Historicamente, o estado do Piauí é palco de grandes descobertas arqueológicas. Esses achados permitem uma maior compreensão a respeito de como era a fauna, a flora e o clima, ou seja, o ambiente em geral há milhões de anos atrás. O mais recente desses achados aconteceu no dia 7 de novembro quando arqueólogos encontraram troncos petrificados, datados como sendo de cerca de 280 milhões de anos, às margens do Rio Poty na capital do estado, Teresina.
O paleontólogo e professor do curso de Arqueologia da Universidade Federal do Piauí, Juan Cisneros, que está entre os pesquisadores responsáveis por esse descobrimento, discorreu a respeito da nova descoberta e sua importância. De acordo com ele, a descoberta é de grande relevância. “Essa descoberta ajuda a enriquecer o nosso conhecimento sobre as mudanças ambientais do nosso estado e da microrregião de Teresina em particular, ao longo da história. Hoje a nossa região está coberta por matas de cocais, mas no passado distante, em Teresina e municípios vizinhos, predominava uma floresta de coníferas, grandes árvores que hoje estão representadas pelas araucárias e os pinheiros, e vivem apenas em ambientes mais frios”, esclareceu.
O professor Willian Matsumura, docente de Ciências Biológicas na Universidade Federal do Piauí, dissertou sobre a flora da época. “Boa parte dos fósseis, que hoje nós conhecemos ali na região da floresta fóssil, aqui em Teresina, ou em outras localidades que existem esses troncos fósseis, eles datam desse intervalo de tempo, que nós chamamos de Permiano, mais ou menos ali de 290 a 270 milhões de anos atrás. E que pelo porte dessas árvores, desses troncos, pelo grupo taxonômico que eles representam, seriam pteridospermas”, disse.
Este cenário que revela essa importante descoberta, no entanto, não se trata de um caso isolado. Segundo o professor Juan, existe um rico registro de troncos petrificados no centro de Teresina e em localidades próximas, algo que ajuda a expandir o conhecimento a respeito da vegetação existente no Piauí há milhões de anos atrás. “A ocorrência destes troncos petrificados fora da cidade nos ajuda a saber as dimensões desta antiga floresta de coníferas que seguramente cobria boa parte do Piauí na Era Paleozoica”, esclareceu o docente.
Existe ainda expectativa para a descoberta de novos achados arqueológicos com o passar do tempo, para que essas informações cheguem até os cidadãos com a finalidade de elucidar a importância. “A expectativa é justamente da gente priorizar também nas outras regiões em que já se conhece o registro desses troncos aqui no estado do Piauí e também no estado do Maranhão e lá para o Tocantins.”, comentou o professor Willian a respeito dessa possibilidade. “Acredito que ainda há muito para descobrir. Mas é importante que o conhecimento destas descobertas chegue à população de uma maneira que ajude a valorizar e conscientizar a importância de preservar este patrimônio para que as futuras gerações possam ter acesso também. Com investimento público e com o apoio da comunidade, estes sítios paleontológicos podem se tornar parques e fontes de renda local através do turismo.”, afirmou Juan.
O docente Willian Matsumura afirma que se faz necessária a conscientização a partir da disseminação de informações a respeito desses registros para a população em geral. “O cuidado com a preservação do registro fossilífero, desse patrimônio paleontológico, ele acaba não sendo só dos cientistas, ou só da comunidade, digamos, universitária, mas ele perpassa por toda a população, seja através dos pesquisadores, fazendo as divulgações, fazendo entrevistas como essa, participando, claro, das atividades de divulgação também, mas também até mesmo para os órgãos que vão fiscalizar os empreendimentos, para o empresário que está fazendo aquele empreendimento, ele também ter esse cuidado, de ao fazer algum tipo de intervenção, que ele também veja os vestígios paleontológicos”, declarou.