O empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, negou nesta quinta-feira (25/09) que suas empresas tenham ligação com descontos irregulares em aposentadorias e pensões. Durante depoimento à CPI do INSS, ele declarou que uma de suas empresas prestou serviços a associações investigadas por fraudes na Previdência, mas rejeitou qualquer responsabilidade por descontos indevidos.
Preso pela Polícia Federal (PF) no último dia 12, Antunes é apontado como facilitador de um esquema que desviou recursos de aposentados e pensionistas. Segundo as investigações, empresas ligadas a ele teriam atuado como intermediárias financeiras de associações envolvidas na fraude.
“Minha empresa sempre prestou serviço a associações, tendo como destinatário final o aposentado associado, mas sem ter qualquer ingerência ou responsabilidade sobre descontos incidentes em seus benefícios previdenciários”, disse o empresário.
Associações no alvo das acusações
O “Careca do INSS” sustentou que os descontos eram realizados diretamente pelas associações. “A responsabilidade a ser apurada recai sobre as associações que eventualmente promoveram a inclusão dessas pessoas em seus quadros associativos e sem a devida anuência. Jamais sobre a minha empresa, que se limitava à prestação de serviços contratados por tais entidades”, declarou.
Antunes afirmou ainda que nunca foi “responsável pelo recrutamento de associados” e que não exerceu “qualquer ingerência sobre inserção de dados no sistema do INSS”. Segundo ele, existem provas de que sua empresa prestou serviços a aposentados e pensionistas que se associaram voluntariamente a entidades parceiras.
Ele citou que apresentará documentos indicando emissão de apólices de seguros, clube de benefícios e plataforma de cursos como parte das atividades realizadas.
Investigações da PF
A Polícia Federal aponta que associações e entidades desviaram recursos de beneficiários da Previdência a partir de cobranças mensais não autorizadas, os chamados “descontos associativos”. Essas entidades não tinham capacidade operacional para oferecer os benefícios prometidos e utilizaram cadastros forjados para validar os descontos.
O empresário rebateu as acusações, afirmando que elas têm o intuito de difamá-lo e deturpar a realidade dos fatos.
“Toda minha prosperidade é fruto de trabalho honesto e dedicado. Nunca possuí patrimônio oriundo de roubo ou de qualquer prática ilícita. Tampouco ocultei bens no Brasil ou no exterior”, declarou.
Sessão marcada por tensão e suspensão
Durante a oitiva, Antunes se recusou a responder às perguntas do relator da CPI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), permanecendo em silêncio. Ele justificou a postura afirmando que, em depoimentos anteriores, o relator “já condenou e me julgou sem me ouvir”.
Gaspar iniciou sua intervenção afirmando que a comissão estava diante do autor do maior roubo aos aposentados. A fala gerou reação imediata do advogado de defesa, Cleber Lopes, e foi rebatida pelo deputado Zé Trovão (PL-SC).
Com os ânimos exaltados, o vice-presidente da CPI, deputado Duarte Jr. (PSB-MA), decidiu suspender temporariamente a sessão. O depoimento de Antunes era um dos mais aguardados pela comissão, já que ele foi um dos primeiros convocados. Logo no início, o empresário declarou que o apelido “Careca do INSS” era apenas um personagem e não refletia sua identidade real.
Prisão e movimentações financeiras
Antunes foi preso preventivamente em 12 de setembro, por ordem judicial expedida pelo ministro Alexandre de Moraes. Na mesma operação, a PF também prendeu o empresário Maurício Camisotti e cumpriu mandados de busca em endereços ligados ao advogado Nelson Wilians.
Segundo a PF, empresas de Antunes recebiam dinheiro das entidades e repassavam os valores a pessoas ligadas às associações ou a servidores do INSS. As investigações apontam que homem recebeu R$ 53 milhões de associações de aposentados e pensionistas. Desse montante, mais de R$ 9 milhões teriam sido transferidos a pessoas vinculadas ao instituto.
“A investigação identificou que Antônio Camilo é um dos principais mentores das fraudes, junto com Maurício Camisotti, ambos com influência política e capacidade de movimentações financeiras vultosas, fato que acentua a gravidade e reprovabilidade jurídica de sua atuação, possibilitando facilmente sua continuidade criminosa em prejuízo da sociedade”, escreveu a PF em relatório encaminhado ao STF.