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Lucas Padula

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ACIDENTE DA VOEPASS: Os detalhes de uma cobertura não contada por mim... e com fotos

A fatalidade completou um ano com lindas homenagens em Vinhedo

| Foto: Reprodução

Antes de qualquer coisa, é preciso deixar meu enorme abraço às 62 famílias que vivem esse luto após um ano. Hoje, dia 10 de agosto de 2024, faz exato um ano do dia em que estive em Vinhedo pela primeira vez, uma pequena cidade que viveu no dia anterior, talvez um dia de maior terror, incertezas e angústia. 

Mas, na verdade, a história começou ainda a sexta-feira (9 de agosto de 2024), quando me preparava para mais um dia de plantão em um hospital do Morumbi em São Paulo. Pouco depois das 14h, recebemos a informação de que uma aeronave com apenas seis pessoas havia caído na cidade de Vinhedo. À medida que o tempo ia passando, o número aumentava, até que descobrimos que era um ATR 72-500, um turboélice que tinha capacidade de levar entre 65 a 72 pessoas. Um choque. Ligo para a redação e começamos a entender juntos o que isso significava para uma cobertura jornalística. Logo, recebo a informação de que a programação da emissora seria derrubada para dar espaço ao que hoje é chamado de “quinto maior acidente aéreo brasileiro”. 

Reportagem na Base Aérea de Guarulhos. Foto: Reprodução/Rede Meio

Às 16h35 daquele dia, iria ao ar uma edição do Brasil 40º, na ocasião apresentado por Helder Felipe, uma cobertura difícil pela circunstância dos fatos. Algo nunca visto, era uma aeronave com 61 pessoas (até então), que havia acabado de cair em um termo técnico chamado “parafuso chato”, quando um avião cai em espiral. Logo, foram tentar entender com especialistas o que era tudo isso e de cara recebemos inúmeras reclamações da empresa. 

Equipe dos bombeiro chegando no local. Foto: Lucas Padula/Rede Meio

Algumas horas depois, com a voz embargada, lia um a um, os nomes das 61 pessoas que estavam naquela aeronave (e é aqui que já peço desculpas por ler os nomes errados, afinal, a empresa havia divulgado tudo junto e não tinha como entender). Ao término do programa, fiz o que faço sempre ao terminar os programas que participo: tomar uma xícara de café, planejando como seria no dia seguinte. 

NO LOCAL DA QUEDA

Sábado (10), dia de acordar cedo com uma tristeza intensa, era o assunto mais comentado do dia. Junto com meu cinegrafista, Du Monteiro, partimos rumo a Vinhedo para trazer do local os detalhes do acidente. Ao chegar, deparei-me com um cenário que descrevo como um cenário de guerra. Inúmeros carros de bombeiros, Polícia Militar, Civil e Federal, equipes do Cenipa, IML de São Paulo e Polícia Penitenciária. Todos trabalhando para resgatar as 62 vítimas (Sim, nesse momento recebemos a informação correta, pois a empresa não sabia se um passageiro havia embarcado). Esse momento foi considerado um alívio para algumas famílias, mas no fim, ele estava no avião. 

Brigadeiro do ar, Marcelo Moreno, em coletiva de imprensa. Foto: Lucas Padula/Rede MeioAli, ficamos a tarde toda, ouvindo, vendo, entendendo toda a situação. Antes da primeira coletiva do Brigadeiro do Ar, Marcelo Moreno, uma porta-voz do Corpo de Bombeiros veio falar com a nossa equipe e foi nesse momento que o repórter saiu de cena e ficou apenas o cidadão. Ela havia acabado de chegar informando que no avião estavam duas crianças, uma delas com um pet. Ao término da entrevista, pedi licença e fui lamentar comigo mesmo o tamanho daquela tragédia. 

Me recompus e voltei, ainda que triste, para aquela cobertura. Às 17h daquele sábado, entramos ao vivo novamente para trazer do local os detalhes do acidente. Fizemos uma linda cobertura e, ao final do programa, pudemos acompanhar o que eu chamo de alívio (me perdoe pelo termo), alívio, pois os bombeiros e toda a equipe haviam acabado de retirar as vítimas daquela aeronave. Todos foram levados para São Paulo. 

LIBERAÇÃO DAS VÍTIMAS E ENTREGA ÀS FAMÍLIAS 

Durante uma semana, minha função era apenas trazer os detalhes do acidente e contar algumas histórias. Naquela mesma semana, entre palavras e lágrimas, acompanhamos as despedidas de cada familiar. Algumas em SP, outras em Cascavel (PR) e Pelotas (RS). Me lembro bem da emoção ao saber que a pequena Liz, de 3 anos, a mais nova do avião, havia sido liberada para a família e o velório do pequeno Joslan Perez com sua avó, Maria Parra, e sua mãe, Josgledys Gonzalez, que tinha apenas cinco pessoas, o pai dele e algumas pessoas que conheciam a família de venezuelanos. 

