O Cabo Bruno já morreu. O que resta agora é o cidadão Florisvaldo de Oliveira, um homem que sabe que errou, que pagou pelos seus erros e que deseja recomeçar a vida.
Um homem que, também, foi preso e condenado por vários crimes em um momento delicado da história política do país, quando havia grande insatisfação contra militares, então de saída do poder.
Isso é, em síntese, o que pensam o advogado do ex-policial militar, Fábio Tondati Ferreira Jorge, e a sua mulher, Dayse da Silva Oliveira.
Para o advogado, a decisão de soltar o ex-policial está "completamente dentro da lei". "Era uma decisão esperada, ainda que tardia."
Segundo ele, Bruno era "outra pessoa" no momento da prisão, em 1983 -quando os crimes atribuídos a ele tiveram grande repercussão.
"Na época, ele estava empolgado com a situação. A Polícia Militar também era outra", afirma. "É como ele diz: o cabo Bruno morreu há anos. O que restou é o Florisvaldo."
Jorge diz que o ex-policial "tem consciência de que cometeu algum crime", mas afirma que também foi vítima do momento político.
A prisão deu no final da ditadura militar (1964-84), quando o país experimentava um movimento crescente por democracia e Justiça liderado por estudantes, sindicatos e partidos políticos.
"Quando o grupo de jurados era de empresários e pessoas mais velhas, ele era absolvido. Era tido como justiceiro. Quando era de estudantes e jovens, saía a condenação. Era a época de transição, em que os estudantes queriam acabar de vez com o militarismo no país", disse.
Jorge afirmou que, com a saída da prisão, cabo Bruno teme represálias. "É lógico que ele tem algum receio [de que algo aconteça com ele devido aos crimes]. Mas é evangélico e acredita que essa situação é passado. Ele cometeu um erro e pagou", disse.
No entanto, o ex-PM nunca fez questão de se desvincular do apelido de Cabo Bruno -era por esse nome que ele era chamado pelos presidiários.
Segunda chance
Moradora de Taubaté, pastora da Igreja Refúgio em Cristo e cantora gospel, a carioca Dayse, 45, é casada com Bruno há quatro anos. Ela o conheceu há sete, durante trabalho voluntário de evangelização na penitenciária.
Questionada sobre as mais de 50 mortes atribuídas ao marido, disse: "A gente sabe que nem cem anos pagariam o erro que ele cometeu. Deus e a Justiça estão dando outra chance a ele e a gente espera que a sociedade também dê."
A Folha tentou ouvir Bruno, mas seu advogado disse que ele estava negociando uma entrevista por R$ 50 mil.