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Comando Vermelho freou crimes durante G20 após pedido de suposta autoridade do Rio

No comunicado, enviado a um aliado, Naldinho afirma que um suposto “representante das autoridades do Rio” teria pedido a trégua.

Representantes dos países do G20 na Cúpula de Líderes | Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República
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Mensagens interceptadas pela Polícia Federal revelam que a cúpula do Comando Vermelho determinou uma trégua de sete dias sem conflitos nem roubos durante a realização da reunião do G20, em fevereiro do ano passado, no Rio de Janeiro. A ordem partiu do traficante Arnaldo da Silva Dias, conhecido como Naldinho, atualmente preso na Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho (Bangu 3), e foi obtida com autorização judicial.

Naldinho é apontado pela PF como membro do Conselho Permanente do Comando Vermelho — instância composta por chefes do tráfico encarcerados em Bangu, com poder de decisão sobre os rumos da facção no estado. Ele também é descrito como uma espécie de porta-voz da organização criminosa.

No comunicado, enviado a um aliado, Naldinho afirma que um suposto “representante das autoridades do Rio” teria pedido a trégua. Segundo ele, a suspensão temporária de crimes visava evitar retaliações contra integrantes da facção durante os eventos do G20. No entanto, a PF não conseguiu identificar essa autoridade mencionada.

“Boa tarde a todos meus irmãos. Hoje, um representante das autoridades no Rio procurou o irmão que é sintonia e pediu para nós segurarmos sete dias sem guerras e roubo devido ao G20 (são representantes de 20 países diferentes). \[...] Todos estamos de acordo em segurar esses sete dias até porque se veio no diálogo, eles demonstraram um respeito por nós”, escreveu Naldinho no “salve” enviado em 22 de fevereiro.

Na mesma data, ministros das Relações Exteriores do G20 participavam da primeira reunião oficial do grupo, realizada na Marina da Glória.

Naldinho determinou trégua nos crimes no Rio de Janeiro durante o G20 - Foto: OGlobo

Mais de 50 anos de prisão

O conteúdo da mensagem faz parte de um relatório da Polícia Federal que detalha o papel de Naldinho como articulador interno do CV. Condenado por tráfico e homicídio a mais de 50 anos de prisão, ele é considerado líder do tráfico em diversas comunidades do Sul Fluminense.

Nos "salves" enviados a comparsas fora da prisão, Naldinho resolve disputas entre traficantes, anuncia decisões da cúpula, divulga alianças com outras facções e até organiza rifas de fuzis como forma de arrecadação.

Antes de divulgar o comunicado sobre o G20, ele chegou a pedir ajuda ao traficante Edgar Alves Andrade, o Doca — um dos mais procurados do estado e chefe do Complexo da Penha — para revisar o texto. Na versão inicial, Naldinho incluía uma ameaça de punição a quem desrespeitasse a ordem. Após a revisão de Doca, ele optou por suavizar o tom.

Novos comunicados

Em 6 de março, Naldinho enviou novo comunicado reforçando a proibição de roubos:

“Irmãos das comunidades CV, venham se atentar em suas responsabilidades, pois os roubos de carros e motos ainda continuam proibidos pela facção. Não vamos aturar mais desculpas.”

Em outro “salve”, datado de 1º de março, Naldinho anunciou uma decisão da cúpula sobre o controle de uma nova boca de fumo. Após disputa entre traficantes, ficou acordado que três deles — JN, Turuna e Merenda — dividiriam a gestão do ponto. Ele explicou que Merenda não havia sido incluído inicialmente porque estava hospitalizado no momento da votação interna.

 Aliança com facção rival

Os documentos também mostram como foi selada a recente aliança entre o Comando Vermelho e a facção rival Amigos dos Amigos (ADA). Em 25 de fevereiro de 2025, Naldinho informou que o CV estava “numa sintonia de respeito” com o ADA e que, a partir daquele momento, estariam encerradas as hostilidades entre os dois grupos.

“Está cessada a guerra, provocação ou qualquer falta de respeito tanto da nossa parte quanto da dos companheiros do ADA”, escreveu.

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