Em 2025, a Escola Municipal Casa Meio Norte celebra 25 anos de fundação como uma das principais referências em educação pública de Teresina. Com resultados expressivos, como o melhor desempenho no Ideb da rede municipal nos Anos Iniciais, o lugar construiu sua história com base em projetos pedagógicos que valorizam autonomia, criatividade e acolhimento.
Um dos pilares dessa trajetória é o Projeto Borboleta, uma iniciativa de alfabetização e incentivo à leitura que revolucionou o modo de ensinar e aprender na instituição e que, hoje, já impacta outras unidades de ensino. A coordenadora pedagógica e especialista em alfabetização, Ruthnéia Lima, recorda que a ideia do projeto surgiu de um olhar atento para o cotidiano das crianças.
A partir dessas experiências, a coordenadora e a professora Osana Morais decidiram estudar mais a fundo o desenvolvimento psicomotor e sua relação com a aprendizagem cognitiva. Elas começaram a testar práticas pedagógicas que uniam o corpo à escrita, uma inovação para a época.
Uma nova forma de alfabetizar
Ruthnéia lembra que alguns professores acreditavam que alfabetizar se resumia a “cobrir letra”. O projeto transformou essa lógica: a atividade foi adaptada para uma vivência corporal antes da escrita. O resultado surpreendeu. “A gente percebeu que as crianças com dificuldades na atividade corporal eram as mesmas que enfrentavam desafios na atividade escrita. A partir disso, fomos aprimorando nossas práticas pedagógicas”, explicou.
O nome do projeto também nasceu de uma reflexão profunda. A borboleta representa a diversidade e a transformação, elementos centrais no processo de aprendizagem.
“Cada criança tem sua forma de aprender, sua família, sua formação, seu jeito de ver o mundo. Assim como existem plantas que atraem apenas certos tipos de borboletas, o professor precisa ser como uma árvore com vários galhos, cada um atraindo um tipo de borboleta — que são as nossas crianças, com suas peculiaridades e singularidades”, explicou Ruthnéia.
Além disso, a coordenadora também destacou a metáfora da metamorfose: assim como a lagarta que decide construir seu casulo para, no tempo certo, se transformar em borboleta e espalhar pólen pelo mundo, a escola também precisa criar condições para que seus alunos se desenvolvam plenamente.
“A borboleta nos ensina que cada processo tem seu tempo, e quando ele é respeitado, o resultado floresce”, acrescentou.
Uma pedagogia assertiva
Mais do que um método, o Projeto Borboleta representa uma mudança de mentalidade. A proposta coloca a criança no centro do processo de aprendizagem, reconhecendo suas dificuldades como ponto de partida para a ação pedagógica.
“Acreditamos em um binômio: o aluno ensina e o professor aprende. As dificuldades da criança levam o professor a estudar, pesquisar e aprimorar sua prática para obter resultados. É um movimento de mão dupla”, resumiu Ruthnéia.
Essa concepção reflete uma pedagogia da afetividade, baseada no respeito às singularidades de cada aluno. O professor atua como mediador do desenvolvimento integral, cognitivo, motor, emocional e socioemocional, criando um ambiente seguro e estimulante para que o conhecimento floresça.
Um dos diferenciais do projeto é o embasamento científico. Para Ruthnéia, a previsibilidade e a sistematização são fundamentais para que o cérebro da criança aprenda de forma significativa.
“O cérebro precisa de rotina e metodologia contínua. Essa organização ajuda a consolidar aprendizagens de forma real e duradoura”, explicou. “Nossa concepção de aula é como um texto: tem introdução, desenvolvimento e conclusão. O plano pedagógico interessa ao aluno e ao professor, que vivem juntos as ações e reações desse processo.”
Resultados que transformam
Com base nesses princípios, o modelo já alfabetizou mais de 60 mil crianças nos estados do Piauí e Maranhão, se consolidando como referência por ampliar horizontes para milhares de estudantes.
A professora Thaysa de Sá reforçou que o projeto dá suporte concreto ao trabalho docente, fornecendo materiais e metodologias bem estruturadas.
“O material é preparado para que os alunos possam interagir na aula por completo, em todos os seus passos. A gente recebe tudo prontinho: livros, paradidáticos, atividades. O professor implementa o método e faz com que ele aconteça efetivamente dentro da sala de aula, com tudo idealizado e planejado”, comentou.
De acordo com a diretora adjunta da escola, Stefanie Costa, esse impacto vai muito além dos números e das avaliações formais. Ela explica que os resultados mais transformadores aparecem no cotidiano, nas pequenas conquistas de cada aluno e na confiança que eles passam a ter em si mesmos.
“É gratificante observar o desempenho dos alunos, perceber a autonomia que conquistam e como passam a acreditar no próprio potencial”, afirmou. Para Stefanie, quando uma criança entende que é capaz, tudo ao seu redor muda: o jeito de aprender, de se relacionar e de enxergar o futuro. “O que vemos é a formação de sujeitos fortes, criativos e conscientes do seu valor.”