Velório da família de venezuelanos em SP. Foto: Lucas Padula/Rede Meio e Redes Sociais

Acompanhei na Base Aérea de Guarulhos, em São Paulo, as saídas do avião da FAB (Força Aérea Brasileira) levando as vítimas para as suas famílias. Foi ali que conheci a história da dona Denilda Acordi, uma mulher descrita pelos amigos mais próximos como uma das melhores pessoas que já existiu. Fui atrás de sua história, quando vi um vídeo do último abraço que deu no filho Rafael Acordi, que foi levar sua mãe até o aeroporto. 

Foi uma semana de angústia, até quando acompanhei a saída do IML de São Paulo, dos últimos carros levando as vítimas para o Aeroporto de Guarulhos. 

UM ANO DEPOIS…

A história da VoePass até hoje marca de alguma forma, é uma história que acompanhei de perto, bem como alguns dos vários colegas de imprensa. Mas, por algum motivo, sentia que precisava fazer algo para contar a história e conhecer os familiares, por isso, junto com a minha produtora Ana Carolina Cruz, decidimos buscar novos elementos, fotos e narrativas para esse momento. VEJA O MINI DOCUMENTÁRIO SOBRE O ACIDENTE DA VOEPASS

Foi quando conheci a advogada Bianca Michel Faller, a sobrinha do gremista fanático André Armando Michel, de 52 anos. A profissional está à frente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 2283, tirou um tempo da sua agenda para conversar com esse repórter. Foi ali que conheci um pouco da luta e principalmente o André. Aquele tio que sempre fez todo mundo dar risada, sabe aquele tio que faz piadas no almoço de domingo? Esse era o André. Ei, mas não se engane, o que ele tinha de engraçado, tinha de seriedade, o homem gostava de estudar e era muito inteligente. Foi através dele que Bianca se tornou advogada. 

Bianca e o tio André. Fotos: Arquivos Pessoais

Também conheci a minha colega de profissão, Adriana Ibaa, mãe da pequena Liz. Hoje, ela já não exerce a profissão. Adriana deixou o jornalismo para buscar respostas e lutar por justiça pela sua filha. E nem só pela Liz, mas por outros ocupantes da aeronave. Ibba está na vice-presidência da Associação. Mas confesso que segurei as lágrimas ao ouvir a Adriana falar da Liz. A pequena que, nessa idade, tem uma energia que assusta, um sorriso largo e que amava cantar a música “Areia”, da Sandy e do Lucas Lima. Ouvi a Adriana dizer que a sua maior preocupação naquele dia era saber se a Liz estava com frio. Realmente, não foi uma tarefa fácil. Mas estive ali, ouvindo e entendendo cada fala, entre pausas da jornalista. 

Adriana Ibba e a filha Liz, de 3 anos. Fotos: Arquivos Pessoais

Conheci também a Rosana Maria, esposa do copiloto Humberto de Alencar. Uma mulher que tem a religião como a base da sua família. Que ouvia do marido que a vida dele era sustentada por três pilares: “Deus, família e trabalho”. Rosana, enquanto falava comigo, me mostrou uma foto do marido pilotando um avião e descrevendo-o como uma “obra de arte pintada à mão”, bem como exibia a aliança, os óculos e o terço, todos intactos, mesmo com o impacto da queda. 

Rosana mostra a foto do marido. Foto: Reprodução Rede Meio/Arquivo Pessoal

Também conheci o Robson, marido do “homem mais centrado, que cuidava de tudo”, o Renato Lima. Ele era coordenador de franquias e vivia viajando, mas nunca deixava de falar com o marido por onde passava ou o que estava fazendo. Eles fizeram uma viagem, uma semana antes, para o Japão, onde puderam fazer e comprar tudo aquilo que eles queriam quando eram crianças. Inclusive, momentos antes de ele embarcar no avião, o casal conversava sobre o presente do Dia dos Pais, do pai do Robson. Tamanha era sua preocupação. 

Renato ao lado do marido, Robson. Fotos: Arquivos Pessoais 

Sabe, uma coisa me chamou a atenção. Cada vítima tinha sua história, sua particularidade e personalidade. Mas a tragédia fez com que todos eles se conectassem de alguma forma. Todos se tornaram uma única família. E quem esteve neste sábado (9 de agosto de 2025, um ano do acidente), em Vinhedo, pode ver e sentir tudo isso que foi escrito. 

HOMENAGEM DE UM ANO 

As famílias voltaram a Vinhedo neste final de semana. Todos se reuniram e o silêncio ecoava na igreja cedida para o evento. Cada um com seu luto. Famílias que ajudavam a consolar outras famílias. O evento que foi apresentado pelo padrinho da Liz, Dyego, teve música, cartas lidas para as vítimas e uma homenagem com a foto de cada ocupante do voo 2283. 

Familiares se abraçam durante evento de homenagem. Foto: Lucas Padula/Rede Meio

Ao término da cerimônia, que contou com o agradecimento das equipes que atuaram no dia do acidente e durante as investigações, as famílias foram até a Praça do Cristo, onde um Ipê Branco foi plantado, para simbolizar a vida, o renascimento. O local tem um mirante, onde o Cristo olha o céu de Vinhedo, o mesmo que há um ano, às 13h20, foi observado por uma cidade inteira. 

*** As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.
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