Bombeiro dá voz de prisão à médica e diz que ela se recusou atender mulher

Vítima tinha 57 anos e tinha suspeita de infarto, afirmam militares do DF

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A Polícia Civil do Distrito Federal investiga a denúncia de omissão de socorro feita contra uma médica do Hospital Regional de Ceilândia que teria se recusado a atender uma mulher com suspeita de infarto, transportada pelo Corpo de Bombeiros no final da tarde deste sábado (26), alegando que havia poucos profissionais na unidade de saúde. A paciente tinha 57 anos e morreu no local. A Secretaria de Saúde disse que vai apurar os fatos paralelamente. A profissional já responde a um processo na corregedoria da pasta por, em abril deste ano, ter gritado com pessoas em um corredor dizendo que estava sozinha e não atenderia mais ninguém que chegasse à emergência.

Responsável por buscar a paciente em casa, o sargento Alan Lins afirma que a mulher entrou em parada cardiorrespiratória ainda dentro da viatura. Os procedimentos de reanimação ? massagem cardíaca e ventilação ? começaram durante o trajeto. O homem diz que solicitou à central para comunicar que transportariam uma vítima em estado grave até o hospital de Ceilândia, mas que recebeu resposta de que ninguém atendia na unidade de saúde.

Ainda segundo Lins, uma equipe do Samu ajudou os bombeiros a transportar a paciente até a sala vermelha e a continuar os socorros. ?Aí a médica chegou e me questionou porque levei a mulher para lá, se eu não sabia das restrições do hospital. Falei que não sabia, que não tínhamos conseguido o contato, mas que paciente grave nós sempre levamos para a unidade mais próxima, independentemente da situação do hospital. Ela disse que não tinha mais médicos.?

O sargento e a médica teriam começado a bater boca a respeito da comunicação ou não de uma orientação que proibisse o transporte dos pacientes até o local. Lins diz que a mulher ainda teria procurado a chefia da emergência para confirmar se os bombeiros tinham consciência da situação do hospital. De acordo com a escala de servidores da secretaria, pelo menos mais uma profissional deveria estar prestando atendimento no local no mesmo horário. Não há informações se ela estava ou não lá. A pasta disse que vai encaminhar o caso para o Conselho Regional de Medicina.

Lins afirma que foi expulso ?aos berros? pela médica da sala vermelha e que cerca de 20 minutos depois soube que a paciente morreu. O homem deu voz de prisão à profissional e a levou até a 23ª Delegacia de Polícia. Lá, todos prestaram depoimento e foram liberados após o registro da ocorrência.

?Fiquei desapontado [com a postura dela]. Estávamos ali para atender uma vida, tanto ela como médica quanto nós como bombeiros. Independentemente de ter ou não repasso restrição, ela se dispôs a discutir comigo, então poderia ter atendido a paciente. É lamentável, estamos na rua para salvar vidas. Poderíamos ter trabalhado juntos, mesmo que se ela não se salvasse, mas a gente tentaria. A vida ficou em segundo plano por causa de uma picuinha. É lamentável?, declarou o sargento.

A Polícia Civil informou que tem 30 dias para fazer a investigação. As testemunhas e familiares da paciente serão ouvidos neste período. Além disso, a corporação vai ter acesso ao laudo com as causas da morte. A médica pode responder por omissão de socorro, com o agravante de homicídio culposo.

Outro caso

Um vídeo feito por uma leitora no Hospital Regional de Ceilândia mostra a médica gritando com uma pessoa no corredor da instituição, depois de um bate-boca com a acompanhante de uma paciente. Na gravação, é possível ver que o local está cheio.

A médica aparece na porta da sala gritando: "Vão trabalhar. Vai arrumar uma trouxa de roupa para lavar. Não tem o que fazer não? Vai arrumar uma trouxa de roupa para lavar. Deixa os outros trabalhar." Já dentro do consultório, ela continua exaltada e diz: "Se me agredir, eu agrido. Eu não estou aqui para apanhar."

A leitora que fez a gravação não quis se identificar. Ela disse que a briga entre a médica e a acompanhante começou porque a servidora disse que não iria atender mais ninguém que chegasse à emergência.

"Eu resolvi filmar porque ela começou a dizer que ia bater na moça e chamar a moça para fora do hospital para elas brigarem", disse. "Eu acho um absurdo uma coisa dessas na saúde pública."

A médica, que não quis gravar entrevista, disse à TV Globo que ficou nervosa durante o plantão porque era a única servidora no hospital e que tinha recebido uma ameaça de agressão por uma paciente insatisfeita com o atendimento.

O presidente do Sindicato dos Médicos do DF, Gutemberg Fialho, disse que lamenta o episódio e atribuiu o comportamento da médica à sobrecarga de trabalho. Segundo Fialho, há um déficit de três mil profissionais na rede pública.

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