O universitário Alex Kosloff Siwek, que atropelou um ciclista e decepou o braço da vítima na Avenida Paulista no domingo (10), recebeu ameaças de morte pela internet. Preso em São Paulo desde o dia do acidente, ele foi xingado em comentários no seu perfil falso no Facebook.
Fotos do motorista de 21 anos são publicadas com agressões verbais de internautas, incitando o ódio e até a perseguição à sua família. Os pais do estudante de psicologia já teriam sido ameaçados por meio de telefonemas anônimos.
Nesta sexta-feira (15), o lavador de janelas David Santos Sousa, também de 21 anos e vítima do atropelador, gravou um vídeo exclusivo para o SPTV. Nele, revelou que quer perdoar Siwek e deseja que outras pessoas não sofram a mesma violência.
Logo após o acidente, Siwek fugiu sem prestar socorro ao ciclista e ainda jogou o membro num córrego. Depois, se apresentou à Polícia Civil. Confirmou ter bebido e dirigido e acabou preso preventivamente até um eventual julgamento. A defesa dele, no entanto, iria entrar com um pedido na Justiça para que o jovem responda ao crime solto. Ele foi indiciado por tentativa de homicídio.
Siwek, que estava no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na Zona Oeste, foi levado nesta sexta-feira para a penitenciária de Tremembé, no interior paulista. Segundo a Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), o motorista foi levado para lá a fim de preservar sua integridade física. O presídio recebe todos os envolvidos em casos de grande repercussão..
Nos comentários no perfil falso, um homem pede para os internautas xingarem Siwek no que seria a sua página verdadeira no Facebook. Para isso, disponibilizou até o link dela. Ao clicar aparece o perfil de um homem de óculos escuros, com nome parecido com o do motorista. Não é possível saber, porém, se o perfil pertence mesmo ao universitário.
Já a página falsa de Siwek foi criada no dia seguinte ao atropelamento. O responsável por ela não é citado. Consta o nome completo do estudante e imagens suas na delegacia e perto do córrego, indicando onde jogou o braço de Sousa. Também há fotos do lavador e da sua bicicleta destruída pelo Honda Fit do motorista.
?Sociedade!! Aqui está a cara do Alex Siwek, de 22 anos, que atropelou o ciclista David Santos de Souza, de 21 anos, na Avenida Paulista?, informa o texto de apresentação da página falsa do estudante.
Há uma menção ainda ao atropelamento. ?O motorista fugiu do local, deixou o amigo em casa e depois foi à Avenida Ricardo Jafet, de onde lançou o braço amputado da vítima em um córrego. Depois, voltou à própria casa, guardou o carro na garagem e dirigiu-se a pé à unidade policial para se entregar.?
A equipe de reportagem não conseguiu localizar a defesa de Siwek para comentar as ameaças na web e quais procedimentos ela adotaria. Pela manhã, o advogado Cássio Paoletti havia denunciado ameaças sofridas pelos pais do jovem. ?São ligações. Eles sequer saem de casa?, disse o defensor.
Mandado de segurança
Na quinta-feira (14), o Ministério Público de São Paulo impetrou um mandado de segurança no Tribunal de Justiça para que Siwek seja responsabilizado por crime doloso contra a vida, e não culposo.
A promotora Manoella Guz contesta a decisão do juiz Alberto Anderson Filho. O magistrado do Tribunal do Júri entendeu que o universitário cometeu uma lesão corporal contra Sousa e não teve a intenção de matá-lo. Por esse motivo, o inquérito da Polícia Civil sobre o acidente foi remetido ao Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária (Dipo) para ser distribuído a uma das varas criminais para um juiz competente. Até esta sexta-feira, o inquérito ainda não havia sido distribuído.
No Tribunal do Júri, são julgados crimes intencionais contra a vida. Na Justiça comum, são julgados crimes nos quais não há a intenção de matar. Num eventual julgamento, por exemplo, o acusado de tentativa de homicídio é julgado por um júri popular e, se condenado, recebe pena mínima de seis anos de prisão. Na vara criminal, quem responde por lesão corporal é julgado por um juiz, e a punição não supera três anos, ou seja, a condenação é convertida em multa e prestação de serviços comunitários.
Até a publicação desta reportagem, o desembargador relator Breno Guimarães, da 12ª Câmara Criminal do TJ, não havia julgado o recurso da Promotoria.
Prisão
Siwek está preso desde domingo, quando se apresentou à Polícia Militar e foi levado ao 78º Distrito Policial, nos Jardins. Lá, o estudante de psicologia foi indiciado por tentativa de homicídio, fuga do local do acidente e embriaguez ao volante. A investigação, no entanto, é feita pelo 5º DP, na Aclimação.
Imagens de uma câmera de segurança mostram que o universitário chegou, por volta da 1h30 de domingo passado, a uma casa noturna no Itaim Bibi, na Zona Sul. No vídeo, ele espera na fila para entrar e pega uma comanda. Quatro horas depois, está registrado o pagamento de três doses de vodca e um energético. Por volta das 5h30 ele sai, atravessa a rua e vai embora.
No último domingo, Paoletti disse que o estudante ficou atordoado na hora do acidente e, em um primeiro momento, não viu o braço no carro. Em choque, ainda de acordo com advogado, ele acabou jogando o braço em um córrego na Avenida Ricardo Jafet, na Zona Sul.
Na terça-feira (12), o ciclista disse à polícia que trafegava na contramão da ciclofaixa no momento do acidente. Ele buscou a ciclofaixa, que já estava separada da pista dos veículos por cones, por se sentir mais seguro. A vítima relatou que foi atingida de frente pelo veículo do universitário e que chegou a ver o carro vindo em sua direção, em alta velocidade.
Testemunhas disseram que o carro andava em ziguezague e já tinha derrubado alguns cones colocados na Avenida Paulista para sinalizar a instalação da ciclofaixa.
A delegada Priscilla Rodrigues iria pedir explicações à Polícia Técnico-Científica para esclarecer por que não consta que o motorista estava embriagado no documento de dosagem alcoólica. Até esta sexta-feira, não havia informação se o Instituto Médico Legal (IML) havia respondido o questionamento.
Protesto
Neste sábado (16), um braço de plástico e cartazes foram afixados em um poste da Avenida Paulista para protestar contra o universitário Alex Siwek.