Foi uma novidade da Polícia Técnica do Rio de Janeiro, o setor de Antropologia Forense, que produziu uma das principais provas que ajudaram na elucidação da morte e desaparecimento de Juan Moraes, 11 anos. O menino foi morto durante ação de policiais do 20º BPM (Mesquita) no bairro Danon, em Nova Iguaçu, em 20 de junho. Dez dias depois do crime, a ossada de Juan foi encontrada em Belford Roxo. Quatro PMs foram presos acusados do crime.
Apesar de a polícia afirmar que o material analisado no setor no Instituto Médico-Legal (IML) é de Juan ? comprovado depois por DNA ? o corpo do menino será exumado a pedido do defensor público Antônio Carlos de Oliveira. Ele quer um novo DNA que será feito por um laboratório em São Paulo conveniado ao órgão, já que um laudo da Polícia Civil atestou, primeiro, que se tratava de ossada feminina.
Criada há oito meses, a Antropologia Forense ? que analisa esqueletos humanos ? detectou o erro. O trabalho permitiu, antes do teste de DNA, que fosse descoberto, por meio de sobreposição de imagens, que os ossos provavelmente eram de Juan.
O exame foi feito basicamente pelo crânio e pélvis. ?Indícios apontavam para ele, mas não eram fortes o suficiente para determinar que se tratava de Juan. Ele não havia entrado na puberdade, por isso as características não ofereciam precisão para a dizer o sexo?, explicou o chefe da Antropologia Forense, o cirurgião-dentista Marcos Paulo Salles Machado.
Investimento vai acelerar processo
A análise da ossada de Juan durou cinco dias devido à repercussão do caso. Mas, em geral, ela dura meses. Para acelerar o processo, a Antropologia Forense aguarda investimentos para o setor, principalmente porque deve passar a analisar as ossadas encontradas no estado.
Enquanto os investimentos não chegam, Marco Paulo conta com a ajuda dos peritos de vários setores do IML. ?Não tenho os melhores recursos, mas com o que eu tenho, consigo fazer o trabalho. O IML é uma casa de ciência. Temos que mobilizar as pessoas para a importância da criação de um novo serviço. Esse exame pode ser realizado com rotina?, disse ele.
Sobreposição
A partir da foto de Juan, divulgada pelo Disque-Denúncia (2253-1177), foi realizada a sobreposição da imagem com o crânio encontrado em Belford Roxo.
Segundo a perícia, marcações e medições em pontos específicos da foto e da ossada permitiram concluir que há perfeita coincidência entre as imagens.
Ossada da vítima estava incompleta
Segundo o laudo da Antropologia Forense, a ossada de Juan chegou incompleta, pois alguns ossos estavam fraturados e as mãos e os pés ainda tinha pele. Junto ao material, foram enviados ainda dois ossos não humanos.
O setor teria condições de atestar com certeza tratar-se da ossada de Juan, através da arcada dentária do menino que foi encontrada. Isso seria possível se houvesse uma foto dele de perfil ou sorrindo. ?Com a sobreposição de imagens, isso é possível porque os dentes projetam externamente as nossas características craniofaciais?, explicou Marcos Paulo.
Exames comparativos com radiografias dos dentes de Juan, se houvesse, também seriam analisadas. Tratamento de canal, obturações e restaurações são características analisadas.
As avaliações dentárias são feitas para a Antropologia Forense pelo serviço de Odontologia Legal. Foi através do exame feito no setor que descobriu-se que a ossada era de uma pessoa entre 10 e 12 anos.