O veneno da mamba negra, uma perigosa cobra africana, contém substâncias contra a dor capazes de competir com a morfina, mas com menos efeitos colaterais, indicaram pesquisadoras francesas na última quarta-feira (3).
Desde o final dos anos 1990, os cientistas descobriram a existência de uma família de proteínas, as ASICs, envolvidas na sensação de dor, presentes na membrana dos neurônios.
O papel das ASICs e das substâncias capazes de bloquear sua ação são importantes pistas para novos tratamentos contra a dor.
Em busca de uma nova geração de analgésicos, Sylvie Diochot e Anne Baron, do Instituto de Farmacologia Molecular e Celular (CNRS/Universidade de Nice-Sophia Antipolis), estudaram o veneno da mamba negra (Dendroaspis polylepis).
O veneno desta serpente, uma das maiores da África, é fatal em humanos.
As pesquisadoras francesas analisaram componentes do veneno e isolaram dois peptídeos, proteínas que são capazes de suprimir a sensação de dor, inibindo algumas ASICs.
"Esses peptídeos, que chamamos "mambalgines", não são tóxicos em ratos, mas produzem um forte efeito analgésico", no local e no sistema nervoso central, "que pode ser tão forte quanto a morfina", explicaram em um estudo publicado na revista científica britânica Nature.
Segundo o estudo, estes "mambalgines" apresentam menos efeitos colaterais: nenhum sinal de insuficiência respiratória foi constatado nos ratos, com um nível de rejeição muito mais baixo do que o da morfina.
"É essencial compreender melhor os mecanismos de dor para desenvolver novos analgésicos. Os peptídeos descobertos na mamba negra têm potencial para cumprir esses dois objetivos", consideraram Diochot e Baron.