15 anos de lei seca: Piauí registra alta taxa de internação por acidentes

De acordo com o documento, o ano de 2021 registrou um total de 10.887 vítimas fatais de acidentes causados pela combinação de álcool e direção, resultando em uma média de 1,2 óbitos por hora.

O ano de 2021 registrou um total de 10.887 vítimas fatais de acidentes. | Divulgação / Pexel
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O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) divulgou um dossiê contendo informações sobre os acidentes causados pelo consumo de álcool no país. Os dados foram disponibilizados pelo Ministério da Saúde. As informações foram apresentadas nesta segunda-feira (19), data em que a Lei Seca, um marco na luta contra violência no trânsito no Brasil, celebra seu 15º aniversário.

De acordo com o documento, o ano de 2021 registrou um total de 10.887 vítimas fatais de acidentes causados pela combinação de álcool e direção, resultando em uma média de 1,2 óbitos por hora. Embora esse dado seja alarmante, é importante ressaltar que a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes em 2021 foi 32% menor do que em 2010, quando a Lei Seca estava em vigor há apenas dois anos. Durante esse período, o número de óbitos anuais reduziu de sete para cinco por 100 mil habitantes.

No que diz respeito às hospitalizações, o estado do Piauí ocupa a primeira posição no ranking, com uma taxa de 85,2 internações a cada 100 mil habitantes. Por outro lado, o estado do Amazonas registrou o menor índice, com 11,8 casos por 100 mil habitantes. Esses números demonstra uma diferença significativa entre os dois estados em relação às hospitalizações por acidentes relacionados ao consumo de álcool.

“Esse número é altíssimo se a gente considerar que as mortes atribuídas ao álcool por acidente de trânsito são completamente evitáveis. É só você não beber”, diz o psicólogo e pesquisador do Cisa, Kaê Leopoldo. Segundo o levantamento, cerca de 5,4% dos brasileiros relataram dirigir após beber, índice que tem apresentado estabilidade no país.  

Diante do estudo, foi constatado  um aumento de 34% nas hospitalizações gerais, passando de 27 para 36 internações a cada 100 mil habitantes. Essa tendência foi impulsionada pelos acidentes envolvendo ciclistas e motociclistas, uma vez que houve redução nas hospitalizações de ocupantes de veículos e pedestres envolvidos em acidentes relacionados ao consumo de álcool.

Para Kaê, o número ainda é excessivamente alto, mas “a gente precisa entender que a tendência é de redução. Vem sempre existindo uma tendência de redução ao longo dos 10 anos analisados”, ressaltou.

Segundo o pesquisador do Cisa, a ampliação das hospitalizações envolvendo ciclistas e motociclistas pode estar associada ao aumento da frota de veículos no período analisado.

Ainda de acordo com o estudo as  hospitalizações apresentam variações consideráveis entre os estados. Enquanto Tocantins (11,8), Mato Grosso (11,5) e Piauí (9,3) registram mais de nove óbitos por 100 mil habitantes devido a acidentes relacionados ao consumo de álcool, Amapá (3,6), São Paulo (3,5), Acre (3,5), Amazonas (3,2), Distrito Federal (2,9) e Rio de Janeiro (1,6) não alcançam sequer quatro óbitos por 100 mil habitantes.

Em relação às hospitalizações, os números podem variar de 85,2 por 100 mil pessoas, como no Piauí, até 11,8 por 100 mil no Amazonas. Essa diferença representa mais de sete vezes entre os dois estados. O pesquisador destaca a complexidade de compreender as causas dessa discrepância.

“Principalmente na questão dos motociclistas, que representam um caso que merece atenção especial. Cresceu o total de motoboys e de entregadores. Eles passaram a trabalhar em horários que, às vezes, há outras pessoas dirigindo embriagadas [cujos veículos]  podem [atingir] motoboys”, destacou Kaê.  

A socióloga Mariana Thibes, coordenadora do Cisa, diz que as autoridades locais devem aumentar a fiscalização nas ruas e implementar campanhas de educação.

“A educação da população tem um importante papel na segurança viária e, em relação à fiscalização, sabemos que quando não há continuidade o impacto na redução de mortes viárias tende a diminuir, apesar da existência de leis”, opina.

De acordo com o estudo, o perfil das vítimas de acidentes relacionados ao consumo de álcool é predominantemente masculino. Cerca de 85% das hospitalizações envolvem homens, enquanto 89% das mortes causadas pelo álcool são de pessoas do sexo masculino. O estudo também destaca que a faixa etária mais afetada é a população entre 18 e 34 anos.

O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool ressalta que não existe um nível seguro de ingestão de bebidas alcoólicas antes de dirigir. O psiquiatra e presidente do Cisa, Arthur Guerra, enfatiza que muitas pessoas acreditam que o consumo moderado de álcool não interfere na capacidade de conduzir veículos. No entanto, o estudo reforça a importância de evitar completamente o consumo de álcool antes de assumir o volante, a fim de prevenir acidentes e preservar vidas.

“Em pequenas quantidades, o álcool já é capaz de alterar os reflexos do condutor e, conforme a concentração de álcool no sangue, [ele] se eleva e aumenta também o risco de envolvimento em acidentes de trânsito graves, uma vez que provoca diminuição de atenção, falsa percepção de velocidade, aumento no tempo de reação, sonolência, redução de visão periférica e outras alterações neuromotoras”, finalizou.

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