Dois meses de investigação sigilosa, envolvendo as polícias Civil, Federal e Militar, além da Coordenadoria de Inteligência da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) resultaram na identificação e desarticulação da quadrilha responsável por 29 ataques a bancos, postos dos Correios, agências lotéricas e assaltos a ônibus de sacoleiros no Interior do Estado do Ceará. Ontem, a segunda etapa da ´Operação Dezoito", resultou na prisão de nove pessoas implicadas nos crimes, entre eles, um policial militar.
Em entrevista concedida à Imprensa local na tarde de ontem, as autoridades policiais fizeram um balanço da investigação, revelaram o ´modus operandi´ da organização criminosa e citou os principais integrantes do banco. Agora, já são 11 pessoas presas (dois PMs) e outras seis continuam sendo procuradas no Ceará e nos Estados de Goiás, Pernambuco, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte.
Operação
Na operação desencadeada ontem, foram mobilizados, nada menos, que 180 policiais, sendo 80 federais e 100 militares. À frente das diligências estiveram pessoalmente o delegado da Polícia Federal, Francisco de Assis Castro Bomfim, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra o Patrimônio; e o tenente-coronel PM Hervano Macedo Júnior, comandante do 1º BPM (Russas).
Durante todo o dia foram realizadas buscas e apreensão e prisões em Fortaleza e nos Municípios de Boa Viagem, Quixadá, Ibicuitinga, Ipu, Morada Nova, Pacajus, Quixadá, Quixeramobim e, ainda, na Serra da Ibiapaba. Também foi cumprido um mandado de busca e apreensão na cidade de Goiânia (GO).
Um dos primeiros a ser preso durante a ´Operação Dezoito´ foi o sargento da PM José Ribamar da Silva, destacado no Pelotão de Morada Nova (a 16Km). Segundo as investigações, o sargento dava apoio logístico aos criminosos e participava do resgate deles em estradas e matagais quando a Polícia cercava o bando durante as fugas. Segundo o coronel Macedo, o sargento tinha envolvimento direto com os assaltantes, assim como o soldado PM Mário Kenno Victuriano Ribeiro, preso na primeira etapa da operação, no dia 16 de novembro último.
Além do sargento Ribamar também foram capturados, ontem, as seguintes pessoas: Rone Wellington Rabelo do Nascimento, o ´Roney´ (detido em Ibicuitinga); Elineudo Oliveira Silva, o ´Pipoca´; e o irmão dele, Edilberto Oliveira Silva, o ´Beto Pipoca´ (presos em Quixadá); Cristiano da Silva (preso em Boa Viagem), Nazareno Pereira dos Santos, Ricardo Oliveira da Silva e, por último, o assaltante de bancos, de carros-fortes e sequestrador Francisco Thairone Barreto de Freitas (cercado pela Polícia em Morada Nova).
Todos os acusados foram detidos por força de mandados de prisão preventiva decretada pelo juiz titular da comarca de Boa Viagem, Magno Gomes de Oliveira. Na primeira etapa da operação, além do soldado Kenno também, haviam sido presas outras quatro pessoas.
Foragidos
Além dos suspeitos já presos, outros cinco acusados continuam sendo procurados, entre eles, o assaltante de bancos e pistoleiro Jandercheiton Rabelo Maciel, conhecido também por ´Jandercleiton´, natural de Quixadá e dono de uma extensa ficha de crimes, entre eles, uma chacina ocorrida no Município de Ibicuitinga, em maio de 2004, quando foram fuziladas, de uma só vez, sete pessoas.
Além dele, também estão foragidos Paulo Diego da Silva Araújo, Herculano Martins Alves, Dárcio Lira da Rocha, José Fabiano Nunes Alencar e Antônio Fábio Borges.
PERICULOSIDADE
Criminosos agiam com muita violência
Bandidos ousados, extremamente violentos e que não medem as consequências de seus atos criminosos. A maioria já tem longa ficha criminal por delitos como ataques a bancos, roubo de malotes em carros fortes, sequestros e pistolagem. Assim é o perfil dos 25 homens acusados de integrar a quadrilha responsável pelos 29 ataques contra agências bancárias no Ceará em 2010, numa sequência de roubos nunca registrada no Estado.
Em entrevista aos jornalistas na sede da Polícia Federal, o secretário da Segurança Pública, delegado Roberto Monteiro; e o superintendente da PF no Ceará, delegado Aldair da Rocha, reforçaram as declarações dos homens que estiveram no comando da segunda etapa da ´Operação Dezoito´.
Segundo o delegado Francisco de Assis Bomfim, "se eles fizeram 29 ataques, pode ter certeza de que a Polícia evitou que eles praticassem o dobro disso". Assim como o tenente-coronel PM Hervano Macedo, Bonfim explica que, entre os ataques planejados pela quadrilha, e que não foi executado graças a ação da Polícia, estava o assalto a agência do Banco do Brasil de Iguatu, onde eles planejavam roubar cerca de R$ 22 milhões.
"Poderia ser até mesmo no aeroporto daquela cidade", informaram as autoridades. Segundo o delegado Bonfim, a mais recente ação dos criminosos foi contra a agência do BB da cidade de Itapiúna (a 110Km de Fortaleza), ocorrida na madrugada do último dia 3, quando eles usaram dinamite para explodir os caixas. Há informações, não confirmadas pela direção do banco, de que, somente neste ataque, os ladrões teriam roubado cerca de R$ 500 mil.
Já o secretário da Segurança Pública informou que, os repetidos assaltos contra bancos nos últimos meses no Interior cearense tornaram-se uma grande preocupação não apenas para ele, mas também para o governador Cid Gomes.
Por conta disso, no dia 1º de novembro, ele reuniu-se com o governador para tratar exclusivamente do problema. Foi, então, traçada uma soma de esforços entre todas as forças policiais do Estado, com a participação da Justiça (especialmente da Comarca de Boa Viagem), do Ministério Público e da Superintendência da Polícia Federal. "O trabalho vai continuar", advertiu o delegado Bomfim, sinalizando sobre novas prisões.
Fique por dentro
Assalto milionário não aconteceu
A operação dezoito foi assim batizada porque, segundo o delegado Francisco Bomfim, nas investigações foi descoberto que, no dia 18 (não revelou o mês), 18 bandidos reuniram-se no quilômetro 18 de uma estrada que corta o Ceará e ali planejaram assaltar um banco de onde poderiam roubar cerca de R$ 22 milhões. Mas, a intensificação da presença da Polícia nas cidades que estavam nos planos dos ladrões evitou que a trama fosse realmente concretizada.
A Polícia Militar, através do seu Comando do Policiamento do Interior (CPC), montou a "Operação Inquietação´, em que policiais eram acordados no meio da madrugada para vigiar as rodovias e entradas das cidades interioranas. Aquela era a hora que a quadrilha costumava agir, surpreendendo a população e a própria Polícia. Muitos ataques foram precedidos de sequestros de gerentes ou outros funcionários das agências.
Os bandidos também bloqueavam estradas e incendiavam os carros que eles próprios usavam nas fugas e no transporte de caixas e cofres.