Na terceira maior cidade do Maranh?o (Caxias), crian?as n?o t?m o que comer na escola. E o banheiro delas ? o mato. Sem merenda, alunos levam de casa tudo o que t?m para o lanche: farinha, ?leo e sal. Enquanto isso, a prefeitura compra 22 toneladas de uma carne que /center>n?o existe. A reportagem ? de Eduardo Faustini.
?Queria cadeira, banheiro novo, pia no nosso banheiro, quadro, merenda?, enumera Isamara, de 12 anos.
O Fant?stico visitou duas escolas de ensino fundamental da zona rural de Caxias, a terceira maior cidade do Maranh?o. Nelas, a palavra "escola" ainda faz sentido por um ?nico motivo: as professoras, os pais e os pequenos alunos acreditam na educa??o.
Carteira destru?da, arteira sem assento, encosto desfolhado, vigas do teto arrebentadas. Para esses brasileirinhos, falta quase tudo. Mas, para fornecedores da prefeitura e empreiteiros contratados pelo munic?pio, dinheiro n?o parece ser um problema.
?A prefeitura paga direitinho??, pergunta o rep?rter.
?Paga, paga. Aqui o prefeito ? bom pagador?, ri o engenheiro Jos? Ribamar Serra.
Enquanto isso, ir ? aula pode ser muito perigoso. Crian?as caminham na beira da estrada. Elas t?m pressa.
?A gente tenta chegar cedo, porque se chegar tarde, as cadeiras n?o prestam?, conta Isamara.
Uma aluna precisa sentar no apoio do bra?o da carteira, colocado no lugar do assento. Para uma outra aluna, o jeito foi apoiar o caderno nas pernas, j? que a cadeira n?o tem bra?o. Em cada escola, um mesmo galp?o ? usado por turmas de s?ries diferentes.
??s vezes, quando ela canta uma m?sica, os menino tamb?m querem prestar aten??o. Eu fico parada, enquanto ela termina l?. ? assim que a gente faz o nosso trabalho?, desabafa a professora Rosilda Maria.
O desconforto marca at? a hora de ir ao banheiro, que n?o passa de um cercadinho de palha. Um luxo, se comparado ao mato usado pela outra escola.
?Para ir ao banheiro tem que ir l? no mato. N?o tem banheiro?, conta Francisco, 9 anos.
A escola tamb?m n?o tem merenda.
?Eu digo: ?Meus filhos, tragam o que voc?s tiverem em casa, uma farinhazinha com a?car, com um pouquinho de sal, pimentinha-do-reino??, comenta a professora Maria da Felicidade.
?? uma tristeza muito grande ver os filhos passando fome aqui?, diz Luzia dos Santos, m?e de alunos.
As duas escolas n?o t?m merenda. Em nota, a prefeitura afirma que pode haver um ou outro caso de col?gios que ainda n?o receberam merenda este ano.
Mas houve um tempo de fartura no munic?pio de Caxias, pelo menos, no papel. A prefeitura comprou 22 toneladas de carne em meados de dezembro de 2006. Detalhe: as crian?as estavam de f?rias e a carne tinha de ser consumida em at? 60 dias.
O conselho que fiscaliza a merenda questionou a compra. Um ano depois, o prefeito Humberto Coutinho acabou devolvendo o dinheiro. A nota fiscal da compra da carne est? em nome de Jos? Cardoso da Silva, conhecido como Z? do Bode.
Z? do Bode ? funcion?rio da Frical, o matadouro e o frigor?fico que pertence a Ant?nio Apol?nio, que vem a ser pai do presidente da C?mara dos Vereadores de Caxias. E o Z? do Bode? Ele n?o aparece na nota fiscal como vendedor da carne?
Antes de se tornar prefeito de Caxias, o ent?o deputado estadual Humberto Coutinho construiu um centro particular de sa?de. O centro tinha o ?nico servi?o de tomografia computadorizada de Caxias.
Em 2002, o governo do estado comprou do deputado o centro, para transform?-lo em Hospital Universit?rio