Os setores de inteligência das Secretarias de Segurança Pública e de Administração Penitenciária (Seap) confirmaram que as duas maiores facções criminosas do país firmaram uma aliança.
A validação das informações, que vinham sendo monitoradas há semanas, ocorreu nesta quarta-feira (26), após 37 detentos do Primeiro Comando da Capital (PCC) solicitarem transferência para unidades prisionais que abrigam membros do Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro. Desde o dia 11, circulam nas redes sociais comunicados determinando o fim dos confrontos entre as quadrilhas, evidenciando um acordo em andamento.
O g1 teve acesso a essas circulares enviadas nos estados do Ceará, Paraíba, Maranhão, Pará, Mato Grosso e Rio de Janeiro. O documento fluminense, datado de terça-feira (25), declara:
Graças ao esforço de muitos e a uma longa negociação, chegamos ao tão esperado fim. Frisamos que o fator que mais pesou, sem dúvida alguma, foi o bem maior que se chama vida (…). A partir de hoje, 25/02/2025, data essa histórica, o CV e o PCC estão colocando fim a esta guerra e refazendo uma nova aliança de PAZ, JUSTIÇA, LIBERDADE E FRATERNIDADE.
O comunicado também sinaliza a possibilidade de entendimento com outros grupos criminosos: “Deixamos a prerrogativa para outras organizações de que estamos abertos ao diálogo (…). Lutaremos de mãos dadas por um só ideal: O CRIME FORTALECE O CRIME.”
No dia 16, uma reportagem do Fantástico revelou um relatório da Secretaria Nacional de Políticas Penais alertando sobre a possível aliança. O documento detalhava estratégias para enfraquecer as restrições impostas a presos de alta periculosidade no sistema carcerário nacional.
Conflitos e reorganização do crime
O pedido de transferência reforça a reaproximação entre as facções após nove anos de disputas, iniciadas em 2016, na fronteira com o Paraguai.
Naquele ano, criminosos das duas organizações participaram do assassinato do traficante Jorge Rafaat Toumani, de 56 anos, morto com disparos de metralhadora calibre .50 em Pedro Juan Caballero. A execução do chamado “Rei da Fronteira” permitiu ao PCC assumir o controle da rota do tráfico, dificultando a atuação dos integrantes do CV.
Nos meses seguintes, a rivalidade resultou em uma onda de violência, principalmente nos presídios de Manaus, Boa Vista e Porto Velho, onde quase uma centena de detentos foram assassinados, muitos deles decapitados.
Os sangrentos confrontos dentro do sistema prisional do Norte do país foram um dos principais entraves para a consolidação do atual acordo. Desde então, o Comando Vermelho expandiu sua presença na região ao se aliar a inimigos do PCC. O mesmo ocorreu no Nordeste, permitindo que a facção carioca ampliasse sua atuação nacionalmente.
Apesar da resistência inicial de criminosos refugiados em favelas do Rio de Janeiro, o pacto foi selado, consolidando uma nova aliança no submundo do crime.