Wilson Bicudo da Rocha, acusado de agredir, torturar e perfurar os olhos da ex-mulher, a operadora de caixa Mara Rúbia Guimarães, irá a júri popular. A decisão foi do juiz da 1ª Vara Criminal de Goiânia, Eduardo Pio Mascarenhas da Silva. Ele também determinou que o ex-marido da vítima permaneça preso até o julgamento e manteve a tipificação do crime como tentativa de homicídio triplamente qualificada.
Para o juiz, o crime teve motivo torpe, de vingança, porque a Mara Rúbia não quis reatar o casamento e, além disso, foi empregado meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima.
Segundo o advogado de Wilson Bicudo, o acusado já foi comunicado e está inconformado com a decisão. ?Eu vejo isso como um desrespeito à legislação. As testemunhas deixaram claro que não foi tentativa de homicídio e sim lesão corporal. Não entendi por que o Judiciário agiu assim, talvez preocupado em dar uma satisfação à sociedade?, afirmou o advogado Antônio Vilmar Fleury.
O crime
Mara Rúbia foi torturada pelo ex-marido no dia 29 de agosto do ano passado. Segundo a polícia, após ser agredida e imobilizada, quando já estava inconsciente, ela teve os dois olhos perfurados com uma faca de mesa. De acordo com o inquérito, o suspeito usou o celular da ex-companheira para avisar a família e amigos que havia matado a vítima. A mulher foi socorrida com vida. Após 21 dias foragido, Bicudo se entregou à Polícia Civil.
Segundo a delegada responsável pelo caso, Ana Elisa Gomes, ele confessou ter cometido o crime depois que a vítima se recusou a reatar o casamento. Segundo familiares, o casal tinha se separado há dois anos. Nessa época, a mulher, que morava em Corumbá de Goiás, se mudou para a capital. Esta não foi a primeira vez que o homem agrediu a ex-mulher, que tentou por quatro vezes denunciar o agressor, mas não obteve ajuda. Desde que foi agredida, Mara Rúbia já passou por uma operação no olho esquerdo e duas no olho direito.
Tentativa de homicídio
O agressor foi denunciado pelo Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO) por tentativa de homicídio triplamente qualificado. A decisão sobre o crime pelo qual ele iria responder foi definida no dia 20 de novembro do ano passado pelo procurador-geral de Justiça de Goiás, Lauro Machado Nogueira, após um impasse jurídico que paralisou o processo.
O inquérito foi concluído em outubro e indiciou o agressor por tentativa de homicídio triplamente qualificada. Mas o promotor de Justiça João Teles Neto discordou do relatório policial. Para ele, o crime não foi uma tentativa de homicídio, mas, sim, um caso de lesão corporal grave. Com a decisão, teve início uma discussão sobre qual crime o acusado responderia.
Com a mudança na tipificação do crime, o processo seguiu para uma nova vara. Por isso, o juiz Jesseir Coelho, que tinha decretado a prisão do suspeito, teve de revogar o pedido no dia 13 de novembro, mesmo não concordando com o posicionamento do promotor. O juiz, então, devolveu o caso para a Procuradoria-Geral de Justiça (PGJ) para manifestação. No mesmo dia, a Justiça aceitou um novo pedido do MP-GO e decretou uma nova prisão preventiva para o acusado, que não chegou a ser solto.
O processo foi, então, encaminhado ao Juizado da Violência Doméstica Familiar contra a Mulher, que discordou mais uma vez da tese de lesão corporal e entendeu que o caso se trata de uma tentativa de homicídio. Com isso, Lauro Machado seguiu a mesma decisão e destacou que ficou evidente nos depoimentos que Bicudo tinha a pretensão de matar a vítima.
Audiência
A primeira audiência do caso aconteceu no dia 6 de dezembro do ano passado. Na ocasião, além dos depoimentos de Mara Rúbia e de Wilson Bicudo, dez das 13 testemunhas arroladas foram interrogadas. A primeira a prestar depoimento foi Mara Rúbia. Muito emocionada durante todo o interrogatório, ela contou que o ex-marido sempre a ameaçava. Para a operadora de caixa, a intenção do ex-marido no dia em que teve os olhos perfurados era matá-la. "Ele me deu uma gravata e disse: "eu vim aqui só pra uma coisa, pra te matar", contou.
Durante o depoimento de Bicudo, ele negou que quisesse matar a ex-mulher. ?Nunca, jamais tentei matar ela. Não fiz de maldade. Não sei nem explicar, na hora fiquei completamente cego. Jamais mataria uma pessoa que sempre gostei?. Ele se emocionou ao relembrar a história e disse ainda que está arrependido. ?Se eu pudesse voltar atrás, não tinha feito isto?, afirmou.
Para a defesa de Bicudo, a audiência ocorreu dentro da normalidade. ?Nós não pleiteamos a isenção do crime. Os fatos qualificam o crime em lesão corporal grave. Ele deve ser punido conforme as normas jurídicas?, afirmou o advogado Antônio Wilmar Fleury Fernandes.