Em uma prisão sem muros e grades: é assim que se sente a dona de casa Letícia Reis Silva, de 42 anos. Letícia é casada com Edinaldo Rogério Matos dos Inocentes, 32, irmão de Eline Rosely Matos dos Inocentes ? que sobreviveu após levar um tiro na boca de Valdimar Lindoso Ferreira, na madrugada de 26 de abril de 2006, numa chacina que deixou cinco mortos, ocorrida no bairro Retiro Natal (área do Monte Castelo). Letícia disse que não tem mais paz desde quando soube que Valdimar fugiu do Presídio de Pedrinhas, no início de abril passado, pouco antes de o crime completar cinco anos.
"Quando alguém bate na porta, eu fico logo apreensiva. Penso que pode ser ele. Não tenho mais paz. Me sinto insegura, quero ver esse monstro novamente preso", confessou a dona de casa.
O medo, segundo Letícia ? que preferiu nem ser fotografada ?, torna-se mais presente devido uma ameaça feita pelo assassino à família: "Ele disse, no dia em que foi preso, que quando fosse solto iria voltar para terminar o que não terminou".
Morando ainda na mesma casa localizada próxima à Praça Marechal Lotte, onde o assassino fez quatro de suas seis vítimas (contando a ex-cunhada que sobreviveu), o montador de móveis Edinaldo Rogério Matos dos Inocentes não gosta muito de falar sobre o caso.
"Em comum acordo com familiares, decidimos evitar tocar no assunto. E também por conta de algumas reuniões que tivemos com a polícia, nas quais pediram sigilo de tudo o que foi conversado", justificou-se Edinaldo Rogério.
No entanto, ele não escondeu o medo daquilo que o foragido pode tentar fazer novamente. "Eu não tenho medo dele. Tenho medo daquilo que ele pode tentar fazer contra a minha família", afirmou o montador.
Casado há quase cinco anos, pai biológico de duas crianças ? uma de 3 anos e outra de 4 ? e criando mais uma, de 11 anos, Edinaldo Rogério, ao ser questionado sobre o sentimento que ficou da tragédia, foi breve. "Você deve imaginar o que eu sinto. Simplesmente perdi toda a minha família", respondeu.
Quanto à irmã do montador, Eline Rosely Matos dos Inocentes, ela viajou para outro estado, a fim de dar continuidade ao tratamento que faz de reconstrução bucal, com a finalidade de reparar os danos causados pelo tiro que levou.
"Esse homem [Valdimar] prejudicou a nossa família antes e continua prejudicando. O que ele fez deixou sequelas físicas e psicológicas", afirmou Letícia Silva.
Edinaldo Rogério, no entanto, disse que a proposta não evoluiu. "Não tocaram mais no assunto. Também não nos explicaram quanto seria o valor do aluguel e onde seria essa casa. Achei melhor continuarmos morando onde estamos, até porque meus filhos estudam aqui perto", disse, acrescentando que após a chacina pensou em se mudar da casa, mas desistiu. "Seria difícil encontrar um comprador ou até mesmo alguém para alugar o imóvel depois do que aconteceu".
TRAGÉDIA
O então mototaxista Valdimar Lindoso Ferreira usou uma pistola 380, de fabricação espanhola, com silenciador caseiro, para assassinar, na madrugada de 26 de abril de 2006, cinco membros de uma mesma família. A chacina aconteceu em duas casas do bairro Retiro Natal (área do Monte Castelo). Na primeira residência, que Valdimar invadiu às 3h, foram mortos a ex-mulher de Valdimar, Helen Rose dos Inocentes Ferreira, na época com 31 anos, e o filho do assassino, Erick Ricardo Matos Ferreira, de 6 anos. Os dois foram mortos enquanto dormiam.
Em outra casa da mesma rua, o primeiro a morrer foi o ex-sogro de Valdimar, Raimundo João dos Inocentes, 60, que abriu a porta para o assassino.
Depois, foram fuziladas a ex-sogra do mototaxista, Maria José Matos dos Inocentes, 57, e sua ex-cunhada, Érica Rosana Matos dos Inocentes.
Atingida com um tiro na boca, a ex-cunhada de Valdimar, Eline Rosely Matos dos Inocentes, sobreviveu. O ex-cunhado Edinaldo Rogério Matos dos Inocentes, também era alvo do assassino, mas não estava na residência.
Após ser preso, o mototaxista disse que matou a ex-mulher e a família dela porque eram Testemunhas de Jeová e estavam levando seu filho para a religião, com o que não concordava.
Segundo a polícia, no entanto, a motivação da fúria do assassino seria sua recusa em aceitar o término do relacionamento com a ex-mulher, Helen Rose.
No mesmo dia da chacina, Valdimar foi preso no Hospital Municipal Clementino Moura (Socorrão 2), quando tentava fazer um curativo na mão esquerda, ferida acidentalmente por um dos disparos que ele efetuou. A pistola usada na chacina foi encontrada pela polícia embaixo da cama da então namorada do criminoso.
Valdimar Lindoso foi condenado, em 22 de maio de 2009, a 98 anos de prisão em regime fechado, por homicídio qualificado. Cumpria pena em Pedrinhas, quando fugiu pela primeira vez, em 27 de agosto de 2010, sendo recapturado em 31 de agosto de 2010. Em 3 de abril passado, fugiu novamente e segue foragido.