Esta é a história de Louise, Jane, Ericamar, Maria Lúcia e Ednalva. Também de Dayli, Neide, Alexsandra, Juliana, Ana Graziella, Maria Lina, Suênia. Esta é a história que se repete, a cada hora, com cinco mulheres no mundo. Esta é a provável história de 500 mil mulheres que, até 2030, terão sido assassinadas por homens, a maioria deles maridos, namorados, amantes, ex-companheiros. Todos os nomes que você lê na primeira frase da reportagem batizaram moradoras do Distrito Federal; hoje, estão gravados em lápides. Existem muitos outros. O atestado de óbito não só descreve a causa mortis; ajuda a confirmar certezas: o mundo é um ambiente inseguro para as mulheres e a violência contra elas é uma chaga que só cresce. Há muito a ser feito.
Nos próximos dias, o Correio Braziliense publica uma série de reportagens sobre violência contra a mulher. Intitulada “Quando não mata, fere”, pretende mostrar a triste sina de quem se deparou com um homem que veste, com perfeição, o molde desenhado por uma sociedade machista. Não lhe resta dúvida: a mulher é um objeto ao seu dispor. E, assim sendo, ele acha que pode xingá-la de puta, vadia, prostituta, vagabunda. Que tem um salvo-conduto, concedido a todo macho quando nasce, para ameaçar, perseguir, prender, amordaçar, queimar, torturar. Se tiver acolhimento — leia-se família, amigos, vizinhos, policiais, promotores, juízes, psicólogos e assistentes sociais, uma estrutura que nem de longe está disponível a todas —, é possível que a mulher sobreviva. Às vezes, nem assim.
Pelos registros do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde (MS) — a fonte primária para análise dos homicídios no país, usada nos Mapas da Violência —, entre 1980 e 2013, 106.093 mulheres foram assassinadas. No ano de 1980, o número alcança 1.353. Em 2013, um salto de 252%; os casos chegaram a 4.762. Desses, em 50,3% das situações, foram pessoas da família que as mataram. De uma taxa de 2,3 vítimas por 100 mil em 1980, passamos para 4,8 por 100 mil em 2013 — um aumento de 111,1%. Ou seja, 13 mulheres brasileiras foram mortas por dia em 2013, último ano do estudo.