Durante velório da pediatra Sônia Maria Santanna Stender, de 61 anos, na tarde desta segunda-feira (17), colegas que preferiram não se identificar denunciaram a falta de segurança no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, subúrbio do Rio, onde a vítima trabalhava. Ela foi assassinada na manhã de domingo (16), logo após deixar o plantão no hospital, e enterrada na tarde desta segunda no Cemitério São João Batista.
"As ameaças são frequentes no Hospital Getúlio Vargas e a culpa disso é do governo. As pessoas entram lá armadas porque não existe revista. Trabalho lá há 15 anos e vejo isso acontecer sempre. Já houve caso de ortopedista levar soco no rosto. Além do caso em que um paciente foi baleado dentro do hospital. Às vezes, ficamos dentro de um centro cirúrgico durante 12 horas para depois o paciente ser morto dentro do hospital", diz um enfermeira que trabalhou durante 15 anos com a vítima.
A enfermeira acredita que a pediatra tenha sido morta por vingança. "Provavelmente foi vingança de algum pai de paciente", afirmou.
Por meio de nota, a Secretaria de estadual de Saúde afirmou que todas as unidades de saúde da rede de estado contam com vigilantes desarmados, câmeras de segurança e exigem a utilização de crachá tanto para funcionários como para visitantes (leia a íntegra da nota no fim desta matéria).
Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, está marcada para a próxima quarta-feira (19), às 17h, uma audiência com a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, para falar sobre a questão de segurança dos profissionais da saúde pública e sobre as investigações do assassinato da pediatra.
Amigo de Sônia há mais de 35 anos, um cirurgião dentista lembrou que profissionais já sofreram com ameaças na unidade e que já houve casos de violência no hospital, mas nunca com morte.
"Há muitos anos um homem entrou no hospital, fez boletim médico e saiu andando pelos corredores. De repente, ele entrou na sala amarela e matou um paciente. Também já teve o caso do médico que foi sequestrado", afirmou o cirurgião dentista, destacando que a pediatra era uma pessoa dócil e que não tinha problemas com pacientes.
Para uma técnica de enfermagem que também trabalha no hospital, não há segurança alguma nos corredores, apenas na emergência.
"Os andares estão abandonados. Não tem policial, só guarda que não anda armado", ressaltou a técnica em enfermagem. "Como uma pediatra perde a vida assim? Quem esperava uma coisa dessa?", questionou ela.
"Na época da guerra no Complexo do Alemão ainda era mais complicado. Nos últimos tempos a gente não estava trabalhando com tanto medo, mas agora, depois disso que aconteceu com a Sônia, é claro que ficamos apreensivos e com medo", acrescentou.
Policiais da Divisão de Homicídio investigam o caso
Policiais da Divisão de Homícidio (DH) continuam as investigações sobre a morte da pediatra. Segundo a polícia, a principal hipótese sobre a causa do crime é latrocínio. Por volta das 10h desta segunda-feira (17), equipes da DH ainda estavam na Rua Conde de Agrolongo, na Penha, Zona Norte do Rio, para identificar testemunhas e localizar imagens que possam ajudar a esclarecer o crime. A médica foi achada com três tiros dentro de seu carro, logo após sair do plantão.
O delegado da DH, Rivaldo Barbosa, vai ouvir parentes da vítima após o enterro. Ele trabalha com a hipótese principal de latrocínio, mas não descarta outros motivos para o assassinato. O delegado inclusive já tomou conhecimento pela imprensa de que Sônia teria sido ameaçada pelo pai de um paciente durante o plantão, mas a informação não consta no inquérito.
O corpo da médica foi velado desde 8h desta segunda na capela 4 do São João Batista. Por volta de 10h50, o ex-marido da médica, Alberto Stender, chegou bastante abalado. Separado há 24 anos de Sônia, ele comentou sobre a morte da mãe dos seus três filhos, duas mulheres e um homem. "É uma perda brusca. Se ela tivesse doente, dava para aceitar melhor a morte", comentou.
Médica tinha acabado de sair do plantão
Segundo as primeiras informações de policiais do 16º BPM (Olaria), a pediatra foi encontrada com marcas de tiros no pescoço e no tórax na manhã de domingo (16). Por volta de 11h30, uma equipe da Divisão de Homicídios, responsável pelas investigações, esteve no local para realizar perícia nos dois veículos. O carro utilizado pelos bandidos havia sido roubado na madrugada deste domingo.
A Secretaria Estadual de Saúde confirmou que a pediatra era servidora estadual aposentada e prestava serviço como funcionária terceirizada no HGV, e que saiu da unidade às 7h deste domingo, após cumprir seu plantão.
Por meio de nota, a Secretaria de Estadual de Saúde afirmou que todas as unidades de saúde da rede de Estado contam com vigilantes desarmados, câmeras de segurança e exigem a utilização de crachá tanto para funcionários como para visitantes.
Leia a íntegra da nota da Secretaria de estado de Saúde
A Secretaria de Estado de Saúde adota uma série de normas para garantir a segurança de profissionais de saúde, pacientes e visitantes, além de proteger o patrimônio material de suas unidades. O uso de crachá de identificação é obrigatório para funcionários e visitantes.
As unidades de saúde da rede estadual contam ainda com segurança patrimonial, feita por vigilantes desarmados, e câmeras de monitoramento 24 horas, localizadas em pontos estratégicos. Nos hospitais de emergência, há ainda policiais responsáveis pelo plantão policial.
Em caso de ocorrência, o vigilante é orientado a recorrer à autoridade policial para as devidas providências, tendo em foco a preservação da vida dos profissionais, pacientes e seus familiares.
A direção do Hospital Estadual Getúlio Vargas informa ainda que não há registro oficial de queixas de funcionários sobre problemas de segurança na unidade.