Contrariando a previsão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que afirmou que a greve dos policiais militares na Bahia deveria acabar ainda nesta sexta-feira, os PMs decidiram em assembleia pela continuação do movimento. A reunião de centenas de manifestantes, diversos deles integrantes da Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares (Aspra), ocorreu em um ginásio do Sindicato dos Bancários, no Largo dos Aflitos, em Salvador, e acabou por volta das 19h40.
De acordo com o porta-voz dos grevistas, Ivan Carlos Leite, não houve qualquer forma de comunicação ou tentativa de negociação do governo com os praças paralisados. Na noite de ontem, uma assembleia da Associação dos Oficiais da Polícia Militar da Bahia (AOPMBA) decidiu que o grupo não suspenderia as atividades.
O comandante da Polícia Militar baiana, coronel Alfredo Castro, afirmou nesta sexta-feira que a greve da corporação, que hoje completa 11 dias, já terminou. Segundo ele, 85% do efetivo estava trabalhando em todo o Estado. O porta-voz dos grevistas, no entanto, negou a informação e estimou que 95% dos PMs estejam parados. Leite acrescentou que havia associações do interior ligando para a capital para saber qual era a orientação da assembleia.
Nesta sexta-feira, o coronel Castro deu um ultimato para que os PMs retornassem ao trabalho, prometendo punir os próximos dias de paralisação com desconto no salário ou até com prisão em unidade militar. Apesar da ameaça, os grevistas decidiram continuar de braços cruzados. Assim como a de quinta-feira, a assembleia de hoje foi encerrada com muito barulho e cantos de "A PM parou". Uma nova reunião do grupo foi marcada para sábado, no mesmo local, às 16h.
A greve
A greve dos policiais militares da Bahia teve início na noite de 31 de janeiro, quando os grevistas acamparam em frente à Assembleia Legislativa em Salvador e posteriormente ocuparam o prédio. Cerca de 10 mil PMs, de um contingente de 32 mil homens, aderiram ao movimento.
A paralisação provocou uma onda de violência na capital e região metropolitana, dobrando o número de homicídios em comparação ao mesmo período do ano passado. Além de provocar o cancelamento de shows e eventos, a ausência de policiamento nas ruas também motivou saques e arrombamentos. Centenas de carros foram roubados e dezenas de lojas destruídas.
A paralisação busca reivindicar a criação de um plano de carreira para a categoria, além do pagamento da Unidade Real de Valor (URV), adicionais de periculosidade e insalubridade, gratificação de atividade policial incorporada ao soldo, anistia, revisão do valor do auxílio-alimentação e melhores condições de trabalho, entre outros pontos.
O Executivo estadual solicitou o apoio do governo federal para reforçar a segurança. Cerca de 3 mil homens das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança foram enviados a Salvador. Dois dias após a paralisação, a Justiça baiana concedeu uma liminar decretando a ilegalidade da greve e determinando que a Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra) suspenda o movimento. Doze mandados de prisão contra líderes grevistas foram expedidos, sendo que destes quatro foram cumpridos.
Em 9 de fevereiro, Marco Prisco, um dos líderes do movimento grevista, foi preso após a desocupação do prédio da Assembleia. A decisão ocorreu um dia depois da divulgação de gravações telefônicas que mostravam chefes dos PMs planejando ações de vandalismo na capital baiana. Um dos trechos mostrava Prisco ordenando a um homem que ele bloqueasse uma rodovia federal.