Um dia após ser registrada uma nova confusão entre policiais militares e estudantes na Universidade de São Paulo (USP), o espaço onde funcionava um centro de convivência para alunos dentro da Cidade Universitária, na Zona Oeste de São Paulo, amanheceu vazio e com as portas lacradas nesta terça-feira (10).
Imagens disponíveis na internet e mostradas nesta terça mostram a confusão, o momento em que o PM não quer se identificar e a hora em que ele é chamado de racista e briga com os alunos.
Segundo os estudantes, após a ação encampada pela polícia e agentes de segurança do campus, que culminou nas imagens de agressão do estudante da USP-Leste Nicolas Menezes divulgadas pela internet, uma empreiteira foi acionada e as portas do espaço até então ocupado pelos alunos foram soldadas e trancadas com cadeados.
?Eles vieram depois da ação policia e soldaram tudo. É um absurdo acabarem com um dos últimos espaços de convivência que mantínhamos por aqui?, disse o aluno de letras Rafael Souza, um dos líderes do movimento estudantil no campus.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da USP não confirmou que a reitoria solicitou a soldagem das portas. A direção da universidade informou apenas que o prédio foi solicitado aos alunos para uma reforma.
O policial que sacou a arma e ameaçou o estudante foi afastado da corporação pela cúpula da PM ainda na segunda. Segundo o coronel Wellington Venezian, comandante do policiamento na Zona Oeste da capital, um outro soldado que estava no local também foi afastado.
As imagens mostram o momento em que alunos, guardas universitários e o policial conversam próximo ao prédio que pertenceu ao DCE e que foi desocupado na quinta (5). O PM pergunta a um dos jovens se ele é aluno. O homem diz que é, mas o policial insiste e pede para que mostre a carteirinha da universidade. ?Tenho minha palavra?, respondeu o rapaz.
O jovem é puxado com força pelo PM, que saca a arma e a coloca de volta no coldre. Os guardas e os alunos pedem calma e o jovem é levado para a frente do edifício. Lá, recebe mais alguns empurrões e um tapa.
"Força e violência"
Em entrevista realizada no fim da tarde de segunda no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, no Centro de São Paulo, o coronel classificou o fato como grave. Ele disse que a polícia não concorda com a atitude de ?força e violência?.
A PM também determinou a abertura de uma sindicância para investigar o incidente. A sindicância dura 40 dias e pode acarretar desde uma repreensão até a expulsão dos policiais da corporação.
O coronel afirmou que o policial vai passar por um acompanhamento psicológico. Ele disse que ele não tinha histórico de abuso de autoridade. Ele atua na USP desde que o convênio entre a universidade e a PM foi firmado. A corporação classificou a atitude como desequilíbrio emocional.
?Conversei com o sargento e ele disse que foi desobedecido. Ele reconheceu que ficou muito nervoso e perdeu o controle emocional.? Os estudantes envolvidos devem ser convidados a falar na sindicância.
Em outro vídeo divulgado pelos estudantes, o policial envolvido diz que não fez ?nada de errado?. ?Que agredi, o quê?, respondeu ao ser indagado por um aluno. ?Você está me provocando? Vai fazer denúncia. Vai fazer denúncia?, afirmou. Uma jovem quis ver o nome e a patente do policial, mas ele retirou a identificação da lapela. ?Por que você quer ver meu nome? Não quero mostrar o meu nome.?
No segundo vídeo, o jovem agredido também dá sua versão. ?Eu estava ali, argumentando com o senhor tenente André e ele pediu para eu mostrar a carteirinha. Eu disse que não ia mostrar e quando eu mostrei a carteirinha, ele me soltou.? Em seguida, ele mostra dois documentos que comprovam que estuda mesmo na USP.
Ocupações
A relação entre os estudantes da USP e a PM é conflituosa desde o fim de outubro, quando três estudantes foram detidos após serem abordados com porções de maconha. Os alunos chegaram a entrar em confronto com os policiais.
Em protesto contra a ação da PM, que os alunos consideram truculenta, um grupo invadiu o prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Depois, em assembleia, decidiram ocupar a reitoria.
No início de novembro, após os alunos não acatarem decisão judicial para a saída do edifício, policiais da Tropa de Choque entraram e prenderam 70 pessoas. Eles foram indiciados por danos ao patrimônio público e desobediência à ordem de Justiça. Em protesto contra as prisões, estudantes de toda a universidade decidiram entrar em greve.