A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira (27), após visita ao Congresso, que a situação do senador boliviano Roger Pinto Molina, que estava asilado na Embaixada brasileira em La Paz, era muito diferente da realidade do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), aparelho da ditadura responsável pela prisão dos presos políticos no Brasil.
"Um governo age para proteger a vida. Nós não estamos em situação de exceção. Não há nenhuma similaridade. Eu estive no DOI-Codi, eu sei o que é o DOI-Codi. E asseguro a vocês que é tão distante o DOI-Codi da embaixada brasileira lá em La Paz (Bolívia) como é distante o céu do inferno", afirmou, emocionada.
Foi a primeira vez que a presidente comentou a fuga do senador, que chegou ao Brasil na madrugada de domingo, após fuga conduzida pelo diplomata Eduardo Saboia à revelia do Itamaraty, segundo o próprio. Para justificar o ato, Saboia comparou a situação de Molina na Embaixada à dos presos políticos.
"Eu me sentia como se eu tivesse um DOI-Codi ao lado da minha sala de trabalho. É um confinamento prolongado sem o verdadeiro empenho para solucionar", disse, em entrevista ao programa "Fantástico" exibida no último domingo.
O episódio culminou com a saída do agora ex-ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota, que será substituído por Luiz Alberto Figueiredo. Patriota esteve reunido ontem à noite com Dilma e anunciou sua saída do cargo.
Molina permaneceu por mais de 450 dias na Embaixada desde que o governo brasileiro lhe concedeu asilo. Segundo Saboia, ele ficava confinado em uma pequena sala e não podia deixar a embaixada. O diplomata disse ainda que o senador apresentava quadro de depressão e ameaçava se suicidar.
A presidente qualificou como inaceitável a fuga do senador, patrocinada pelo diplomata, em razão do risco a que foram submetidos. "Um país civilizado e democrático protege seus asilados sobre os quais ele tem que garantir, sobretudo, a segurança em relação à integridade física. O Brasil jamais poderia aceitar em momento algum, sem salvo-conduto do governo boliviano, colocar em risco a vida de uma pessoa que estava sob sua guarda. A Embaixada do Brasil é extremamente confortável", afirmou Dilma.
O governo boliviano, entretanto, não lhe deu o salvo-conduto para que ele pudesse deixar o país. "Negociamos em vários momentos o salvo conduto e não conseguimos. Lamento profundamente que um exilado tenha sido submetido à insegurança que este foi", declarou a presidente.
"Não tem nenhum fundamento acreditar que um governo, em qualquer país do mundo, aceite submeter a pessoa que está sob asilo a risco de vida. Se nada aconteceu, não é a questão. Poderia ter acontecido. Um governo não negocia vidas", disse Dilma.