Em uma estrada que liga São Paulo ao Nordeste e em outra que liga Vitória a Belo Horizonte há uma triste estatística em comum: 53% dos acidentes fatais que aconteceram na BR-101 e na BR-262, ano passado, envolviam caminhões. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, um em cada três motoristas de caminhão bebe ou usa drogas em pleno trabalho.
Ao todo, 53% dos acidentes no Espírito Santo envolvem caminhoneiros. Entre as substâncias que alguns deles usam para evitar o sono ao volante estão as anfetaminas, a cocaína e até mesmo o crack.
"Tem muita droga neste meio. Se você sair com qualquer caminhoneiro você encontra cocaína, maconha, crack. Hoje, para vários, não são todos, é a coisa mais simples, fácil", conta o caminhoneiro Cláudio Luiz Dorneles Freitas.
Durante o ano passado, a Polícia Rodoviária Federal do Espírito Santo parou caminhoneiros na estrada e pediu para que eles fizessem exames de urina. O resultado foi alarmante - um em cada três motoristas dirigia naquele momento sob o efeito de drogas, como maconha e cocaína.
"Quem usa a droga está em busca de dinheiro. Tem que acelerar para ganhar dinheiro, quanto mais trabalha mais ganha, né?", diz um caminhoneiro.
Drogas estimulantes são as mais usadas, entre elas a anfetamina - que na estrada é conhecida como rebite.
"É um estimulante, em qualquer farmácia arruma para comprar", afirma o caminhoneiro José Adriane Gambá.
Na BR-101, principal ligação entre São Paulo e o Nordeste do país, a reportagem flagrou a venda fácil. "Rebite é bom. No caso, para quem não está acostumado é preferível tomar dois logo, para quem não é acostumado faz muito efeito", aconselha o balconista.
Seu José leva 36 toneladas em uma carreta com 18 metros. Nesta viagem, não usou estimulantes, mas não descarta a possibilidade: "É uma realidade, se eu disser que não, que eu não tomo eu vou estar mentindo para todo mundo escutar. Se precisar, eu tomo. Aquele que sabe se drogar sabe a hora de parar", diz.
Outro caminhoneiro, João Marinaldo Rigo, conta que em 30 anos de profissão usou a droga várias vezes: "Eu já fiz de Recife a São Paulo direto, só na base do rebite, mas prejudicava muito a saúde. O efeito do remédio vai vencendo, já começa a pegar no sono, você dorme rapidinho, você não vê você dormir, é muito rápido".
"São substâncias que agem no organismo, ilusoriamente dão a sensação de que você vai ficar acordado. Quando o sono vem, ele realmente vem pesado, o caminhoneiro corre o risco de literalmente dormir no volante", comenta Edmar Camata, da Polícia Rodoviária Federal (ES).
A pesquisa da Polícia Rodoviária feita com 732 caminhoneiros também revelou que a saúde deles está à beira de um colapso: 55% têm pressão alta; 53% estão com taxa alta de triglicérides, um tipo de gordura que existe no sangue; e 70% estão acima do peso. "Eu devo pesar uns 138 quilos", diz o caminhoneiro Wellington de Souza.
"O objetivo não é criminalizar a cond