Mais uma morte foi registrada no caso de envenenamento de uma família durante um almoço realizado no dia 1º de janeiro em Parnaíba, no litoral do Piauí. Maria Gabriele Fonteneles Lopes Silva, de 4 anos, faleceu por volta das 19h50 da terça-feira (21) no Hospital de Urgência de Teresina (HUT). Ela passou 21 dias internada em estado grave.
Sua mãe, Francisca Maria da Silva, de 32 anos, morreu no dia 7 de janeiro. Outros dois filhos de Francisca também foram vítimas do envenenamento coletivo: Lauane da Silva, de 3 anos, e Igno Davi da Silva, de apenas 1 ano e 8 meses. Além deles, o jovem Miguel dos Santos, de 18 anos, irmão de Francisca, também faleceu.
A direção do HUT informou que todos os reforços foram realizados para a melhora de Maria Gabriele e lamentou a morte da menina. "Lamentamos o ocorrido e nos solidarizamos com familiares e amigos neste momento de dor", diz nota.
O que aconteceu?
A família se reuniu para uma ceia de Ano Novo, onde consumiram peixe, feijão tropeiro e baião de dois – uma mistura de arroz e feijão. No dia seguinte, o restante do baião de dois foi servido, momento em que os integrantes da família começaram a passar mal.
Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, foi preso em Parnaíba no dia 8 de janeiro, apontado como o principal suspeito de envenenar as nove pessoas da família, incluindo ele mesmo. Segundo a Polícia Civil, a prisão preventiva foi decretada devido ao “total desprezo” demonstrado por Francisco em relação aos filhos de sua enteada Francisca Maria, além das contradições em seus depoimentos.
A investigação
De acordo com as apurações, o baião de dois foi preparado na noite do dia 31 de dezembro, em uma panela grande, e deixado em cima do fogão. Todos consumiram o alimento no dia 1º de janeiro, sem apresentar sintomas naquele momento.
“O veneno utilizado, o terbufós, tem uma característica peculiar: seus sintomas começam a aparecer entre 30 minutos e uma hora após o consumo, e atingem o pico entre uma e quatro horas”, explicou o delegado Abimael Silva, responsável pelo caso.
Na coletiva de imprensa realizada em 8 de janeiro, o delegado relatou que Francisco foi o último a fechar a casa após a comemoração, e não houve registro de pessoas estranhas no local.
Durante os depoimentos, Francisco apresentou diferentes versões sobre o ocorrido e demonstrou comportamento hostil em relação à família de Francisca Maria.
“Ele deu mais de três versões do que aconteceu nesse intervalo. (…) Além de ter um desprezo completo pelos filhos da dona Francisca, aos quais ele chamou de primatas, viviam como uma tribo de índios, pessoas não higiênicas, pessoas que ele não queria conviver, mas suportava. Em específico para a dona Francisca Maria, ele disse que ela era uma criatura que tinha a mente boba, tola, matuta, morta de preguiça, não serve para nada, praticamente quase inútil”, declarou o delegado.
O laudo pericial
O Instituto de Medicina Legal (IML) confirmou que o veneno utilizado foi o terbufós, um inseticida altamente tóxico. A substância foi encontrada exclusivamente no baião de dois consumido pela família.
Inicialmente, a polícia investigou a possibilidade de o envenenamento ter sido causado por peixes doados à família, mas essa hipótese foi descartada após a perícia. O caso segue sendo tratado como homicídio qualificado.
Segundo caso de envenenamento na família
Em agosto de 2023, dois meninos, filhos de Francisca Maria, morreram após serem envenenados. João Miguel da Silva, de 7 anos, faleceu três dias após a ingestão da substância tóxica. Já Ulisses Gabriel da Silva, de 8 anos, morreu após dois meses de internação no Hospital de Urgência de Teresina (HUT).
De acordo com as investigações, Lucélia Maria Gonçalves, vizinha das vítimas, foi apontada como suspeita do crime. A mulher estaria irritada com o fato de os meninos entrarem em seu quintal para pegar frutas. Lucélia foi presa e indiciada por homicídio qualificado.
O Ministério Público do Piauí (MPPI) apresentou denúncia contra Lucélia com base nas acusações feitas pela polícia. Apesar de ter negado o crime, ela foi presa em flagrante e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. Após um laudo indicar que não havia veneno nos cajus supostamente doados pela mulher às crianças, a suspeita foi solta em janeiro deste ano e agora aguarda a audiência de instrução, marcada para o dia 17 de março.