"As coisas começaram a piorar. Ele pediu para eu tirar a blusa, depois o sutiã. Depois ele começou a me tocar. Não sei como aceitei, mas eu aceitei", relata a brasileira Marina Lacerda sobre os abusos que sofreu do bilionário Jeffrey Epstein em 2002, quando tinha apenas 14 anos.
Aos 37 anos, Marina, que se tornou uma das testemunhas-chave do caso, conversou na última quinta-feira (25) com a repórter Carolina Cimenti, da TV Globo, em Nova York. Ela detalhou o primeiro contato com o criminoso.
Segundo a brasileira, Epstein a convidou para fazer uma massagem com uma amiga na mansão do empresário. Na época, ela procurava emprego para ajudar a sustentar a família, que havia se mudado para Nova York.
Ela conta que, na sala de massagem, ele pediu que a amiga tirasse a blusa, ficando apenas de sutiã. Pressionada pela situação, Marina acabou fazendo o mesmo. "Fiquei com vergonha de falar 'não', não sabia como sair daquela situação. Uma pessoa que parecia ser superpoderosa", desabafou.
Os abusos de Epstein duraram três anos, até que o criminoso perdeu o interesse na brasileira, alegando que ela estava "velha demais".
A história de Marina veio à tona no início de setembro, quando ela se juntou a outras vítimas para pedir a aprovação de uma lei que obrigue a divulgação de todos os documentos da investigação.
Entenda o caso Epstein
- Jeffrey Epstein, um bilionário americano, foi acusado de aliciar dezenas de meninas menores de idade para encontros sexuais em suas mansões, entre 2002 e 2005.
- Em 2008, o bilionário firmou um acordo com a Justiça para se declarar culpado. No entanto, o caso voltou à tona em 2019, quando o acordo foi considerado inválido, levando à prisão de Epstein por tráfico sexual.
- O bilionário foi encontrado morto na prisão dias após ser preso. A perícia concluiu que ele tirou a própria vida.
- Epstein tinha laços com figuras influentes, como políticos e empresários, incluindo o ex-presidente Donald Trump. A ligação entre eles se tornou um ponto sensível para o governo dos EUA após o nome de Trump aparecer em documentos do caso. Trump nega qualquer envolvimento e afirma que rompeu a relação com Epstein em 2004.
- De acordo com a TV americana ABC News, Marina Lacerda forneceu "evidências essenciais" que ajudaram os promotores a acusar e condenar o empresário.
Histórico de violência sexual
Marina revela que já havia enfrentado outras situações de violência sexual antes de conhecer Epstein, tendo sido abusada pelo padrasto aos 12 anos. "Quando você já é abusada sexualmente, você perde a noção. Naquele tempo, eu perdi a sensibilidade do que é certo e errado em termos de sexo e abuso, porque o que eu já tinha passado com meu padrasto, não tem pior."
Morando em Nova York com a mãe e a irmã e trabalhando em três empregos para sustentar a família, a oportunidade de conhecer Epstein foi apresentada a Marina como uma proposta de trabalho, o que a levou a uma situação de extrema vulnerabilidade.