“Entraram na onda” de mentiras de adolescente, diz Bruno

A juíza Marixa Fabiane questionou o jogador se ele pretendia falar a verdade sobre o caso.

Bruno presta depoimento à Justiça. | Futura Press
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O goleiro Bruno de Souza afirmou na manhã desta quinta-feira, em depoimento à juíza Marixa Fabiane, do Tribunal do Júri de Contagem (MG), que não respondeu aos questionamentos dos delegados responsáveis pelo caso do sumiço de Eliza Samudio porque as investigações são baseadas em mentiras contadas por seu primo adolescente. "Eles (delegados) entraram na onda do que o J. falou. Queriam que eu inventasse uma história em cima do que ele falou", disse.

Questionado se o delegado Edson Moreira o teria torturado durante as investigações, o goleiro negou que tenha sido agredido, mas afirmou sentir-se ameaçado pelas palavras do policial.

A juíza Marixa Fabiane questionou o jogador se ele pretendia falar a verdade sobre o caso. "Quaresma disse que o senhor (Bruno) ficaria preso uma semana. Depois, o Quaresma disse que nenhum cliente dele ficaria preso mais que 100 dias. O senhor está preso há mais de 120 dias. O senhor sabe que estão presos alguns amigos de infância, sua ex-mulher, sua ex-namorada. O senhor está disposto a declarar as verdades dos fatos?", perguntou. "Somente a verdade, excelência", respondeu o goleiro. "Foi você quem salvou a vida do Bruninho (filho de Eliza)?", questionou a juíza. "Em momento algum a vida do Bruninho ou da Eliza esteve em perigo, pois eles estavam sob os meus cuidados", disse Bruno.

Em seu depoimento, Bruno deu detalhes sobre a viagem de seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e Eliza do Rio de Janeiro a Minas Gerais. "No dia 4 de junho, o Macarrão pegou o carro dele no Hotel Windsor, onde estava concentrado, para resolver um problema. No outro dia, um sábado, Macarrão voltou e falou que iria levar a Eliza para Minas Gerais", disse o jogador.

Ainda segundo Bruno, após perguntar a Macarrão o motivo da viagem, o amigo disse que depois responderia. "Eu falei "tudo bem", mas fiquei pensando muito naquilo. Achei estranho, tanto que não me concentrei direito e por isso fui mal no jogo entre o Flamengo e o Goiás, no dia 5", disse.

Ao responder à juíza sobre seus dados pessoais, Bruno disse ter "duas filhas e possivelmente um outro filho". Questionado sobre quem seria o possível filho, o atleta respondeu: "o Bruninho".

Antes do depoimento, o advogado de Bruno, Ércio Quaresma, informou que o jogador responderia apenas às perguntas da juíza, negando-se a prestar esclarecimentos ao Ministério Público, aos assistentes de acusação e aos advogados de sua mulher, Dayanne de Souza, e seu primo, Sérgio Rosa Sales, o Camelo.

Quaresma afirmou que não permitiu que Bruno respondesse às perguntas porque os advogados de Dayanne e Sérgio não deixaram que seus clientes respondessem a suas perguntas.

O caso

Eliza desapareceu no dia 4 de junho, quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano passado, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.

No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas dizendo que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, de 4 meses, estava lá. A atual mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.

No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.

No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno responderá como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação da atual amante do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.

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