Em gravações telefônicas autorizadas pela Justiça, o jogador Adriano pede a um primo que vá ao banco para sacar um cheque de R$ 60 mil. Adriano diz que a quantia tem que ser entregue a pessoas que não foram identificadas no telefonema. A suspeita é de que o dinheiro da conta do atacante teria parado nas mãos de traficantes.
As conversas telefônicas de Adriano com o primo foram gravadas em dezembro do ano passado durante uma investigação sobre a venda de drogas em três favelas do Rio. O primo do atacante estava sendo monitorado por suspeita de envolvimento com o tráfico. As gravações levaram a polícia a investigar o jogador.
Adriano: ?Não esquece amanhã cedo de ir lá trocar o negócio (cheque no banco). Para dar logo essa parada, esse bagulho, para os caras lá.?
Primo: ??Tá? bom.?
Em outra ligação, o jogador fala que o banco só tem R$ 30 mil reais disponíveis para saque. Adriano conta que o gerente sugeriu que ele fizesse um cheque de R$ 30 mil, mas ele diz que já tinha feito um cheque no valor de R$ 60 mil, e que o gerente iria tentar conseguir o dinheiro. O atacante diz que o gerente vai retornar a ligação e pede que o primo espere.
Adriano: "O Marcos, lá do banco, ele "tá" procurando ver se consegue o dinheiro, porque ele só tem 30 lá. Aí ele falou: "Pô, Adriano, só tenho 30 aqui, faz um cheque de 30". Não, o problema é que eu fiz um cheque de 60. Aí ele: "Tranquilo, então eu vou tentar ver aqui e te falo". Espera ele me ligar pra ver se consegue esse dinheiro e eu te ligo."
Na quarta-feira (2), o Ministério Público afirmou que havia fortes indícios de que o dinheiro do jogador teria sido repassado a dinheiro ao traficante Fabiano Atanásio da Silva, conhecido como FB, que controla o tráfico de drogas no Conjunto de Favelas da Penha, no subúrbio, onde Adriano morou.
Após prestar depoimento no Ministério Público do Rio e na delegacia, o jogador Adriano não foi indiciado. O delegado Luiz Alberto Andrade, titular da 38ª DP (Irajá), informou que não há provas suficientes para indiciar o atacante. Com viagem marcada para a Itália no próximo domingo (6), Adriano, segundo o delegado, não está impedido de deixar o país.
No inquérito, Adriano é testemunha numa investigação que apura crimes de tráfico de drogas, associação para fins de tráfico e posse ilegal de arma de fogo praticados por integrantes de uma organização criminosa, que controla o tráfico nas comunidades de Furquim Mendes e Dique, em Jardim América, no subúrbio.
O procurador-geral de Justiça, Cláudio Lopes, informou que considera estranho o fato da polícia não ter indiciado Adriano, já que foi o próprio delegado que solicitou a quebra de sigilo bancário e dos dados cadastrais da linha telefônica do jogador.
Adriano nega ter repassado dinheiro a traficante
Na quinta-feira (3), após três intimações da Polícia Civil, Adriano prestou depoimento na 38ª DP (Irajá), no subúrbio do Rio. Segundo o delegado Luiz Alberto Andrade, Adriano negou que tenha repassado dinheiro ao traficante FB. Em depoimento, Adriano afirmou que o dinheiro foi para uma festa de criança na comunidade. Ele disse que a quantia serviu, ainda, para a compra de cestas básicas.
Para os promotores do caso, qualquer doação que contribua para o prestígio de um traficante na comunidade pode ser considerada associação para o tráfico. A investigação continua. A Justiça ainda vai decidir se autoriza ou não a quebra dos dados cadastrais da linha telefônica e do sigilo bancário de Adriano.
O advogado do jogador Adriano, Rafael Matos, contou que o jogador afirmou, em depoimento prestado à polícia, que recebeu um pedido de dinheiro ao traficante Fabiano Atanásio da Silva. No entanto, segundo ele, o dinheiro não foi repassado para o traficante, mas teria sido sacado pela mãe do craque.
?Ele disse que não foi R$ 60 mil, como vem sendo divulgado, disse que num determinado momento o FB mandou pra ele um recado, se ele podia ajudar numa festa da criança na Vila Cruzeiro. Ele já vem fazendo um trabalho na comunidade junto com a mãe dele?, disse.
Segundo Matos, Adriano teria comprado cerca de R$ 30 mil em cesta básica e ainda teria alugado um caminhão para transportar e distribuir as doações na comunidade do subúrbio da cidade. O restante do dinheiro teria ficado com a mãe do jogador, que teria realizado o saque. ?R$ 20 mil ficou com a mãe dele para despesa pessoal. Quem fez o saque no banco foi a própria mãe do Adriano?, afirmou o advogado.
O advogado disse, ainda, que o jogador está disposto a colaborar e até a voltar da Itália, para onde embarca neste domingo, se for convocado para prestar mais esclarecimentos.
FB é apontado pela polícia como o homem que ordenou o ataque ao helicóptero da PM em outubro de 2009. Três policiais morreram na queda do helicóptero.