A Polícia Civil do Piauí concluiu o inquérito sobre o acidente que resultou na morte do eletricista Jucemberg Silva Aguiar, de 44 anos, e indiciou Mariana Monteiro Bevilaqua, namorada de um policial militar, por homicídio doloso com dolo eventual.
Em entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (21), na sede da instituição, o delegado Carlos Cesar, titular da Delegacia de Trânsito, falou que a motorista invadiu sinal vermelho e fez ultrapassagem indevida.
O QUE ACONTECEU
O acidente aconteceu no dia 18 de outubro, na Ponte da Primavera, zona Norte de Teresina. Segundo a investigação, Mariana teria invadido a contramão ao tentar realizar uma ultrapassagem, colidindo de frente com a motocicleta que Jucemberg conduzia.
O delegado Carlos César Camelo, responsável pelo caso, afirmou que a condutora assumiu o risco de causar o acidente ao desrespeitar as regras de trânsito. Um motociclista de aplicativo que testemunhou o acidente relatou que Mariana acessou a faixa central de forma irregular ao fazer uma ultrapassagem, o que levou ao impacto. Jucemberg chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no HUT.
De acordo com o delegado, a condutora ignorou a sinalização semafórica, que estava vermelha, e realizou a manobra em um horário de grande fluxo devido a um evento na região.
Delegado geral Luccy Keiko e delegado Carlos Cesar, da Delegacia de Trânsito (Foto: Mikaela Ramos)
O acidente ocorreu no meio da ponte, onde a faixa central funciona de forma reversível, controlada por semáforos. Mariana seguia no sentido Norte/Leste, enquanto Jucemberg vinha no sentido oposto, da zona Leste para a zona Norte.
“Duas testemunhas diferentes viram que ela estava na contramão, e há também o depoimento do agente de trânsito da Strans. Na verdade, no horário do acidente, o semáforo não fica oscilando, ele é fixo. A Strans vai ao local por volta das 22h e muda o sentido semafórico, então ele fica aberto durante toda a noite da Zona Norte para a Zona Leste e só muda no meio da manhã do dia seguinte, quando alternam e fica aberto da Zona Leste para a Zona Norte”, afirmou o delegado, confirmando que o sinal estava vermelho no momento da colisão.
HIPÓTESE DE EMBRIAGUEZ
O delegado afirmou que no inquérito consta que a condutora não apresentava sinais de embriaguez e que o delegado da Central de Flagrantes entendeu que Mariana Monteiro prestou socorro, pois ficou comprovado que ela ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Por esse motivo, ela não foi autuada em flagrante.
“A gente investigou a possibilidade de Mariana estar possivelmente embriagada porque ela se recusou a fazer o teste do bafômetro. Lá do local do acidente, ela foi levada ao Hospital Buenos Aires e foi atendida por um médico e por um enfermeiro. Os dois foram ouvidos e disseram que ela não apresentava nenhum sinal externo de embriaguez”, explicou o delegado, destacando ainda que o exame clínico realizado no IML foi negativo para embriaguez.
homicídio doloso
"Mas a ultrapassagem em cima de uma ponte vai além de culpa, configurando dolo eventual. Na culpa, a pessoa que pratica o crime não prevê esse resultado, ela acaba cometendo o crime por descuido ou negligência, mas não prevê o resultado. Mas quem ultrapassa em cima de uma ponte com sinal vermelho, em pleno movimento de uma motocicleta, é previsível que possa acontecer um acidente e até matar alguém. Agora, cabe ao Ministério Público decidir”, concluiu o delegado César.
Joelma Silva, esposa da vítima, afirmou que sente que a justiça começou a ser feita após o indiciamento de Mariana. “Meu sentimento é de satisfação, de dever cumprido nesse momento pela Delegacia de Trânsito, pelo doutor Carlos César, porque ele me deu a resposta que eu precisava. Ele autuou Mariana Monteiro, que fez uma ultrapassagem perigosa na ponte e tirou a vida do meu marido. Um pai de quatro filhos, sendo que uma criança de dois anos clama pelo pai de manhã, tarde e noite. Eu não sei o que dizer para essa criança, porque ele tem apenas dois anos”, disse.
Joelma também pediu providências contra o namorado de Mariana, que é policial militar e, segundo ela, teria ajudado a condutora a sair do local do acidente.
“Quero saber por que o Francinaldo, namorado da Mariana Monteiro, que é policial militar, ainda está trabalhando. Por que ele não foi afastado? Ele está na rua, armado, enquanto eu corro risco de vida. Hoje, estou brigando contra uma corporação. Ela foi privilegiada. Quando ele chegou ao local e se apresentou como policial, tudo mudou para ela. Por que ela foi escoltada no carro da família e levada ao hospital por eles, se havia várias viaturas no local? Por que ela não foi levada em uma viatura da polícia? Se fosse meu marido que tivesse causado o acidente, ele teria sido preso, autuado em flagrante e, hoje, estaria na Casa de Custódia pagando pelo crime. Mas ela foi resguardada pelo pai e pelo namorado. Eu clamo por justiça e não vou me calar enquanto ela não for feita”, declarou.
Joelma finalizou cobrando posicionamento das autoridades. “Eu espero que o secretário de segurança, Chico Lucas, e o comandante-geral da Polícia Militar do Piauí afastem o Francinaldo. Quero justiça! Agradeço a todas as pessoas que me permitem estar aqui, me manifestando nas redes sociais e na televisão, clamando por justiça em nome do meu marido", falou.