O governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT), chegou ao Museu do Homem Americano, em São Raimundo Nonato, na noite de quarta-feira (4) para prestar as últimas homenagens à arqueóloga Niède Guidon, que faleceu aos 92 anos.
A despedida aconteceu no mesmo local onde a cientista dedicou sua vida, na área que abriga importantes sítios arqueológicos do mundo. Ao chegar no velório, ele classificou o momento como de “muita tristeza”, mas também de reafirmação de um legado que, segundo ele, continuará a inspirar gerações.
“Momento de tristeza, mas deixa um legado que inspira gerações. A doutora Guidon, sem dúvida, é uma grande figura do nosso Estado. Escolheu o Piauí para viver e fazer daqui um lugar de exemplo para o mundo em conservação da natureza e do patrimônio histórico da humanidade. O benefício que ela trouxe ao povo de São Raimundo Nonato e ao Piauí é digno de todas as homenagens”, afirmou o governador.
ATUAÇÃO PELA PRESERVAÇÃO
A data do velório coincidiu com o Dia Mundial do Meio Ambiente, o que, para Rafael Fonteles, traz ainda mais o simbolismo da trajetória da arqueóloga. “É uma coincidência incrível. Tem tudo a ver com a história dela. Cabe a nós nos inspirarmos nas lições de vida que ela nos deixou e continuar preservando a natureza e o nosso patrimônio”, acrescentou.
“A sustentabilidade ambiental não é apenas um dever cívico. É também um eixo de desenvolvimento econômico. A preservação da Serra da Capivara gera turismo, artesanato, economia criativa, ou seja, gera renda para o povo. Esse modelo é possível e deve ser fortalecido”, declarou Fonteles.
Niède Guidon também foi pioneira em defender a educação como base de transformação social. Ainda nos anos 90, ela apoiava a implementação de escolas de tempo integral em São Raimundo Nonato, experiência considerada inovadora à época. “Ela era uma mulher de vanguarda, pensava longe. Hoje, temos mais de 500 escolas de tempo integral no Piauí e essa proposta já era defendida por ela décadas atrás. Isso mostra o quanto ela estava à frente de seu tempo”, afirmou o governador.
A arqueóloga fundou a FUMDHAM e foi uma das principais responsáveis pela inclusão do Parque Nacional da Serra da Capivara na lista de Patrimônio Mundial da UNESCO. Seu trabalho ajudou a colocar o Piauí no centro do debate científico internacional sobre o povoamento das Américas.
Em 2024, Niède Guidon foi agraciada com o Prêmio Almirante Álvaro Alberto, uma das mais altas honrarias científicas do Brasil, concedida pelo CNPq, MCTI e Marinha do Brasil, em reconhecimento a sua contribuição à ciência nacional.
“Às vezes, ela era mais admirada fora do Piauí do que aqui. Mas tenho visto que essa percepção está mudando. O povo da região tem reconhecido, cada vez mais, a dimensão histórica e cultural do trabalho da doutora Guidon”, destacou Rafael Fonteles. O sepultamento da arqueóloga está previsto para esta quinta-feira (5).