa jovem pagou muito caro por isso. Eu estava tentando interná-lo novamente, mas a única coisa que consegui é que ele frequentasse o NA (narcóticos anônimos), que ele estava indo há duas semanas".

Luiz Fernando garante que se fosse o contrário também saberia perdoar. "Eu perdoaria, mas não sei se de imediato porque a dor seria muito grande. Até porque a mãe dela há pouco tempo tinha falado pra minha mãe que o Bruno era a única pessoa que ela confiava que a filha saísse para a balada. Então, não sei como eles devem estar se sentindo, mas com certeza com muita raiva. Eu estaria com raiva. Eu estou aberto a falar com eles em qualquer momento, mas não vou procurá-los e causar mais dor. Não tem como reparar, mas quero que eles saibam que estou solidário com a dor deles".

O pai do rapaz critica o sistema de saúde. "Os viciados têm que ser compulsoriamente tratados e internados. São riscos para eles mesmos. Vamos ter que construir celas dentro de casa? O plano de saúde acha que em 15 ou 20 dias cura o internado e não é assim".

Para ele, o momento mais feliz da vida do músico foi o reencontro com a mãe. "No dia 5 de abril, aniversário dele, ele reencontrou a mãe. Nunca vi ele tão feliz. Mas dias depois ela morreu, vítima do HIV".

"Caso de saúde pública virou caso de polícia", diz pai

Bruno, segundo o pai, estaria arrependido do crime. "Ele se conscientizou e tá arrependido. Infelizmente consegui a internação dele atráves de uma coisa trágica. Mas meu filho não é um criminoso comum. O que ele fez é imperdoável e não quero minimizar isso. Não quero justificar em nenhum momento a atitude dele. Estou me sentindo morto. Minha preocupação agora são os outros que vivem a mesma situação. Um caso de saúde pública virou um caso de polícia", lamenta.

O crime

A jovem Bárbara Calazans foi encontrada estrangulada na tarde sábado (24). Segundo a polícia, o crime aconteceu no apartamento de Bruno, na Rua Ferreira Viana, no Flamengo, na Zona Sul do Rio. A vítima moraria do outro lado da rua com a família.

Bruno foi preso ainda no apartamento, e não resistiu à prisão. Na delegacia, ele contou que tinha fumado crack momentos antes da discussão.

Amigas de Bárbara contam que ela morreu tentando ajudar o músico. ?Ela morreu porque tentou ajudá-lo a não usar a droga. Ela gostava de ajudar todo mundo e não tinha preconceitos?, contou a estudante Tamires Lopes, de 18 anos, amiga de infância de Bárbara. De acordo com ela, Bruno, que confessou o crime, não era namorado da vítima. ?Eles eram amigos há alguns meses?, completou.

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