Após o abandono do plenário no primeiro dia de julgamento do caso Bruno, utilizando uma manobra legal válida, os advogados do ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foram autorizados e poderão voltar ao caso. A decisão foi dada pela juíza Marixa Fabian, na última sexta-feira. Apesar do retorno, a multa de 30 salários mínimos foi mantida. Agora, Ércio Quaresma e Fernando Magalhães voltam suas atenções para as mais de 16 mil páginas do processo da morte e desaparecimento de Eliza Samúdio, que será julgado no dia 4 de março, no Fórum de Contagem, na região Metropolitana de Belo Horizonte.
O outro defensor, Zanone Manoel, não retornou junto com seus companheiros, alegando problemas pessoais. Apesar de a decisão da magistrada sobre o assunto, o advogado Ércio Quaresma se mostrou, desde o início da polêmica, muito tranquilo que seguiria na defesa de Bola. Em outras conversas com o Terra, o defensor sempre fez questão de ressaltar que não abandonou o caso em nenhum momento. "Eu não voltei, eu não saí. Ela (magistrada) destruiu o direito do meu cliente, e eu não quis participar de um ato onde meu cliente estava cerceado. Então eu deixei o ato processual, mas não o processo", disse ele.
Ao voltar a falar sobre todo o caso, Quaresma fez duras críticas a vários envolvidos. As palavras mais duras foram destinadas ao promotor e à juíza. "Nós temos, em tese, cinco delegados, três promotores, uma juíza, três desembargadores, ou seja, muitas pessoas absurdamente incompetentes. O promotor (Henry Vasconcelos) chegou ao apagar das luzes, participou de todos os dias de julgamento, para somente após o término declarar que vai denunciar o Zezé. Será que não enxergaram isso antes? No júri vamos mostrar o que é falta de prova, no plenário. Na hora que for dada palavra à defesa eles vamos mostrar", disse.
Questionado sobre a expectativa do retorno do julgamento, que acontecerá no início de março, Quaresma afirmou que o júri pode ser anulado. "O habeas-corpus, se a ordem for concedida, vai ser anulado. Estamos também a caminho do STJD porque Contagem não é competente para julgar, a comarca não é a competente. A denúncia, de acordo com o Ministério Público, diz que "à noite de 10 de junho de 2010, em Vespasiano, a vítima foi cruelmente assassinada". Então, não temos motivos para julgar isso em Contagem, é obvio que terá que ser julgado em Vespasiano", argumentou.
Ainda de acordo com o defensor, se o julgamento foi anulado, também terá uma batalha para tirar os réus da cadeia. "Não tem motivo para estarem presos. Discutir corpo eu não vou. Temos um recurso tramitando", finalizou.
O caso Bruno
Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola seriam levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores. No dia 19 de novembro de 2012, foi dado início ao julgamento de Bruno, Bola, macarrão, Dayanne e Fernanda.