A defesa de Luiz Henrique Romão ? o Macarrão ? acionou a Vara de Inquéritos do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para cobrar explicações do advogado Rui Pimenta, que representa o goleiro Bruno Fernandes no processo sobre morte e desaparecimento de Eliza Samudio. Em nota, Leonardo Diniz informou que o pedido de explicações se refere às declarações do defensor do atleta de que Macarrão é homossexual . A notificação foi ajuizada nesta terça-feira (10).
Pimenta disse nesta segunda-feira (9) que, após a publicação de uma reportagem sobre o caso Eliza Samudio nesta edição da revista ?Veja?, fica evidente que a convivência entre Bruno e Macarrão extrapola a área do sentimento. "A "Veja? me fez acreditar na homossexualidade através dessa notícia?, afirmou. Além de uma carta de Bruno endereçada a Macarrão, em que o atleta pede ao amigo para usar um ?plano B?, a reportagem cita um vídeo que retrataria uma relação sexual entre os dois e a modelo.
Segundo o defensor, Macarrão está ciente de todas as informações veiculadas na mídia nos últimos dias. ?Entretanto, [Luiz Henrique Romão] se sente profundamente ofendido e aguarda apuração das medidas que adotamos?, declarou em nota. Diniz também afirmou que seu cliente desconhece a carta publicada pela revista "Veja".
De acordo com o TJMG, um juiz está analisando se a notificação ajuizada em nome de Luiz Henrique é de competência da Vara de Inquéritos. Se o parecer for favorável, o advogado Rui Pimenta será notificado para que preste explicação a Macarrão por meio da Justiça, caso queira. Ele terá dez dias para enviar uma resposta. Ainda de acordo com o TJMG, a notificação prevê uma explicação formal, mas não envolve indenizações nem retratações em público.
Nesta quarta-feira (11), Rui Pimenta disse que ainda não foi notificado oficialmente. ?O direito de interpelar judicialmente é de qualquer cidadão e ele [Leonardo Diniz] tem a obrigação de ouvir a contrainterpelação. Ele vai receber a resposta adequada depois que eu for intimado?, afirmou.
O advogado Leonardo Diniz alegou que, caso seja necessário, entrará com uma ação penal por difamação. A defesa estuda também o ingresso de ação de indenização por danos morais.
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Homossexualidade
De acordo com Pimenta, a relação entre o dois nunca foi, de fato, esclarecida. Entretanto, ele acredita que a aproximação entre Bruno e Macarrão, que foram criados juntos e que sempre trocaram confidências, pode culminar em um envolvimento sexual. Apesar das declarações do advogado, o próprio Pimenta disse que Bruno nunca falou com ele sobre algum envolvimento sexual com Macarrão.
À pergunta "O senhor desmente a hipótese de que era uma carta para romper o relacionamento sexual?", Rui Pimenta respondeu que "o relacionamento sexual não está somente dentro carta. Ele está na própria reportagem da "Veja", quando diz lá que Eliza Samudio gravou um filme aonde tinham relação sexual os três. Então você daí vê que a homossexualidade já existia no filme que eles gravaram".
Pimenta ainda levanta outra hipótese para a morte de Eliza, que teria sido causada por um "sentimento" que Macarrão poderia ter em relação a ela. "Quer dizer, se eles participavam de uma zorra sexualmente, evidente que o Macarrão também sentia algum sentimento por Eliza Samudio não é verdade? Que se ele "tava" lá também contribuindo com o ato essa coisa toda, existia também um envolvimento sentimental dele com Eliza Samudio. De repente ele era também apaixonado por Eliza Samudio e pode ter matado por vingança", falou.
Nesta segunda, Leonardo Diniz negou possibilidade da existência de um relacionamento sexual entre Bruno e Macarrão, o advogado disse que "é um devaneio, é um absurdo infundado. É uma história funesta. Não tem respaldo nenhum. O Luiz Henrique tinha uma relação profissional com o Bruno".
O goleiro Bruno algemado deixa o Fórum de Esmeraldas, na Grande BH; atrás, o amigo Macarrão. (Foto: (Foto: Alex Araújo/G1 MG))O goleiro Bruno algemado deixa o Fórum de
Esmeraldas, na Grande BH; atrás, o amigo
Macarrão. (Foto: Alex Araújo/G1 MG)
Carta
Os defensores Rui Pimenta e Francisco Simim visitaram o jogador nesta segunda na Penitenciária Nelson Hungria, quando o jogador confirmou a autoria e explicou o teor da mensagem.
"O que o Bruno quis ressaltar é que assumir o "plano B" era uma obrigação do Macarrão, porque o Macarrão havia traído Bruno quando sumiu com a Eliza", justificou Pimenta. Segundo o advogado, Eliza foi morta sem o consentimento do jogador. Pimenta alega que a carta foi redigida em novembro do ano passado e veio a público com o final apagado, dando margem a distorções. Ele afirmou ao G1 que, no trecho final Bruno disse ter escrito: "Macarrão, você tem realmente que assumir este crime porque eu não posso pagar por sua traição. Eu não mandei você sumir com a Eliza", relatou.
A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou que a carta escrita pelo goleiro não consta nos registros de correspondências enviadas e recebidas por detentos da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. De acordo com a Seds, o atleta disse, em depoimento na unidade prisional nesta segunda, que pediu para outro preso entregar a mensagem ao amigo. A Seds informou ainda que a penitenciária dará continuidade ao procedimento de apuração para checar como a carta saiu da unidade prisional. As informações levantadas serão remetidas à Justiça.
Caso Eliza Samudio
O goleiro Bruno Fernandes e mais sete réus vão a júri popular no processo sobre o desaparecimento e morte de Eliza Samudio, ex-namorada do jogador. Para a polícia, Eliza foi morta em junho de 2010 na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e o corpo nunca foi encontrado. Em fevereiro de 2010, a jovem deu à luz um menino e alegava que o atleta era o pai da criança. Atualmente, o menino mora com a mãe de Eliza, em Mato Grosso do Sul.
O goleiro, o amigo Luiz Henrique Romão ? conhecido como Macarrão ?, e o primo Sérgio Rosa Sales vão a júri popular por sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Sérgio responde ao processo em liberdade. O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, também está preso e vai responder no júri popular por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver.
Dayanne, ex-mulher do goleiro; Wemerson Marques, amigo do jogador, e Elenílson Vítor Silva, caseiro do sítio em Esmeraldas, respondem pelo sequestro e cárcere privado do filho de Bruno. Já Fernanda Gomes de Castro, outra ex-namorada do jogador, responde por sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho dela. Eles foram soltos em dezembro de 2010 e respondem ao processo em liberdade. Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, foi inocentado.
Segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), não há previsão de data para o julgamento do caso Eliza Samudio.