O sonho de voar sempre fez parte dos anseios de Dafiny do Carmo, uma jovem de sorriso radiante que se lançou aos céus com bravura. Sua mãe, mesclando temor e orgulho diante da conquista da filha, registrou cada instante desse novo capítulo em suas vidas.
Dafiny e sua mãe sustentam seu sustento vendendo bombons e cones de chocolate nas ruas de Sete Lagoas, em Minas Gerais. Decidiram, então, em um determinado dia, rumar até a Serra de Santa Helena, o ponto mais elevado da cidade, numa tentativa de alavancar as vendas. Foi lá que Dafiny teve o privilégio de conhecer Gilberto Araújo, um veterano piloto de parapente com mais de duas décadas de experiência nos ares dessa região.
Naquela tarde de domingo, mãe e filha retornaram à Serra e encontraram novamente o piloto. "Gilberto estava pousando após um voo", relata Karine do Carmo, mãe de Dafiny.
Gilberto Araújo solicitou a permissão de Karine para que Dafiny pudesse experimentar o voo. Da segurança do solo, ninguém poderia prever o desenrolar dos eventos. O que começou como uma alegre aventura logo se transformou em apreensão.
"Damos uma volta ao redor da igreja e retornamos. Quando voltamos, a última coisa que ele disse para mim foi: 'é muito bom, não precisa ter medo'. E então ele parou de falar", relembra a jovem.
Em algum momento entre o pedido de ajuda e o pouso forçado, Gilberto faleceu. Segundo informações do Samu, a causa mais provável foi um infarto.
Um piloto de parapente que testemunhou o incidente acredita que, mesmo enfrentando problemas de saúde, Gilberto conseguiu ajustar a rota do voo, possivelmente salvando a vida da menina. "Pelo fato de ter direcionado o parapente para uma área segura, próxima a uma zona de pouso, acredito que ele tomou uma decisão final que acabou sendo crucial", afirma Davison Oliveira.
O parapente desceu rapidamente, cerca de 20 metros, e colidiu com os galhos de uma árvore. Dafiny saiu apenas com arranhões pelo corpo.
A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) recomenda a associação de pilotos e instrutores à Confederação Brasileira de Voo Livre, mas essa afiliação não é compulsória. Gilberto Araújo não estava associado à confederação.
Além disso, as diretrizes da confederação para seus membros, referentes à formação, treinamento dos pilotos e aos procedimentos de segurança dos voos, como o uso de capacetes, não são obrigatórias. Pelo menos em seu último voo, Gilberto estava sem capacete.