A chegada do período mais quente e seco do ano, conhecido popularmente como B-R-O BRÓ, somada ao aumento de incêndios e queimadas, intensifica os riscos à saúde da população. Um dos principais agravantes enfrentados pelos teresinenses neste período é a grande quantidade de fumaça no ar. O MeioNews conversou com especialistas sobre os impactos causados e orientações que devem ser seguidas para amenizar esses efeitos.
PRINCIPAL CAUSA É A AÇÃO HUMANA
Dados do Corpo de Bombeiros do Piauí, enviados à reportagem, revelam que somente em agosto a capital registrou mais de 2 mil ocorrências de incêndios, além de 502 focos de queimadas em áreas de vegetação. No estado, entre os dias 1º e 17 de setembro deste ano, foram contabilizados 1.982 focos, um aumento de 29% em relação ao mesmo período de 2024, que registrou 1.410.
O coronel Egídio Leite, comandante de Operações do CBMEPI, informou que a baixa umidade e temperaturas elevadas facilitam o início e a propagação dos incêndios, mas que a causa fundamental dos grandes focos de fogo é a ação humana.
"Mas não tenham dúvidas, não é o calor e não é a baixa umidade que fazem o incêndio surgir. Esses incêndios surgem principalmente, fundamentalmente na sua absoluta maioria por conta do comportamento humano. Pessoas que ateiam fogo, que ainda não acreditam no que alertamos de ultimamente", relatou.
Ele ainda cita práticas proibidas e arriscadas que a população insiste em adotar, mesmo diante dos alertas impostos pela corporação. "Atear um fogo como renovação de pastagem, como mecanismo de limpeza, às vezes atear um fogo numa pequena quantidade de material e aí com a ação do vento inicia-se o incêndio e se propaga rapidamente. Eles não têm como fazer o enfrentamento", destacou.
"Só nos deixa uma margem de atuação em relação a essas pessoas. Aperfeiçoarmos os mecanismos de coação, porque pelo apelo e pela sensibilização não tem produzido os efeitos necessários", finalizou o comandante.
DADOS DE INCÊNDIOS E QUEIMADAS EM TERESINA
MAS, QUAIS OS IMPACTOS NA NOSSA SAÚDE?
Desta forma, o período, que compreende os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro, traz consigo uma combinação perigosa para a saúde. Em entrevista ao MeioNews, o Dr. Victor Campelo, médico otorrinolaringologista, reforçou que os prejuízos à saúde são diversos e atingem o sistema respiratório de forma crítica.
"Além da sobrecarga no sistema respiratório, há também o ressecamento das mucosas do nariz, boca e garganta, que ficam mais suscetíveis a inflamações e infecções", disse.
Além disso, segundo o especialista, a fumaça e o ar seco também agridem outras áreas sensíveis:
"Os olhos sofrem bastante com irritação, ardência e vermelhidão, porque a fumaça e o ar seco reduzem a lubrificação natural. A pele também perde mais água, favorecendo rachaduras e coceira" afirmou.
Entre 10h da manhã e 16h da tarde está o período mais crítico para a exposição ao ar livre, especialmente para crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias, como asma, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), ou cardíacas, que apresentam maior risco de complicações.
ALÉM DO SISTEMA RESPIRATÓRIO
O pneumologista, Dr. Braulio Dyego, alertou que o impacto se estendem muito além das vias aéreas e atingem o sistema cardiovascular e, a longo prazo, aumentam os riscos de câncer. O especialista explica que a fumaça das queimadas libera diversas substâncias nocivas, como o monóxido de carbono.
"Nesse período existe um aumento no número de doenças cardiovasculares e que pode ser atribuído a esse clima quente, seco e a fumaça que é liberada nas queimadas. Então existe um aumento na incidência de infartos e de Acidente Vascular Cerebral (AVC) também nesse período do ano. Outra coisa é que esse matérial particular também vem sendo associado ao câncer de pulmão, assim como a poluição em geral.
Assim, o especialista fez um apelo à responsabilidade social, destacando a abrangência do problema:
"É altamente lesivo e tóxico. A população tem que ter essa consciência de que o que ela produz ali no seu quintal, aquela queimada, pequena queimada, vai disseminar pela cidade toda e vai causar um prejuízo na saúde de toda a população", pontuou.
O Que Fazer para Amenizar os Danos
Para enfrentar o B-R-O-BRÓ de forma mais segura, ambos listaram medidas simples, mas extremamente eficazes:
Hidratação reforçada: "Beber água com frequência, mesmo sem sentir sede, é crucial para repor as perdas e manter o corpo funcionando adequadamente," afirmou Dr. Victor Campelo.
Em caso de queimadas próximas, fechar portas e janelas, além de deixar o ambiente umidificado. Caso não tenha umidificador de ar, os médicos recomendam o uso de recipientes, como bacias, de água nos cômodos, ou toalhas úmidas.
Caso tenha que sair na rua: "Use uma proteção adequada, como máscaras em 95 pff 2", indicou o Dr. Braulio Dyego.
Cuidados focados em nariz e olhos: "Lavar o nariz com soro fisiológico ajuda a manter a mucosa hidratada e remover partículas. O uso de colírios lubrificantes pode aliviar a irritação ocular", destacou o Dr. Victor Campelo.
Não realizar atividade física ao ar livre: "Principalmente nesse período de maior incidência de queimadas, que é no final da tarde", acrescentou o pneumologista.
- O horário recomendado é nas primeiras horas da manhã ou no início da noite.
Proteção da pele: "Hidratar a pele com cremes neutros e evitar banhos muito quentes ou demorados", finalizou o otorrinolaringologista.