A bebê que nasceu após a mãe tomar um tiro do policial militar Gilson de Souza no Jaçanã, na Zona Norte de São Paulo, morreu na madrugada desta quinta-feira (26). A recém-nascida de quatro dias recebeu o nome da avó Jurema Cristiane Bezerra da Silva, que foi morta pelo policial no domingo (22).
Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, por meio de sua assessoria de imprensa, a menina, que havia nascido com 1,4 kg, morreu por volta das 2h no Hospital São Luiz Gonzaga e a razão da morte não foi divulgada. A mãe da bebê e nora de Jurema, Gabriela Rocha, que estava grávida de seis meses e levou um tiro do policial na barriga, segue internada, mas passa bem.
O crime ocorreu na noite de domingo. O policial e um filho de Jurema discutiram na rua. A mulher saiu para verificar o que ocorria e resolveu filmar a briga pelo celular. O policial militar, então, atirou três vezes na direção da vizinha. Jurema foi baleada no peito e morreu antes de chegar ao hospital. Um dos disparos atingiu o celular dela.
O cabo feriu ainda o irmão da vizinha, um adolescente de 17 anos, e a nora dela, Gabriela. Ele, que estava de folga, fugiu, mas se apresentou à uma delegacia, onde confessou a discussão e os disparos. Preso em flagrante, foi levado ao presídio da Polícia Militar, o Romão Gomes.
Ameaças
Mais de um ano antes de matar a vizinha, balear uma grávida e um adolescente, o policial militar, ameaçou cometer uma chacina com a família das vítimas, segundo boletim de ocorrência da Polícia Civil de São Paulo.
À época, o cabo também apontou uma arma para a mulher que acabou morta a tiros por ele nesta semana na Zona Norte da capital.
A desavença entre Gilson e a família de Jurema, que se conheciam desde a infância, começou depois que uma irmã do PM invadiu uma residência da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), também na Zona Norte. A casa, no entanto, deveria ter sido entregue pela CDHU a uma sobrinha de Jurema, que tem um filho com necessidades especiais. Depois disso a vizinha começou a ser alvo de ameaças.
A ameaça de uma "chacina" foi relatada pelo vendedor Luiz Carlos Bezerra da Silva, 34. Ele é irmão de Jurema, e deu a declaração em 1º de dezembro de 2013 - cinco dias após o PM impedir reintegração de posse da casa da CDHU.
“O autor ainda ameaçou dizendo 'que se caso a Justiça der direito a familiares da vítima em ficar com o imóvel, ele iria realizar uma chacina e sumiria, não iriam ter paz'”, informa o registro de ameaça relatado por Luiz no fim de 2013 no 73º Distrito Policial, no Jaçanã. O G1 não conseguiu localizar a defesa de Gilson para comentar o assunto.