Após as alegações da defesa de Francisco de Assis Pereira da Costa, réu no caso das mortes por envenenamento no Piauí, o delegado Abimael Silva esclareceu que, apesar de o laudo toxicológico do acusado ter apontado a presença de Terbufós em seu sangue, a polícia acredita que a contaminação tenha ocorrido por outros meios.
Em entrevista ao MeioNews, o delegado responsável pelo indiciamento do réu explicou que o laudo já consta no inquérito desde o início e ressaltou que o resultado positivo “não significa dizer que ele é inocente”. Segundo ele, a sintomatologia apresentada por Francisco no dia do caso, em janeiro deste ano, foi diferente das outras vítimas.
“Todas as vítimas tiveram a reação entre 30 a 40 minutos após consumir o alimento ou a bebida com veneno, porque a atuação desse veneno é muito forte, muito rápida, diferente do Assis que demorou 3 a 4 horas para apresentar um sintoma. Esse tipo de sintoma é o compatível com a contaminação cutânea pela pele, pela inalação, pela via cutânea. Ou seja, está mais para uma pessoa que manuseou veneno do que quem ingeriu via oral”, explicou o delegado Abimael.
A autoridade ainda pontuou que é um argumento já esperado por parte da defesa do réu e que agora é aguardar a decisão do judiciário. “Eu acredito que o juiz vai analisar e depois vai ver se tem a situação, até porque a motivação da prisão é uma questão de mérito. Ele está já discutindo o mérito. Então, eu acho que a motivação da prisão dele não se trata única e especificamente desse laudo”, finalizou.
DEFESA
A reportagem entrou em contato com a defesa de Francisco, o advogado Herbert Assunção, que refutou a versão apresentada pela polícia.
“O laudo pericial não atesta que foi por contaminação cutânea e nem há provas nos autos que confirmem tal alegação da polícia. O laudo pericial atesta que foi comprovado no sangue de Francisco. Se fosse por contaminação cutânea, então todas as demais vítimas de envenenamento que foram a óbito também seria por contaminação cutânea, como pretende sustentar a polícia? Não tem lógica”, disse a defesa.
SOBRE O EXAME
O exame toxicológico foi feito em janeiro deste ano a pedido da Polícia Civil. O advogado de defesa, Herbert Assunção, afirma que o laudo indica que o réu Francisco de Assis também teria sido vítima de envenenamento e que o documento teria sido omitido pelo Ministério Público. Segundo ele, é uma prova técnica e contundente que muda o rumo do caso. A defesa argumenta que, por causa desse laudo, não há elementos suficientes para que o réu vá a julgamento.
“As testemunhas confirmaram o que o laudo atesta: Francisco de Assis foi vítima de envenenamento. A Justiça não pode cometer o erro de levá-lo ao Tribunal do Júri”, completou o advogado.
Vale ressaltar que o Terbufós é um agrotóxico usado na agricultura, mas que, em contato com o corpo humano, pode causar intoxicação grave e até morte.
O QUE ACONTECE AGORA?
Agora, o juiz responsável pelo caso deve decidir se pronuncia Francisco, o que o levaria a ser julgado pelo júri popular, ou se o impronuncia, reconhecendo falta de provas suficientes para a acusação seguir adiante. O advogado informou que não há um pazo determinado para a decisão mas que acredita que seja rápido.
primeiro caso
Em agosto de 2024, Ulisses Gabriel da Silva, de 8 anos, e João Miguel da Silva, de 7 anos, foram internados com sintomas de intoxicação e morreram dias depois. À época, a principal suspeita era de que os meninos haviam ingerido cajus contaminados com veneno, o que levou à prisão da vizinha Lucélia Maria da Conceição, de 52 anos, apontada inicialmente como autora dos crimes.
Um laudo definitivo da Perícia Científica do Piauí comprovou que os cajus não estavam envenados, levando o Ministério Público Estadual solicitar a libertação de Lucélia Maria. O promotor Silas Sereno Lopes pediu a realização de novas diligências para esclarecer as circunstâncias das mortes. O pedido foi aceito pela Justiça, e Lucélia foi solta e oficialmente inocentada das acusações.
SEGUNDO CASO
Em janeiro de 2025, novos envenenamentos na familía das crianças ocorreram. Ao todo, cinco pessoas da mesma família morreram após consumirem um baião de dois contaminado com terbufós em um almoço no dia 1° de janeiro. Inicialmente, a suspeita era de que o veneno estivesse em peixes doados à família, mas os exames periciais descartaram essa hipótese.
terceiro caso
Dias depois, Maria Jocilene, que estava presente no almoço, foi novamente encaminhada ao hospital. Ela morreu no dia 24 de janeiro, após ir a casa de Maria dos Aflitos, também acusada dos crimes e matriarca da família. Em depoimento, Maria confessou ter colocado veneno no café da vítima, sua vizinha e ex-nora, numa tentativa de culpá-la pelos crimes e livrar o marido.
vÍTIMAS DE JANEIRO
- Maria Gabriela (4 anos) - morreu após 20 dias internada.
- Igno Davi (1 ano e 8 meses)
- Maria Lauane (3 anos)
- Manoel da Silva (18 anos)
- Francisca Maria (32 anos)
- Maria Jocilene da Silva (41 anos) - chegou a ter alta, mas voltou a ser hospitalizada antes de falecer.
O caso continua sob análise da Justiça, e tanto Francisco quanto Maria seguem presos preventivamente enquanto aguardam a decisão sobre se irão a julgamento pelo Tribunal do Justiça.