SEÇÕES

Caso Tatiana Medeiros: audiência de instrução chega ao fim após cinco dias

Encerrada nesta sexta (28), a audiência de instrução e julgamento ouviu 112 pessoas, reuniu réus, investigadores e testemunhas, e agora segue para decisão de um colegiado de três juízes, sentença ficará para 2026

Tatiana Medeiros e seu namorado Alandilson saindo do Fórum Eleitoral | Foto: Eliaquim de Paula/ Meionews
Siga-nos no

A audiência de instrução e julgamento do caso envolvendo a vereadora Tatiana Medeiros (PSB), investigada por crimes eleitorais e suspeita de envolvimento em organização criminosa, chegou ao fim na tarde desta sexta-feira (28), após cinco dias de depoimentos, análises técnicas, reforço de segurança e a oitiva de dezenas de testemunhas convocadas entre as 112 pessoas intimadas pela Justiça.

O procedimento, considerado inédito pela complexidade e pelas proporções no estado do Piauí, ocorreu no Fórum Eleitoral de Teresina, com início na segunda-feira (24) e encerramento por volta das 14h30 desta sexta (28). Tatiana, presa em abril e atualmente em prisão domiciliar, compareceu a todas as etapas, segundo a defesa, para reforçar “lisura, transparência e colaboração com a Justiça”.

Como foi o 1º dia

A primeira sessão ocorreu na segunda-feira (24) e durou quase dez horas. Uma das testemunhas não compareceu. Tatiana deixou o Fórum no início da noite, acompanhada da mãe e de advogados, sem falar com a imprensa.

O namorado da vereadora, Alandilson Cardoso, também réu, chegou escoltado e pediu dispensa para não retornar nos demais dias, comparecendo apenas nesta sexta-feira para seu depoimento. Ao sair, evitou jornalistas e cobriu o rosto.

A defesa classificou o início dos trabalhos como “dentro da normalidade”.

Tatiana Medeiros e Alandilson - Foto: Alécio Rodrigues/MeioNews

2º dia: defesa nega vínculo e testemunha passa mal

Na terça (25), o tio e advogado de Tatiana, Francisco Medeiros, afirmou à TV Meio Norte que a vereadora “não tem vínculo nenhum com o senhor Alandilson” e que “não tem participação de facção criminosa dentro do processo eleitoral”.

O segundo dia foi marcado ainda por um incidente: uma testemunha passou mal durante o depoimento e foi dispensada pela juíza.

Do lado da acusação, o promotor Mário Normando afirmou que “várias testemunhas confirmaram a prática de compra de votos atribuída à vereadora”, embora outros depoimentos tenham negado a irregularidade. Ele também destacou que pessoas relataram suposto trabalho eleitoral sem pagamento.

Tatiana Medeiros  no segundo dia de audiência - Foto; Saymon Lima 

3º dia: testemunhas da defesa e investigação ‘robusta’

Na quarta-feira (26), terceiro dia das oitivas, mais de 20 testemunhas indicadas pela defesa foram ouvidas, entre elas o secretário estadual de Planejamento, Washington Bonfim. Ao todo, 22 depoimentos foram colhidos e sete nomes acabaram dispensados por não prejudicarem o processo.

Pela manhã, o promotor João Batista de Castro Filho declarou que a investigação da Polícia Federal é “bastante robusta, suficiente para o êxodo da acusação”, reforçando que as provas colhidas apontam “prática de todos os crimes elencados”.

A audiência encerrou às 15h, mantendo o ritmo acelerado observado ao longo da semana.

Tatiana Medeiros e o promotor de Justiça João Batista de Castro Filho - Foto: MeioNews 

4º dia: familiares em silêncio

O quarto dia, na quinta-feira (27), avançou rapidamente. Foram ouvidas 12 testemunhas, principalmente familiares de Tatiana: a mãe (Maria Odélia), o padrasto (Stênio Ferreira Santos), a irmã (Bianca Medeiros) e o cunhado (Lucas Sena).

Todos permaneceram em silêncio, direito garantido pela legislação, e quatro outras testemunhas foram dispensadas.

5º dia: depoimentos dos réus e silêncio estratégico

Nesta sexta (28), último dia da audiência, os principais acusados foram ouvidos: Tatiana, Alandilson e outros sete réus. Eles respondem por lavagem de dinheiro, organização criminosa, peculato e fraude eleitoral.

O promotor Plínio Fontes destacou que, até o início da tarde, a maioria dos réus havia exercido o direito de permanecer calada:

“Os réus exerceram o direito de ficar em silêncio. Isso é irrelevante para o Ministério Público. O porte da prova é documental.”

Fontes explicou que a investigação se apoia em extratos bancários, mensagens citando títulos de eleitor, inúmeras transferências via PIX e uso de laranjas.

“São inúmeras movimentações bancárias, o uso de laranjas, as mensagens trocadas falando em título eleitoral, em envio de PIX, ‘manda PIX pra cá, manda PIX pra lá’.”

Tatiana rompe o silêncio

Após dias reservada, Tatiana decidiu falar nesta sexta. Segundo seu advogado, Édson Araújo, ela apresentou sua versão completa dos fatos e exibiu vídeos que considera provas em sua defesa.

A defesa afirma que ela explicou “toda a via-crúcis pela qual vem passando” e “prestou todos os esclarecimentos com segurança”.

Depoimento de Alandilson

O companheiro da vereadora, apontado pelo Ministério Público como operador financeiro de um esquema ligado ao Bonde dos 40, falou por cerca de 20 minutos. Na saída do fórum ele negou qualquer envolvimento com facção ao repórter Denis Constantino da Tv Meio Norte:

“Tão querendo pegar o Alandilson pra Cristo. [...] Faço parte de facção criminosa não, senhor. E nem me configuro a esse monte que estão falando que eu sou, não.”

Após falar apenas às perguntas da defesa e da juíza, ele retornou à Cadeia Pública de Altos.

Pedido extinto por abandono

Durante o andamento do caso, a Justiça extinguiu um pedido apresentado pela vereadora após ausência de manifestação das partes. A juíza citou o artigo 485, III, do Código de Processo Civil, que prevê o encerramento quando ambas as partes abandonam a causa por mais de 30 dias.

O que acontece agora

Com o encerramento desta etapa, o processo entra na fase de alegações finais da defesa e do Ministério Público. Após isso, os autos serão avaliados por um colegiado de três juízes, e não por um único magistrado. Segundo informações obtidas pelo MeioNews, a sentença deve sair apenas em 2026.

Quem são os acusados

  • Tatiana Teixeira Medeiros (vereadora)
  • Alandilson Cardoso Passos (companheiro)
  • Stênio Ferreira Santos (padrasto)
  • Maria Odélia Medeiros (mãe)
  • Emanuelly Pinho de Melo (assessora)
  • Bianca Medeiros (irmã)
  • Lucas de Carvalho Dias Sena (cunhado)
  • Bruna Raquel Lima Sousa (ONG Vamos Juntos)
  • Sávio de Carvalho França (ONG Vamos Juntos)

Eles respondem por crimes como organização criminosa, compra de votos, lavagem de dinheiro, peculato e corrupção eleitoral.

A investigação

Tatiana foi presa em 3 de abril após mandado expedido em 23 de março. Em junho, passou à prisão domiciliar por questões de saúde. Segundo a Polícia Federal, a campanha que a elegeu teria sido financiada com recursos de facção criminosa supostamente liderada pelo namorado.

Alandilson segue preso devido a outros mandados, apesar de decisão judicial anterior que anulou parte das provas financeiras por coleta ilegal.

Tópicos
Carregue mais
Veja Também