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Defensoria pede na Justiça a interdição de abrigo para crianças e adolescentes no Piauí

Crianças e adolescentes vivem em condições insalubres na CAIP, com falta de alimentação adequada, água potável e atendimento médico

Crianças em condições de insalubridade | Fotos: Divulgação/Ascom/DPE-PI
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A Defensoria Pública do Estado do Piauí, por meio da Comissão de Defensoras e Defensores Públicos, instituída pela Portaria GDPG nº 1.102/2023, impetrou Ação Civil Pública (Processo nº 0802858-26.2025.8.18.0031) contra o Município de Parnaíba em favor das crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade acolhidos na Casa de Acolhimento Infanto Juvenil de Parnaíba (CAIP)

O estabelecimento, mantido pela Prefeitura Municipal de Parnaíba e vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania (SEDESC), opera em condições precárias, violando direitos fundamentais previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

A ação foi motivada por denúncias de maus-tratos, superlotação, falta de higiene e alimentação inadequada, apuradas por meio do Procedimento Preparatório para a Propositura de Ações Coletivas (PROPAC nº PP000002/2024). Durante inspeções, a Defensoria constatou falta de água potável, alimentos vencidos, ausência de atendimento médico e estrutura física insalubre, incluindo esgoto a céu aberto e caixas de gordura expostas.

Condições degradantes e descaso administrativo

As inspeções realizadas pela Comissão de Defensoras e Defensores Públicos, composta por Débora Cunha Vieira Cardoso (presidente), Gerson Henrique Silva Sousa, Sarah Vieira Miranda, Daniela Neves Bona, Afonso Lima da Cruz Junior e Igor Castelo Branco de Sampaio, revelaram:

  • Superlotação e permanência prolongada de crianças e adolescentes (algumas há mais de 4 anos), sem progresso na desinstitucionalização;

  • Falta de capacitação dos profissionais e controle de ponto irregular;

  • Ausência de Plano Político Pedagógicorelatórios desatualizados;

  • Estrutura física inadequada, com riscos de incêndio e acessibilidade inexistente, conforme laudos do Corpo de Bombeirosengenheiro perito;

  • Falta de produtos de higiene pessoal e limpeza, além de alimentos insuficientes e vencidos;

  • Crianças com deficiência sem tratamento médico ou fisioterapia;

  • Brinquedoteca trancada, liberada apenas durante fiscalizações.

Defensoria pede interdição imediata e transferência dos acolhidos

Diante da gravidade das violações, a Defensoria requereu liminar para interdição do prédiotransferência urgente das crianças e adolescentes para local seguro e salubre, como rede hoteleira ou outra instituição adequada. Também foi solicitada a nomeação de um interventor judicial para garantir a gestão correta da unidade.

Relatos chocantes e omissão do poder público

A defensora pública Débora Cunha Vieira Cardoso, presidente da Comissão, destacou:

“Presenciamos situações estarrecedoras, como crianças sem alimentação e água potável. Denúncias revelam que cuidadores precisam comprar comida e produtos de higiene com dinheiro próprio. Encontramos esgoto a céu aberto e condições de higiene deploráveis.”

A defensora Sarah Vieira Miranda reforçou:

“O Município tem obrigação legal de garantir dignidade, segurança e atendimento médico. O que vimos foi negligência grave, exigindo ação judicial imediata para proteger essas crianças.”

Já a defensora Daniela Neves Bona afirmou:

“Mesmo após notificações, o Município não agiu. A situação só piorou. Judicializar foi a única forma de garantir o mínimo existencial a quem já vive em vulnerabilidade.”

Próximos passos

A Justiça deverá analisar o pedido de liminar para interdição e transferência emergencial. A Defensoria também busca responsabilização administrativa e civil pelos danos causados às crianças e adolescentes.

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