O comerciante Murilio Ferreira da Silva, 39 anos, sobreviveu a um tiro de revólver calibre 38 que perfurou o lado esquerdo do seu tórax, porque ao contrário da maioria das pessoas, ele possui o coração no lado direito do peito. "Não morri na hora porque tenho o coração do lado direito do peito", disse.
O incidente ocorreu no dia 10 de fevereiro, às 22h, durante um assalto. Silva e funcionários se preparavam para encerrar o expediente na sua padaria inaugurada há 5 meses no bairro Belo Horizonte, em Indaiatuba, região de Campinas, quando um assaltante surpreendeu sua mulher no caixa e roubou cerca de R$ 100. Na fuga, ao subir na garupa de uma motocicleta, que esperava na rua, deu um tiro a esmo e atingiu Silva na calçada.
O projétil acertou o comerciante um palmo abaixo do ombro do lado esquerdo, onde fica o coração. Ele foi levado à emergência do pronto socorro do Hospital Augusto de Oliveira Camargo, onde ficou internado, foi operado e teve alta após cinco dias.
Ele ainda está com curativos, sente dores, mal estar e não consegue trabalhar, mas diz que foi "um grande susto, um susto". "Foi tudo rápido. Eu fazia pão lá dentro e vieram me avisar que a padaria tinha sido assaltada. Sai para ver e vi o moço correndo em direção à moto. Ele atirou e eu senti um baque, um calor, uma dormência no peito. Acordei no hospital", disse Silva, que descobriu aos 22 anos que tinha o coração do lado invertido do peito.
As mulher, Sandra Dias Cardoso, 32 anos, disse que durante o assalto o ladrão "pegou o que encontrou e saiu correndo". Para ela, se o coração do seu marido ficasse do lado correto seria bem provável que agora ela estaria viúva.
No dia 18 de fevereiro, a Policia Militar apresentou Wellington Rodrigues Rouxinol, 24 anos, como autor do assalto e do disparo. A polícia decretou prisão preventiva e abriu inquérito. A arma não foi localizada e nem outro ocupante da moto.
Situs inversus
A localização do coração no lado direito do peito, o situs inversus ou dextrocardia é muito raro. Segundo o médico do Departamento de Cardiologia da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC) Daniel Lages Dias a dextrocardia é uma má formação ainda na fase fetal.
"O coração se forma como um tubo e durante essa fase pode acontecer uma dobra errada", explica. Dependendo da situação pode necessitar de uma intervenção cirúrgica no bebê dentro da barriga mãe.
"Há situações em que um adulto desconhece que é portador de uma má formação congênita". A comprovação da dextrocardia é feita por raio X do tórax e exame de ecocardiograma.