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Estudante denuncia ter sido vítima de racismo na UFPI: “perguntou de qual tribo faço parte”

O Centro Acadêmico de História (CAHIS) divulgou uma nota de repúdio e informou que acusado de cometer o ato discriminatório já atacou outros estudantes

Ana Victória e suspeito de cometer racismo | Foto: Reprodução
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A estudante de História da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Ana Victoria relatou, na manhã desta quarta-feira (29), ter sido vítima de racismo dentro da instituição. O Centro Acadêmico de História (CAHIS) divulgou uma nota de repúdio e informou que acusado de cometer o ato discriminatório já atacou outros estudantes.

COMO ACONTECEU

Segundo a jovem Ana Victoria, as ofensas partiram de um homem branco que se apresentou como professor de economia equanto ela estava no Restaurante Universitário (RU). Ele teria questionado a estudante, que é negra, sobre “de qual tribo ela era” e sugerido que ela deveria “melhorar a aparência” caso quisesse seguir na docência.

"Eu me deparei com uma pessoa, um homem branco, e que me perguntou de qual tribo eu faço parte. Se eu uso piercings por questão de identitarismo, ou porque eu faço parte de uma tribo", contou.

O agressor, segundo o CAHIS, é apontado como responsável por ataques a outros estudantes em episódios parecidos. "Isso torna ainda mais urgente e imprescindível a adoção de medidas que assegurem sua responsabilização", diz o comunicado.

  “Acho que tem certos momentos da vida em que é importante a gente dar uma carteirada, né? Falei para ele: ‘Eu estou terminando meu curso de graduação e passei em dois mestrados públicos", continuou a jovem.

Ainda de acordo com a estudante, o homem tentou minimizar a situação, alegando que não tinha a intenção de ofendê-la. “Ele veio falar que não era para eu entender aquilo como preconceito, que era uma questão comparativa. Disse que estava apenas fazendo uma pesquisa, porque ele pesquisa isso e aquilo. Mas a gente que é da pesquisa sabe que existe todo um processo metodológico, um processo de conhecimento. O que ele fez comigo não foi pesquisa, foi um confronto.”

CONVERSA FOI GRAVADA

Ana Victoria afirmou ter registrado a conversa, mas optou por não divulgar o material. “Ainda bem que eu gravei toda a conversa. Não vou expor aqui porque não me sinto confortável para isso. Mas ele não chegou com intuito de pesquisa, e sim para me deixar desconfortável, para afirmar que a universidade não é meu lugar por conta da minha aparência.”

A estudante afirmou que essa ação do susposto professor foi um episódio evidente de racismo e destacou que a universidade ainda é um espaço onde essas situações ocorrem.

“Esse comentário foi um racismo tão explícito que não dá nem para dizer que foi algo disfarçado. Venho relatar isso porque não seria justo guardar só para mim. A universidade ainda é, além de tudo, um lugar muito racista, um lugar construído por pessoas racistas", falou Victória.

NOTA DO CAHIS

O Centro Acadêmico de História (CAHIS), representando toda a comunidade estudantil, vem a público expressar seu mais profundo e veemente repúdio ao ato de racismo cometido contra nossa colega, Ana Victoria, no dia 28 de janeiro de 2025. 

O agressor, que proferiu ofensas raciais contra Ana, já havia sido responsável por ataques a outros estudantes em episódios igualmente lamentáveis, o que torna ainda mais urgente e imprescindível a adoção de medidas que assegurem sua responsabilização. Racismo é crime e, enquanto sociedade, não podemos tolerar nenhuma forma de discriminação, violência ou opressão baseada na cor da pele, origem ou identidade étnica.

Este episódio deplorável evidencia, mais uma vez, a urgência de enfrentarmos o racismo estrutural e institucional que persiste em nossa sociedade. A dignidade humana não pode ser ferida sem reação. É imperativo que não nos calemos diante de situações que perpetuam desigualdades históricas e violam os direitos básicos de qualquer indivíduo. A luta antirracista é inadiável, devendo ser protagonizada por todos e em todos os espaços.

Nos solidarizamos com Ana Victoria, oferecendo todo o apoio necessário para enfrentar este momento, e reafirmamos nosso compromisso com a construção de um ambiente acadêmico e social mais inclusivo, igualitário e livre de preconceitos. Convocamos toda a comunidade a somar forças conosco, denunciando práticas racistas e promovendo ações que valorizem a diversidade e fomentem o respeito às diferenças. Seguiremos firmes e inabaláveis na luta por uma sociedade justa, onde o racismo e todas as formas de opressão sejam combatidos e extirpados. Não haverá espaço para retrocessos.

Essa é uma causa de todos nós.

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