Aécio Neves desiste do Senado e vai disputar vaga na Câmara

Tucano já vinha sinalizando que não disputaria reeleição ao Senado

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O senador Aécio Neves (PSDB-MG) anunciou, em nota divulgada na tarde desta quinta-feira, a decisão de concorrer à Câmara dos Deputados. Em conversas particulares nas últimas semanas, Aécio já vinha sinalizando que não disputaria a reeleição ao Senado.

No texto, Aécio afirma que tomou a decisão "com a responsabilidade daqueles que sempre colocaram os interesses de Minas acima de qualquer projeto pessoal". Ele cita "ataques violentos e covardes" dos quais tem sido alvo, mas ressalta que "a verdade prevalecerá e com ela restará provada a correção de todos os meus atos".

O senador apresentou aos aliados uma série de argumentos que justificariam sua decisão, como o receio de ser responsabilizado por uma eventual derrota de Antonio Anastasia (PSDB) ao governo de Minas.

Depois de meses afastado do estado, em meio ao desgaste provocado pelas investigações da delação do empresário Joesley Batista, além de outros inquéritos da Operação Lava-Jato, Aécio passou as últimas semanas se movimentando entre Belo Horizonte e o interior de Minas.

Nos encontros com antigos aliados e prefeitos, manifestou preocupação com o impacto de sua candidatura à reeleição ao Senado no futuro do partido no estado. O PSDB tenta voltar ao governo depois de Pimenta da Veiga perder para Fernando Pimentel (PT), em 2014. Antes disso, o próprio Aécio governou por dois mandatos, sendo substituído por Anastasia.

Depois do anúncio de Aécio, Anastasia divulgou nota na qual diz que a desistência do colega "é prova de seu senso de responsabilidade com o Estado e do seu compromisso com os mineiros".

"As pesquisas realizadas apontam que grande parte dos mineiros, reconhecendo todo seu trabalho por Minas, gostariam que ele continuasse a ocupar uma das vagas do Estado no Senado. Essa realidade certamente tornou mais difícil a decisão tomada pelo senador e a faz ainda mais merecedora do nosso reconhecimento", diz o senador.

Nas últimas pesquisas, Aécio apareceu em segundo lugar nas intenções de voto para o Senado, o que garantiria sua reeleição, já que há duas vagas em disputa. Em privado, no entanto, tucanos no estado admitiam insegurança quanto ao resultado nas urnas. Eles alegavam rejeição a Aécio apontada por levantamentos internos.

OPERAÇÃO DESGASTOU SENADOR

O novo rumo da carreira política do senador começou a se desenhar em 18 de maio do ano passado, quando a irmã dele e um primo foram presos na Operação Patmos, desdobramento da Lava-Jato. No mesmo dia, Aécio foi afastado do Senado e se licenciou da presidência do PSDB.

A investigação tinha como base a delação de Joesley Batista, que acusou o tucano de pedir R$ 2 milhões de propina em troca de favores políticos. O senador foi gravado pelo empresário, acertando o pagamento. Um ano depois, Aécio se tornou réu na ação, que apura os crimes de corrupção passiva e obstrução da Justiça.

Desgastado, o senador, que ficou em segundo lugar na corrida presidencial de 2014, passou a ser pressionado pelos aliados a se afastar definitivamente da presidência do PSDB, o que ocorreu em 2017.

A próxima etapa do isolamento ocorreu junto ao início das articulações para as eleições. Candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin admitiu a correligionários que desejava ver Aécio longe de seu palanque. Publicamente, o ex-governador de São Paulo disse que “o ideal é que (Aécio) não seja candidato (ao Senado)”.

— É evidente — afirmou Alckmin, em entrevista à Rádio Bandeirantes.

Em Minas, seu antigo aliado Anastasia demorou a se decidir sobre disputar o governo de Minas. Políticos próximos ao senador dizem que a possibilidade de concorrer com Aécio como seu candidato ao Senado era um dos principais motivos para a resistência. Completam que o tucano só decidiu disputar depois de o colega sinalizar que abriria mão da reeleição.

Confira a nota de Aécio na íntegra:

"Belo Horizonte, 02 de agosto de 2018

Caras amigas e caros amigos,

Nos últimos 30 anos, seja no Congresso Nacional ou à frente do governo do nosso Estado, dediquei minha vida a defender os interesses de Minas e dos mineiros.

Por isso, nos últimos meses, refleti muito sobre qual a melhor forma de contribuir para que Minas supere a dramática situação que enfrenta hoje e reencontre o caminho do desenvolvimento econômico e social vivenciado nos anos em que governamos o Estado.

Com o objetivo de ampliar o campo de apoio à candidatura que melhor atende ao projeto de reconstrução de Minas, a do senador Antonio Anastasia, informei a ele, hoje, minha decisão pessoal de não disputar, este ano, a eleição para o Senado, colocando meu nome como pré-candidato à Câmara dos Deputados, Casa que já presidi e onde, como líder partidário, à época do governo Fernando Henrique, ajudei a implementar algumas das principais reformas feitas no Brasil contemporâneo.

A gravidade da situação do nosso Estado exigirá uma bancada forte e unida na defesa dos interesses de Minas no Congresso e junto ao Governo Federal.

Estou certo de que poderei contribuir para isso.

Não foi, como podem imaginar, uma decisão fácil.

Por um lado, porque todas as pesquisas realizadas até aqui apontam meu nome entre os mais bem avaliados na disputa para o Senado.

Por outro, porque estão vivas na minha memória as inúmeras manifestações de estímulo que tenho recebido de lideranças dos mais variados setores e de todas as regiões de Minas.

Mas tomo essa decisão com a responsabilidade daqueles que sempre colocaram os interesses de Minas acima de qualquer projeto pessoal. Os que me conhecem sabem que foi assim que sempre agi e assim continuarei agindo.

Meus amigos,

Todos conhecem os ataques violentos e covardes de que tenho sido alvo. Diariamente as falsas versões engolem os fatos. Mas apesar de todas as injustiças, estou seguro de que, ao final, a verdade prevalecerá e com ela restará provada a correção de todos os meus atos.

Até lá, estarei lutando para que a verdade prevaleça.

Farei isso, em respeito à minha trajetória política, à minha família e a todos que me levaram a conduzir o que muitos consideram o mais exitoso governo da nossa história recente.

E farei isso, especialmente, em respeito a todos aqueles que sempre me honraram com a sua confiança.

Continuarei minha caminhada com o mesmo entusiasmo e determinação, e movido pelo mesmo sentimento que, há tantos anos, me trouxe para a vida pública: o amor a Minas e aos mineiros."

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