Os moradores do Barroso I, comunidade situada na Zona Sul da Capital, tiveram uma surpresa nada agradável na noite de ontem. Da carroceria de um caminhão que transportava aparentemente apenas restos de construção para um aterro ali próximo, caíram vários sacos plásticos. Dentro deles havia crânios humanos, além de muitos documentos do Instituto Médico Legal, como livros de registros de entrada de corpos, guias cadavéricas e dezenas de fotografias de locais de crimes, principalmente, assassinatos (fotos mostrando pessoas mortas em diversas situações).
Parte desse ´lixo´ caiu na Rua da Bandeira e, logo, a meninada correu para apanhar os crânios humanos. As ´caveiras´ logo se transformaram em brinquedo nas mãos da garotada. Noutra rua perto dali, foram jogados fora os documentos de interesse criminal, como laudos e guias cadavéricas, além de mais fotos de perícia em locais de mortes violentas.
Intrigados com o achado, os moradores decidiram chamar a Polícia e, logo em seguida, apareceu um rabecão da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce). Uma equipe de peritos da Coordenadoria de Criminalística (CC) da Pefoce também foi mandada ao local. O material, que estava prestes a ser jogado no aterro, acabou sendo, então recolhido. Nenhum representante da Pefoce ou do antigo IML apareceu ali.
Para os moradores, além do susto, a descoberta do material por pouco não termina em total extravio. Um dos crânios humanos acabou sendo destruído pelos garotos, que usaram a ´caveira´ como bola de futebol. Os outros dois crânios foram apanhados por um adulto e entregues aos policiais que atenderam à ocorrência.
Para a Polícia, a suspeita é de que o material que foi lançado ou caiu nas ruas do Barroso pode ter sido recolhido por operários que, atualmente, trabalham nas obras de reforma da sede do IML, na Avenida Leste-Oeste. O prédio está sendo restaurado desde o fim de fevereiro passado, e a conclusão das obras está prevista para o começo de 2010.
Máfia
A descoberta dos restos humanos e da documentação pericial acontece no momento em que o IML está sendo alvo de graves denúncias. Na Assembléia Legislativa foi iniciada uma investigação para apurar a ação de uma suposta ´máfia´ envolvendo funcionários do necrotério do IML e advogados para a liberação de corpos de vítimas de acidentes.
SEM CONTROLE
Mais um fato grave envolve o nome do IML de Fortaleza
As irregularidades praticadas pelo antigo Instituto Médico Legal (IML), hoje rebatizado de Coordenadoria de Medica Legal (CML), da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), vêm sendo denunciadas pelo Diário do Nordeste desde maio passado, quando o jornal divulgou, com exclusividade, a forma desrespeitosa como corpos de indigentes eram jogados em valas no Cemitério Parque Bom Jardim.
A denúncia ganhou grande repercussão na sociedade e se tornou objeto de investigações do Ministério Público Estadual (MP). Na semana passada, a promotora que apura o caso, Isabel Porto, encaminhou à Justiça um pedido de exumação dos cadáveres que foram enterrados sem nenhum tipo de proteção, sem caixões ou mesmo sacos plásticos.
Ontem à noite, mais um fato grave veio a tona, quando, de um caminhão que transportava entulho, caíram crânios humanos e muitos documentos de interesse médico-legal e da própria Justiça, como laudos de perícia de crimes, registros de entrada de corpos no IML e fotos de locais de homicídios.