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Áudios mostram que influenciadoras tinham meta de matar rivais e treinar novas criminosas

Até o momento, 19 pessoas foram indiciadas, sendo 18 delas presas preventivamente.

Áudios da Operação Faixa Rosa revelam a rotina de influenciadoras ligadas ao crime | Foto: Divulgação - Polícia Civil
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Áudios divulgados hoje (4) pela Polícia Civil do Piauí revelam como funcionava parte da rotina das mulheres investigadas na Operação Faixa Rosa, deflagrada no dia 30 de abril pelo DRACO (Departamento de Repressão às Ações Criminosas Organizadas). Além de exaltar o crime nas redes sociais, influenciadoras tinham metas dentro de facções e promoviam uma espécie de “doutrinação” de novas integrantes.

Entre as citadas nas conversas está Ana Azevedo, blogueira que chegou a se defender em um dos trechos obtidos pelos investigadores. Até o momento, 19 pessoas foram indiciadas, sendo 18 delas presas preventivamente. Segundo a polícia, as investigadas usavam as redes sociais para promover o tráfico de drogas, exibir armas e incitar a violência.

COBRANÇA PELA MORTE DE rival

Nos áudios, uma mulher não identificada cobra agilidade para matar rivais. “Bora caçar a meta de todo mundo matar alemão. Só ficar com fufu não. Toda vez um fufu pra nossa organização resolver… nossa organização não é só de fufu não.”

O trecho deixa claro que havia uma cobrança por ações violentas contra rivais, chamados no jargão criminoso de “alemão”. A fala indica também uma insatisfação com quem estaria apenas aproveitando dos benefícios da facção, sem cumprir o que era considerado “compromisso” dentro do grupo.

Outro trecho reforça a existência de um estatuto interno da organização. Ainda segundo essa mesma integrante: “Vê o estatuto de novo aí. O certo é o certo. Já foi um grau, dois de grau, três de grau, essa já é quarto grau, mano.”

A menção aos “graus” parece indicar um sistema de advertências ou etapas internas antes de punições mais severas. 

O QUE DIZ ANA AZEVEDO

A influenciadora Ana Azevedo aparece em um dos trechos, tentando se justificar sobre um conflito com outra mulher da organização. Ela afirma que não expôs ninguém por maldade, mas que, como blogueira, considerava necessário se posicionar publicamente:

“Eu sim iria levar ela pra internet como vocês viram aí no print, porque eu sou uma pessoa pública e nós que somos blogueiras, algumas vezes é necessário postar algumas coisas”, falou.

Em outro momento, Paula Moura, conhecida como Palhacinha, demonstra irritação com o comportamento de novatas e cita a intenção de ensiná-las a agir conforme o “código do crime”:

“Se a Ana Azevedo quiser também, todo mundo dá uma forcinha pra ela… pra nossas irmãs estar aprendendo com nós um pouco do dia a dia, aprendendo a ética do crime com nós… elas entraram agora, não sabem muito, né, tá no estudinho ainda.”

Endereços de rivais compartilhados como “mamão com açúcar”

Em um dos áudios, integrantes do grupo trocam informações sobre três alvos. Elas citam nomes, ruas, números de casas e até a cor da roupa de um deles, o que, segundo a polícia, pode indicar um possível planejamento de ataque.

Layla Moura dos Santos Feitosa: “Ei, esse bicho ‘réi’ aí mora onde é?”

Layla: “Aí dizendo aí, Cidade Nova, duas ruas 22, casa 242 é a casa deles, ou é a casa desse Breno aí de camisa branca?”

Eryka Carollyne: “A casa desse Breno aí, as informações. Tá tudinho aí, foi o Arlindo.”

Eryka: “Aí, só na maldade ele botou o endereço, ainda mostrou o jeito da casa aí, é mamão com açúcar pra derrubar todos os três.”

A expressão “mamão com açúcar” é interpretada como uma forma de dizer que seria fácil matar os supostos rivais, já que o endereço e características deles foram repassadas com riqueza de detalhes.

Mulher não identificada: “A organização é pra matar alemão, é pra ganhar dinheiro, ganhar progresso, parceiro. Pega a visão da situação.”

Segundo o delegado Charles Pessoa, coordenador do DRACO, essas conversas reforçam a ligação do grupo com facções criminosas de alcance nacional. “Havia metas internas, regras, grau de advertência e todo um código de conduta”, explicou.

CADASTRO PARA O CRIME

A investigação também identificou cadastros com dados completos dos membros, como nome verdadeiro, apelido, comunidade onde atuavam e data de entrada. Esses registros só eram preenchidos após o entendimento e aceitação do estatuto do grupo, segundo os documentos apreendidos.

O delegado Charles Pessoa reforça que esse tipo de organização, com forte presença nas redes, representa um risco direto à juventude:

“Influenciadoras com grande alcance digital vêm utilizando as plataformas como vitrines do crime, promovendo uma estética violenta, banalizando a criminalidade e incentivando a adesão de jovens ao tráfico de drogas, à organização criminosa e ao confronto armado com o Estado.”

O caso segue sob análise do Ministério Público e da Vara de Entorpecentes de Teresina.

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