Adriana Calcanhotto é uma compositora brasileira de canções. Ou, talvez seja mais preciso, uma compositora brasileira de canção brasileira. Todas as palavras que estiver à nossa disposição não serão suficientes para definir o talento da artista. Ela volta a Teresina, dia 19 de agosto, no Centro de Convenções de Teresina, com a turnê Errante.
O show de Adriana Calcanhotto será apresentado no Pavilhão Delta, no Centro de Convenções de Teresina. As vendas de ingressos iniciam em breve e estarão à disposição na loja da Kalor Produções no Riverside Shopping e através do site Ingresse.com.
Em sua música, Calcanhotto passeia por todos esses nomes e faces. Mais do que isso, encarna de maneira constante e consistente essa natureza ampla da canção brasileira, numa síntese alcançada por pouquíssimos artistas. É autora de dezenas de sucessos cantados por multidões nos shows, ouvidas nas trilhas sonoras das popularíssimas novelas feitas no país, tocados nas rádios e nas plataformas de streaming (somente no Spotify, ela tem cerca de 1,3 milhão de ouvintes mensais).
Mas de uma estrofe de uma canção romântica sua pode emergir, por exemplo, referências às “cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo” para dar conta da angústia que qualquer ouvinte entende, expressa noutro verso, cantado pouco depois: “meu amor, cadê você?”. Arte contemporânea e festas de periferia, Amy Winehouse e Camões, a poluição dos oceanos e o ato desesperado de arranhar discos para atrair a atenção do amado. Tudo interessa ao olhar — e à canção — de Calcanhotto.
Com a mesma fome feroz e elegante, que ela exercita com o refinamento de quem domina talheres e caninos. Esse caráter especial de seu trabalho rendeu a ela não só o status de uma das artistas mais populares e respeitadas do Brasil — e dois Grammys Latinos (em cinco indicações). Em 2015, ela foi nomeada Embaixadora da Universidade de Coimbra, onde depois foi convidada para dar aulas sobre poesia e composição de canções.
Como uma expressão natural do prolongamento de seus interesses, em 2008 publicou um relato autobiográfico de um surto psicótico vivido em Portugal (“Saga lusa”). Em 2014, organizou e ilustrou uma antologia de haicais brasileiros (“Haicai do Brasil”).
Carreira musical
Chic e pop, acadêmica e hitmaker, romântica e filosófica, Calcanhotto tem em sua discografia 12 álbuns de estúdio — o 13º, “Errante”, já gravado, foi lançado no primeiro semestre deste ano. Desses, três são pensados para o público infantil, e ela os assina como Adriana Partimpim, um heterônimo (num aceno ao poeta português Fernando Pessoa e seus heterônimos famosos). Além desses, lançou sete registros ao vivo (dois deles de Partimpim).
Em 1998, Calcanhotto lançou “Maritmo”, álbum que acabaria por dar início a uma “trilogia marítma”, completada pelos discos “Maré” (2008) e “Margem” (2019). Neles, ela tematiza o mar no que há nele de metáfora e de concreto — ou seja, ora visto como um símbolo da inconstância absoluta do amor, ora como o túmulo de milhões de refugiados. Sempre da perspectiva de uma compositora popular, ou seja, que diz em poucas palavras, as certas, o que cabe na melodia.
Desenvolvido em 2018 como um “concerto-tese”, conclusão da residência artística de Calcanhotto na Universidade de Coimbra, “A Mulher do Pau-Brasil” amarra ideias sobre a identidade brasileira que estão no centro do pensamento da artista — e da própria canção brasileira — desde o início de sua carreira. Apareciam ali a violência do processo de formação do país (naquele momento refletido na chegada ao poder da extrema-direita) e a potência de superação dessa violência inaugural.
Em 2020, em meio ao isolamento provocado pela pandemia, ela escreveu e gravou, sozinha em casa, um grupo de canções, reunidas no álbum “Só”. “Errante”, seu úlimo disco, anuncia desde o título o desejo de expansão depois da reclusão. Ampliar — a natureza da canção brasileira, a natureza de Calcanhotto.