O advogado do PM William de Paula, Maurício Neville, informou nesta segunta-feira (12) que vai recorrer da decisão da Polícia Militar que expulsou o cabo da corporação. Neville acredita que a polícia foi influenciada pelas declarações do governador Sérgio Cabral, que criticou a absolvição do PM, pelo assassinato do menino João Roberto. O advogado disse que vai entrar com uma ação declaratória de nulidade absoluta de ato administrativo.
O outro PM que também esteve envolvido no episódio, o soldado Elias Gonçalves, também foi expulso da corporação. Ele ainda vai se julgado pelo caso. A Polícia Militar informou em nota que os militares foram submetidos a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), que observou minuciosamente a atuação de ambos na ocorrência que culminou na morte de João Roberto, concluindo que os dois não estão mais capazes de exercer a função de policial militar.
O menino João Roberto, na época com 3 anos, foi morto após o carro em que estava com a mãe e o irmão ser atingido por 17 tiros, em julho de 2008, na Tijuca, Zona Norte do Rio, durante uma perseguição policial.
?Na minha opinião, foi um abuso de autoridade. A polícia ficou com medo das declarações do governador Sérgio Cabral, que criticou a absolvição do William e resolveu expulsá-lo da corporação. Vou entrar com o recurso nesta segunda-feira? argumentou o advogado de William de Paula.
No dia 10 de dezembro, William de Paula foi inocentado da acusação de homicídio culposo e condenado por lesão corporal. Em depoimento, disse que o caso foi uma fatalidade e que foi levado ao erro.
A morte de João Roberto, segundo William de Paula
O policial contou que no dia 6 de julho estava na área do Grajaú e Morro dos Macacos, na Zona Norte, quando ouviu um chamado pelo rádio, pedindo reforço nas proximidades da Rua José Higino. Ao chegar, junto com o soldado Elias, que dirigia o carro, ele viu um carro Fiat Stilo preto ultrapassando um sinal de trânsito na Rua Uruguai, e decidiram segui-lo.
De acordo com o PM, os suspeitos atiraram contra o carro da polícia e eles revidaram, dando início ao tiroteio. A perseguição seguiu pela Rua General Espírito Santo Cardoso onde, segundo o cabo, o fuzil falhou. Por isso, eles diminuíram a velocidade.
Ao trocar o carregador da arma, ele viu um carro parado. Willian disse que saiu do carro e efetuou um disparo de advertência, que atingiu um carro parado na rua. Segundo ele, um segundo disparo foi feito na direção do pneu.
O cabo admitiu que durante a troca de tiros é possível que o carro da Alessandra Soares (mãe de João Roberto) tenha sido atingido. Mas ressalta que só efetuou dois disparos, porque achou que fosse o veículo dos suspeitos.
Versão da mãe
A mãe do menino João Roberto, Alessandra Soares, negou no depoimento que tenha ocorrido perseguição.
Ela contou que apenas escutou disparos quando se abaixou dentro do carro depois de ter dado passagem à viatura da polícia, na ocasião do crime. Após a cena, ela percebeu que era o alvo dos agentes.
Abordagem não foi correta, diz PM
O tenente-coronel Rogério Leitão, Relações Públicas da Polícia Militar disse que pelo manual da Corporação a abordagem dos policiais ao carro suspeito não foi correta. Os PMs não deveriam ter efetuado disparos de arma de fogo em um alvo desconhecido, já que não havia identificação de quem estava no veiculo.
Antes do depoimento foi exibido um vídeo da câmara de segurança de um prédio da rua, que mostra os PMs atirando no carro de Alessandra.