Suas linhas curvas e simpáticas inspiram graça. O design que aproveita a aerodinâmica é resistente, como o casco dos besouros. Não é por acaso que um lembra o outro. O projeto que roda pelos quatro cantos do mundo nasceu da mente criativa de Ferdinand Porche e sua equipe, foi fabricado pelo governo alemão e, depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), passou a ser vendido com o apoio dos ingleses. É um modelo de muitas histórias e paixões, como conta o proprietário deste fusca vermelho.
A primeira coisa que me chamou atenção nos carros foi a forma. Desenho carros desde os 7 anos de idade e quando, aos 9 anos, entrei em um fusca, fiquei fascinado.
O designer gráfico, que prefere não se identificar, diz que o primeiro contato aconteceu graças a uma carona.
Foi um colega do meu pai que nos deu carona para casa e eu, no banco de trás, ia apreciando o passeio.
A Alemanha de 1930, a pedido da autoridade máxima, Adolf Hitler, precisava de um carro para o povo (livre tradução para Volkswagen), que comportasse uma família de pai, mãe e três filhos ? ou dois soldados e um fuzil. O modelo também deveria ser econômico, forte e barato. O fusca conseguiu atingir todos os predicados. Foi, e ainda é, o carro de muitas famílias.
Meu pai teve uns cinco ou seis. Já no álbum de casamento, ele e minha mãe saíram da igreja em um.
Símbolo de praticidade sobre rodas, o Volkswagen Fusca é o veículo mais fabricado de todos os tempos. Suas linhas permaneceram praticamente inalteradas, do primeiro ao último modelo. Considerado de proposta limpa, com carroceria arredondada e simples, ainda roda por aí.
Quando decidi que ia comprar o meu besouro, queria um em que pudesse andar na cidade. É meu carro de uso entre duas ou três vezes por semana.
A escolha, porém, seguiu uma ordem. Primeiro, tinha de ser um fusca, por causa das linhas inspiradoras. Depois, da década de 1960, que traz muita referência artística e cultural. Por último, um motor que pudesse andar na cidade de São Paulo sem dar desgosto, portanto um 1.300 (o 1500 surgiu na década de 1970, o Fuscão).
Foi navegando na web há dez anos que nosso personagem encontrou este exemplar de 1966. Marcou de dar uma olhada em uma dia de semana, depois do trabalho.
Lembro muito claramente. Era meu rodízio e fui de metrô, uma correria. Cheguei atrasado e encharcado da chuva, mas valeu muito à pena.
O candidato a dono bateu os olhos e gostou, principalmente pelo tom de vermelho diferenciado, que o remeteu diretamente à infância, lá nos anos 80, quando andou pela primeira vez em um fusquinha de carona.
No dia da entrega do carro, o jovem vendedor queria contar um pouco da história do veículo e entregá-lo a alguém que fosse cuidar muito bem dele. O veículo passou de pai para filho, único dono, mas como o patriarca havia falecido, o herdeiro achou que era hora de passar adiante. Levou o álbum de fotos e - como são as coincidências da vida...
Esse é o meu pai ao lado do seu. Espera aí.
Pronto. Era o mesmo carro que o menino de 9 anos tinha conhecido tanto tempo atrás.
Após todas as décadas de produção, as principais mudanças foram na mecânica e nos detalhes, que entre os fusqueiros significam muito. Oficialmente lançado em 1938, sua última unidade foi produzida no México, em 2003. No Brasil, a primeira remessa importada chegou em 1950, despedindo-se em 1986. Porém, por uma oportunidade de mercado, voltou em 1993 e saiu de linha oficialmente em 1996.
Desde quando o designer comprou este Fusca, as únicas coisas que ele mudou foram o jogo de rodas, que voltaram a ser originais, e as sobrancelhas nos faróis, agora sempre presentes Os amigos sabem que o desenho do pequeno muito lhe agrada. Portanto é fácil presentear.
Basta me dar um fusca vermelho. Tenho uma coleção de tipos e tamanhos.
Com um sorriso no rosto, o proprietário revela que pretende fazer uma pequena restauração.
Depois, o próximo passo será tirar a placa preta.
Causo de motorista
Na época em que fazia MBA, na saída, o designer foi dar carona a uma amiga. Ao parar o carro para deixá-la, dois sujeitos os abordaram para assaltar. Queriam levar a bolsa dela e, quando o amigo foi defendê-la, o ladrão resolveu que levaria o Fusca. Aí o bicho pegou.
O fusca você não leva, não!
E começou a bater no assaltante. Sorte que os bandidos não estavam armados, porque o dono do Fusquinha saiu batendo, não pensou em arma, nada. Como era um local movimentado, logo outros carros pararam e os assaltantes fugiram. Hoje, o dono avalia o risco que correu, mas não arreda pé.
Sem mostrar a arma, não deixo levar mesmo.