Na tentativa de conter a onda de ataques que aterrorizam a população do Rio, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro autorizou, na noite de terça-feira, a transferência de oito traficantes para um presídio federal, a pedido do secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame. Eles serão levados para a penitenciária de segurança máxima de Porto Velho, em Rondônia.
De acordo com informações do setor de inteligência da Secretaria de Segurança, os traficantes estariam diretamente ligados aos atos de violência ocorridos na Região Metropolitana do Rio nos últimos dias. Outros quatro bandidos que também tiveram a transferência pedida por Beltrame serão mantidos nas unidades prisionais do estado.
O secretário admitiu que os ataques podem ser um protesto contra a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), mas avisou que não vai ceder. "Não vamos desistir. Se eles (os bandidos) vêm com uma força de lá, nós iremos com força dobrada de cá. Quem tentar atrapalhar nosso planejamento será atropelado. O programa das UPPs irá até o fim", garantiu o secretário, que disse haver informações que apontam para a união das duas principais facções criminosas do Rio em torno dos ataques.
Os oito traficantes presos que serão transferidos para Rondônia são: Mauri Alves Ribeiro Filho, o Cocô; Claudio Henrique dos Santos, o Tchuca ou Doutor Santos; Marcelo Tavares da Silva, o Marcelo Abóbora; Roberto Célio Lopes, o Bertinho de Vigário; Wanderson da Silva Brito, o Paquito; e Marcio Aurélio Martines Martelo, o Bolado; Antônio Jorge dos Santos, o Toni Senhor das Armas; e William Rodrigues Vieira, o Robocop.
Para enfrentar os ataques no Rio, Beltrame contará com o apoio de 70 agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Eles serão enviados ao Estado para intensificar o policiamento nas rodovias Washington Luís e Via Dutra. A operação, batizada pela PRF de "Edige", será lançada amanhã, e terá o apoio de 30 viaturas e dois helicópteros.
A parceria foi definida depois que o governador Sérgio Cabral ligou para o presidente Lula e para o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto. Nos últimos 16 dias, 20 carros foram incendiados e vários arrastões registrados.
Operações em 23 favelas
Na terça-feira, as polícias Civil e Militar realizaram operações em 23 favelas controladas pelo Comando Vermelho. Dois suspeitos foram mortos, oito presos e drogas e armas foram apreendidas. As incursões não chegaram ao Complexo do Alemão, suposto "QG" da facção.
No Complexo de Manguinhos, foram apreendidos 50 kg de maconha, uma pistola, 2 mil sacolés de cocaína, 66 pedras de crack, 89 trouxinhas de maconha e fogos de artifício. Um suspeito morreu em troca de tiros. Viaturas do 16º BPM (Olaria) foram atacadas quando passavam pela rua Merendiba, na Penha. Policiais pediram reforço e o confronto foi intenso. Pedestres correram para se abrigar e se atiraram no chão. Motoristas voltaram na contramão.
Pelo rádio, ameaças a PMs
Na Penha, criminosos debochavam e ameaçavam policiais pelo rádio. "Vem combater aqui, que a gente está segurando o míssil! Aqui vocês não vão entrar, nem a gente vai sair. Polícia vai morrer hoje", disse um deles. No confronto, um criminoso conhecido como Baby, segurança de Fabiano Atanásio, o FB, chefão da favela, foi morto. Com ele, a polícia apreendeu um fuzil AK 47.
Durante as operações, dez escolas municipais fecharam e 7.320 alunos ficaram sem aulas. Em Niterói, no Morro da Coruja, PMs recolheram uma escopeta e um revólver e recuperaram 80 motos roubadas. No Morro Santo Amaro, no Catete, uma pistola foi apreendida. A PM não descarta ampliar as ações para outras favelas.
Todo o efetivo nas ruas
Nas ruas, 1,2 mil PMs que fazem serviços burocráticos reforçaram o patrulhamento. Cerca de 300 homens do Hospital da PM, da banda de música e dos setores de mecânica foram deslocados para a zona sul do Rio de Janeiro. Folgas foram suspensas: quem deixava o trabalho na manhã de ontem teve que permanecer no quartel e se juntar às equipes que assumiam o plantão.
Enquanto isso, oficiais da cúpula da PM e delegados da Polícia Civil se reuniam no 22º BPM (Maré), que funcionou como centro de comando e controle. À tarde, o comandante da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, foi até a unidade e circulou por um acesso ao Complexo da Maré, onde havia operação nas favelas Parque União e Nova Holanda. Usando a boina do Batalhão de Operações Especiais (Bope), ele anunciou que as operações não têm data para terminar e que as ações podem acontecer inclusive à noite.