O ator Victor Bastos dirigia o carro e viu o momento em que a amiga Andréia Cristina Pereira, de 35 anos, foi baleada no banco do passageiro em Campinas, a 93 km de São Paulo, na sexta-feira (25). Ele contou ao G1 que ainda tenta se recuperar da cena trágica e que o descanso com a família foi interrompido porque vai participar da reconstituição do crime, marcada para a manhã desta terça (26). A polícia da cidade investiga se a bala perdida que atingiu a vítima partiu do tiroteio após um assalto.
Andréia, que também era atriz, foi atingida pelas costas. A bala acertou seu coração. ?Eu só berrava, gritava. Não me lembrava de mais nada?, disse ele, enquanto voltava de Santos para Campinas. ?A polícia me chamou e vou participar da reconstituição. Agora que a ficha está caindo?, afirmou o rapaz sobre a morte de Andréia, considerada a ?melhor amiga? dele. ?A gente se falava todo dia.?
O ator contou que, na tarde de sexta, levava Andréia em seu Uno ao salão de cabeleireiro onde ela tinha começado um curso. Tinham acabado de voltar do almoço com mais dois amigos. No caminho, Bastos se recordou de ter ouvido um barulho. ?Parecia um estampido desses de moto. Depois ouvi mais quatro ou cinco. Como sou assustado, me abaixei.?
No momento em que continuou dirigindo, chegou a perguntar a Andréia se aquilo era um tiro. ?Ela não me respondeu e não olhei para ela. Quando vi, pouco tempo depois, achei que a Andréia estava passando mal. Ela não respondia e caiu em cima de mim. Comecei a associar as coisas e a afastei do banco. Aí vi que tinha sangue nas costas e não me lembro de mais nada?, relatou o ator, que conseguiu dirigir até o salão.
Os dois estavam na Avenida Doutor Jesuíno Marcondes Machado, que, segundo o rapaz, fica a três quadras do cabeleireiro, no bairro Nova Campinas. A atriz, baleada em frente a um cartório, foi levada para o Hospital Municipal Doutor Mário Gatti, onde morreu. Ela morava com os pais e o filho de 6 anos, que deve continuar com os avós.
Investigação
Até a noite de segunda, não havia informação de pessoas presas por causa do crime. A polícia de Campinas tem duas versões para o caso. Na primeira, dois homens em uma moto tentaram assaltar um casal que chegava ao cartório. Um homem vestido de terno reagiu atirando na dupla. E um destes tiros acertou Andréia.
De acordo com a segunda versão, com base no depoimento de uma testemunha, o tiro foi disparado por um rapaz que perseguia um homem. Os dois saíram correndo do cartório e o que deixou o local primeiro pode ser um assaltante. Ele estava com uma sacola de pano nas mãos. Uma arma encontrada no local pela polícia foi encaminhada para a perícia.
Em cartaz
Andréia e Bastos trabalhavam juntos em Campinas no grupo de teatro Téspis. O diretor teatral Edgar Rizzo, de 70 anos, descreveu a atriz como uma pessoa ?muito profissional? e bem-humorada. ?Estava sempre fazendo gracinha.? Segundo ele, a vítima entrou para a companhia aos 17 anos, matriculando-se no curso de formação de atores. Atualmente, Andréia participava de quatro encenações.
De acordo com Rizzo, a atriz se apresentava em escolas com a peça ?Planeta Maravilha?, que fala sobre meio ambiente. Horas antes de ser assassinada, ela tinha acabado de atuar em uma instituição de ensino da cidade. Andréia também fazia a avó do Menino Maluquinho na peça homônima, inspirada no personagem de Ziraldo.
Também estava em cartaz na montagem ?Odeio Teatro? e no infantil ?Dona Baratinha?. Rizzo contou que no fim do ano, durante as encenações feitas pelos alunos do grupo Téspis, a atriz será homenageada. ?Vamos ler um manifesto contra a violência e dedicar as peças a ela.?