Um casal de homossexuais diz que foi agredido por seguranças do centro de tradições nordestinas, na Zona Norte de São Paulo depois de um show da Ivete Sangalo na madrugada de sábado (11).
Eles acusam os agressores de homofobia. A PM informou que não foi registrada queixa contra os policiais pelas vítimas e que vai apurar o caso.
Caio Tomaz da Rocha tem marcas de agressões em todo corpo. O namorado também - mas preferiu não se identificar. Eles contam que se envolveram numa confusão, porque foram acusados de roubar uma blusa.
“Nós estávamos parados na frente do banheiro, esperando as duas pessoas que estavam com a gente e chegou dois frequentadores dizendo que a blusa que estava na minha mão era deles. Eles viram que a gente estava discutindo por causa da blusa, que o rapaz chegou e falou para a gente que a minha jaqueta era deles, e aí eles já me pegaram, dois seguranças, me pegaram pelo braço, começaram a me enforcar... a única oportunidade que eu tive para falar pra eles, que eu lembro, que foi: ‘Vocês estão me matando... tô ficando sem ar’”, relata.
“Aí ele pegava e falava que eu tinha que morrer mesmo, que... gay e ladrão tinha que morrer. E nisso que me pegaram pelo pescoço, me jogaram no chão, começaram a me chutar... vinham muitos seguranças e me chutavam muito.
”O rapaz diz que as agressões começaram dentro e terminaram fora do local de show. “Lá fora ainda se persistiu por um bom tempo. Eles não se contentavam enquanto não vissem a gente sangrando, eles não iam parar. ““Eles me pegavam e batiam minha cabeça no chão, porque eles queriam que eu ficasse desacordado e não deixaram eu pedir socorro. Eles falavam o tempo todo para mim que gay e ladrão tinha que morrer, que ali não era lugar para gay, era lugar para cabra macho. E teve um momento em que um dos seguranças falou pra uma das meninas que estavam com a gente, que se não tirasse a gente dali, eles iam apagar a gente. Eles falaram que se a gente continuasse ali, eles iam levar a gente de quebrada, iam meter tiro.
” Tanto os dois rapazes espancados quanto os amigos que os acompanhavam afirmam que havia uma viatura da PM dentro do estacionamento do CTN, com dois policiais por perto. Eles dizem que os policiais viram parte das agressões, mas nada fizeram.
“A viatura da polícia estava dentro do local, no estacionamento da casa, eles viram toda a agressão, não viram desde o início, mas viram a hora que a gente estava ali fora, só que eles negaram ajuda. Disseram que eles não podiam fazer nada, eles não podiam sair dali, que era pra gente ligar no 190”, relata Rocha.
Caio foi levado pela irmã a um hospital de Santo André. Ele aguarda o resultado de uma tomografia e reclama de dores na cabeça.
“Os meus planos agora não é mais ficar no Brasil. Só que antes de partir, eu vou querer fazer que eles paguem o que fizeram comigo, porque hoje fui eu, amanhã é mais um e isso não pode ficar assim.”O casal já registrou um boletim de ocorrência.O Centro de Tradições Nordestinas disse, em nota, que não foi acionado pela vítima e que não recebeu qualquer notificação oficial, mas se coloca à disposição para apurar o que aconteceu na madrugada de sexta para sábado.Reforçou, ainda, que repudia qualquer tipo de discriminação.
Em nota, a PM diz que o delegado Irai Santos de Paula, titular do 40º DP, informa que instaurou inquérito policial para investigar o caso. Ele chamou o responsável pela segurança da casa de shows para prestar esclarecimentos e identificar os autores da agressão. As vítimas também serão chamadas.