No depoimento que prestou à juíza Marixa Fabiane Lopes, no Tribunal do Júri de Contagm (MG), o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, afirmou que ele e o delegado Edson Moreira, responsável pelas investigações do desaparecimento de Eliza Samudio, são inimigos há anos. Segundo Bola, a desavença começou na época em que ele era aluno de Moreira na academia de polícia.
"Ele falava que trabalhava na Rota quando foi policial em São Paulo. Eu dizia que ele era da cavalaria (da PM de SP)", afirmou. Segundo Bola, durante uma atividade na Acadepol, Moreira o teria questionado sobre uma farda que ele usava. A partir daí, os dois passaram a ser inimigos.
Bola disse para a juíza que foi levado para Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção a Pessoa (DIHPP) quatro vezes durante a apuração do inquérito da morte de Eliza. Em uma das vezes, Edson Moreira teria feito uma proposta para ele. "Ele pediu R$ 2 milhões para eu e o Bruno sermos soltos. Os outros réus seriam incriminados mediante esse pagamento. Ele pediu para eu pedir ao patrão", disse, referindo-se a Bruno.
"Em outra vez, o delegado chegou com Bruno e Macarrão em uma sala onde eu estava e falou para o Bruno: "Olha o seu segurança aí". Eu nunca tinha ouvido falar em Bruno ou Macarrão, fiquei conhecendo pela imprensa", contou. Bola disse ainda que Edson Moreira - que ele chama de "anjo mau" - teria ameaçado colocá-lo no pau-de-arara caso ele não colaborasse com a polícia.
Bola chorou desesperadamente por duas vezes durante o depoimento: uma quando relatou as ameaças que a família teria sofrido e outra quando perguntado sobre os cachorros que tinha.
Segundo Bola, Moreira o torturou psicologicamente durante os interrogatórios sobre o caso. O ex-policial, que se recusa a responder às perguntas da juíza, diz que Moreira teria ameaçado de morte a família dele por pelo menos duas vezes. "A toda hora ele me ameaçava dizendo que queria pelo menos a perna da moça, porque a carreira dele estava em jogo", disse.
O ex-policial afirma que o alvo das ameaças era principalmente uma filha dele que mora em São Paulo. "Ele (Moreira) chegou no meu rosto e falou que não tinha medo de mim. Perguntou há quantos meses eu não via minha filha. Eu respondi quatro. Ele perguntou: "Você já pensou ver sua filha retalhada igual o que você fez com Eliza Samudio?", relatou.
Durante o depoimento, Bola disse que no dia 10 de junho, data da suposta execução de Eliza Samudio, ele estava em uma faculdade da região da Pampulha, onde faria um curso à distância.
Depoimento de Macarrão
Na manhã desta sexta-feira, a juíza Marixa Fabiane, do Tribunal do Júri de Contagem, chegou a determinar que Macarrão retornasse ao Fórum para prestar depoimento. Mas, a magistrada voltou atrás após a insistência do advogado Ercio Quaresma, que defende o acusado, de que Macarrão não falaria se ela não convocasse os delegados que participaram das investigações.